BRASIL: Copom discutiu aumentar o ritmo de alta de juros já na reunião de junho
MUNDO: Confiança na recuperação da atividade segue robusta
O Comitê de Política Monetária (Copom) revelou mais detalhes acerca do debate em torno da normalização completa da taxa de juros. Em dois documentos divulgados na semana, o Banco Central avaliou que, com base na recente evolução da inflação e da atividade econômica, o cenário pode prescrever a aceleração no ritmo de aumento da Selic.
Na ata da última reunião do comitê, na qual a Selic foi elevada de 3,50% para 4,25%, os membros reafirmaram o compromisso inequívoco com a convergência da inflação para a meta. Diante desse compromisso, a principal novidade do documento ficou por conta do comitê já ter considerado nessa reunião a possibilidade de alta de juros mais intensa do que 75 pb. A decisão por manter esse ritmo teve como justificativa a necessidade de acúmulo de mais informações sobre os determinantes de inflação e a questão da comunicação sobre a função de reação do Banco Central. No mais, em linha com o comunicado, o cenário de recuperação da atividade mostra-se mais robusto que o esperado, enquanto a pressão inflacionária revela-se mais persistente.
No Relatório Trimestral de Inflação o Banco Central revisou as projeções de IPCA e PIB para 2021. Para a inflação, a projeção no cenário central (trajetória Focus para a Selic e câmbio de acordo com a paridade do poder de compra) subiu de 5% para 5,8% em 2021, e foi mantida em 3,5% (centro da meta) no próximo ano. Em decorrência da normalização da política monetária, a projeção para 2023 recuou de 3,5% para 3,3%. A projeção do PIB para esse ano passou de 3,6% no relatório de março para 4,6%. Apesar da revisão altista, essa projeção está abaixo da mediana do Focus (5%) e da nossa estimativa (5,3%). Com a recuperação da atividade, o Banco Central estima um hiato corrente de –2,5%, que fechará ao longo do tempo, alcançando níveis próximos ao neutro em 2022.
Em resumo, os dois documentos reforçam o cenário de compromisso do Banco Central com o centro da meta em 2022. Avaliamos que a inclusão da possibilidade de acelerar o ritmo de aperto monetário revela uma avaliação assimétrica, por parte do Copom, a respeito do balanço de riscos da inflação no sentido de assegurar a sua convergência para a meta no horizonte relevante. Com isso, alteramos nossa trajetória esperado de taxa juros. Na reunião de agosto, o Copom deverá elevar a taxa de juros em 100 pb, ao invés de 75 pb anteriormente contemplados. Nossa projeção para o final do atual ciclo de política monetária foi revisada de 6,50% para 7,00%.
Em junho, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) variou 0,83%. O resultado, apesar de ter ficado um pouco abaixo da nossa projeção (0,88%) e da mediana do mercado (0,85%), é bastante elevado para o mês – nos últimos quatro anos a média registrada em junho ficou em 0,51%. A inflação acumulada em 12 meses alcançou 8,1%. A principal surpresa baixista ocorreu em Transportes, com aceleração mais comedida do que o esperado (1,35% ante 1,6%). Em relação às pressões de alta, Artigos de Residência tiveram variação de 1,38%, ante 0,70% projetado. Em termos de núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens com inflação volátil, a leitura de junho mostrou avanço em linha com o esperado. A média dos núcleos segue acelerando no acumulado em doze meses, subindo de 4,1% para 4,8% na passagem do mês. Ao contrário das últimas leituras, que contavam com pressões concentradas em bens industriais, o resultado de junho confirma o realinhamento de preços de serviços com a reabertura da economia.
O cenário inflacionário para os próximos meses segue bem pressionado. No curto prazo, a deflação esperada para planos de saúde será parcialmente contrabalançada pelas maiores tarifas de energia elétrica. No médio prazo, os riscos de alta seguem evidentes com o elevado patamar dos preços de commodities, baixos estoques de matérias-primas e reabertura mais rápida da economia, pressionando o setor de serviços. Amenizando a pressão de alta, o cenário de aumento de juros mais tempestivo pelo Banco Central poderá beneficiar o câmbio. Projetamos inflação de 5,9% em 2021.
Saldo em conta corrente registrou superávit de US$ 3,8 bilhões em maio, em linha com a expectativa do mercado. Com isso, o déficit em 12 meses passou de US$ 12,7 bilhões (0,9% do PIB) em abril para US$ 8,4 bilhões (0,5% do PIB) em maio. O mês registrou superávit comercial de US$ 8,1 bilhões (ante US$ 3,2 bilhões em abril de 2020), impactado pelo crescimento das exportações. Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 1,22 bilhão no mês, acumulando US$ 39,3 bilhões (2,6% do PIB) em 12 meses. Já os investimentos em carteira no mercado doméstico somaram ingressos líquidos de US$ 6,0 bilhões em maio, totalizando US$ 41,8 bilhões em doze meses. Ao longo dos próximos trimestres, apesar da recuperação da demanda doméstica, o resultado em conta corrente será positivamente impactado pelo maior saldo comercial e deverá encerrar o ano com déficit de US$ 7,2 bilhões (-0,5% do PIB).
A prévia dos índices de confiança (PMI) de junho reforçou o cenário de retomada global. O PMI Composto prévio da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e do setor de serviços, atingiu 59,2 pontos, ante 57,1 em maio, confirmando a reversão do sentimento na região (nível acima de 50 pontos indica expansão). Nos EUA, o PMI Composto cedeu de 68,7 para 63,9 pontos em junho. De modo geral, os números revelam o efeito positivo da demanda diante do aumento da mobilidade, em especial para o setor de serviços. Enquanto isso, o atraso nas entregas persiste, assim como a sinalização da elevação de custos. Portanto, o ambiente de inflação pressionada não deverá arrefecer no curto prazo.
Na próxima semana
No Brasil, destaque para as divulgações da produção industrial e do Caged de maio. No cenário internacional, os EUA divulgam o relatório mensal de emprego de junho.