BRASIL: Produção de veículos recua em março com impacto do coronavírus
MUNDO: Fed reconhece o profundo aumento da incerteza nas últimas semanas
No Brasil, produção de automóveis registra queda em março, já refletindo os impactos do coronavírus na atividade. Os dados da Anfavea registraram a produção de 190 mil unidades no mês, uma queda de 20,9% na comparação anual. A venda de veículos também apresentou contração, de 21,2%. O destaque negativo foi a categoria de veículos leves, que sofreu queda de 22% na produção e de 22% nas vendas. Com as medidas de restrição ao comércio e à circulação, esperamos que a produção e venda de veículos continue apresentando recuo nos próximos meses. Os números preliminares dos efeitos do coronavírus corroboram nossa expectativa de contração de 1,5% do PIB neste ano, com impacto mais significativo no 2º trimestre.
Ainda sem muito impacto das paralisações, as vendas no varejo apresentaram crescimento acima do esperado em fevereiro. O volume de comércio varejista registrou alta de 1,2% na margem, acima da nossa projeção e da expectativa do mercado, ambas de queda. A surpresa decorreu do crescimento das vendas de supermercados (+1,5%). Já o varejo ampliado, que inclui automóveis e materiais de construção, registrou alta de 0,7%, acima das projeções. A maior contribuição ao varejo ampliado derivou da venda de veículos, que apresentou alta de 0,9% na comparação com janeiro.
O setor de serviços, por sua vez, recuou 1,0% em fevereiro, abaixo da expectativa. Dentre as categorias, houve crescimento apenas de serviços de transporte (0,4%) e de outros serviços (0,2%). As maiores contribuições negativas vieram de serviços profissionais e administrativos (-0,9%), com a 3ª queda consecutiva, e de serviços de informação e comunicação (-0,5%). No ano, o volume de serviços apresenta alta de 0,7%. Os efeitos da epidemia na atividade devem se refletir nas próximas leituras tanto no setor de serviços, como no comércio.
A inflação ao consumidor (IPCA) teve resultado abaixo do esperado em março. No mês, o índice variou +0,07%, ligeiramente abaixo da nossa projeção (+0,10%) e do mercado (+0,12%). Em relação aos grupos, destaque para a deflação de 0,9% em transportes, e para a deflação de 1,1% em artigos de residência, sendo esse o maior desvio em relação à nossa projeção. Em relação a Alimentação no Domicílio (+1,4%), o item carnes devolveu parte das altas anteriores, registrando variação de -0,3% (ante -3,5% em fevereiro). Em termos qualitativos, a média dos núcleos de inflação (exclui itens voláteis) desacelerou de 3,1% para 2,8% em doze meses, o que sinaliza continuidade do cenário benigno para a inflação. Para esse ano, nossa projeção permanece em 2,6%, abaixo do centro da meta (de 4,0%).
Com o objetivo de mitigar os efeitos do coronavírus sobre a atividade, a Câmara aprovou em dois turnos a PEC do Orçamento de Guerra. O texto aprovado estabelece a possibilidade de execução de medidas extraordinárias, que seriam caracterizadas como inconstitucionais em períodos de normalidade. Dentre as medidas, a ‘regra de ouro’ foi suspensa, permitindo que o valor das emissões de títulos públicos supere a despesa com investimento. O regime extraordinário vigorará durante o estado de calamidade pública. O texto segue para aprovação no Senado na próxima semana.
No cenário internacional, o Fed divulgou a ata da reunião que reduziu a taxa de juros para o intervalo de 0,25% a.a. e 0% a.a. A reunião que contemplou corte de 100 p.b. da taxa de juros revelou o consenso dos membros acerca da forte deterioração da atividade nas últimas semanas, decorrente do profundo aumento do grau de incerteza causado pelo impacto do coronavírus. Além da elevação da taxa de desemprego, os membros concluem que diante da queda da demanda, o fortalecimento do dólar e a redução do preço do petróleo, o alcance da meta de inflação será postergado. Sobre a extensão do recuo da atividade, muitos membros mencionam que a natureza do choque difere da crise de 2008, que afetou em especial o sistema financeiro. Em decorrência disso, defendem que o impacto da crise atual será menor.
A respeito dos próximos passos, o Fed afirma que a taxa de juros permanecerá nesse patamar até que o impacto do coronavírus seja dissipado plenamente. Avaliamos que ainda prevalece um viés de baixa para a atividade nos EUA, sendo necessária a manutenção ou ampliação dos estímulos concedidos neste ano.
Nesse sentido, o Fed anunciou a ampliação dos mecanismos de financiamento para dar suporte à economia. Entre as medidas está a ampliação da disponibilidade de recursos para pequenas e médias empresas, além da criação de algumas facilidades para a concessão de crédito para estados e governos locais. Segundo o Banco Central, essas medidas facilitarão no fornecimento superior a US$ 2,3 trilhões em empréstimos.
Em termos de dados econômicos, o número de pedidos de seguro-desemprego totalizou 6,6 milhões na semana encerrada em 4 de abril. O número representa uma queda em relação ao patamar anterior de 6,87 milhões. O ritmo de aumento nos pedidos de seguro desemprego corrobora a expectativa de que a taxa de desemprego deva alcançar cerca de 15% em abril. Em março, a taxa de desemprego já apresentou elevação de 3,5% para 4,4%.
Ilustrando o cenário de retomada da atividade, as vendas de veículos na China esboçaram recuperação após a cautelosa retirada das restrições. Após queda de 79% em termos anuais das unidades vendidas em fevereiro, as vendas contraíram 36% em março, recuperando parte das perdas. Outros indicadores como produção diária de aço, consumo diário de carvão e congestionamento das vias sugerem que o pior momento da atividade ocorreu em fevereiro, ainda que a recuperação seja bastante gradual. O atual momento da atividade é compatível com crescimento do PIB ao redor de 2% no ano.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, haverá a divulgação do indicador de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) (BRAM: +0,5%) de fevereiro na terça-feira. Na agenda internacional, destaque para a publicação do PIB do 1ª trimestre de 2020 da China, assim como de outros dados de atividade referentes ao mês de março, todos divulgados na quinta feira.