ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Arrecadação federal recua novamente em abril
MUNDO: Fed reforça que o cenário contempla risco considerável
A arrecadação federal recuou em abril com o aumento nas compensações tributárias. O total no mês somou R$101,5 bilhões, próximo da nossa projeção (R$ 99 bilhões) e abaixo do mercado (R$110 bilhões). O resultado representa um recuo de 29% em termos reais na comparação anual. As receitas caíram mediante a contração da atividade no período, adiantamento do prazo do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), e o aumento do uso de crédito tributários pelas empresas para aumentar a liquidez. De acordo com a Receita Federal, essas compensações somaram R$35,1 bilhões em abril. Conforme o esperado, o avanço do coronavírus e a adoção de medidas de isolamento social devem impactar expressivamente a arrecadação no 2º trimestre. A retomada da arrecadação, no 2º semestre, dependerá da recuperação da atividade e da progressão e extensão da pandemia.
O mercado revisou novamente as projeções econômicas em meio ao avanço da Covid-19 no Brasil. No Relatório Focus, a mediana das projeções do PIB de 2020 aponta para retração de -5,1% (revisado de -4,1%). Em 2021, a projeção permaneceu em +3,2%. Para a inflação (IPCA), espera-se alta de 1,6% em 2020 e de 3,2% em 2021, ambas abaixo da meta do Banco Central. A taxa de câmbio deve encerrar esse ano em R$/US$ 5,28 e em R$/US$ 5,00 em 2021. Por fim, a taxa Selic teve nova redução, passando para 2,25% em 2020 (ante 2,50% no relatório anterior) e 3,5% no próximo ano (ante 4,50% no mês anterior).
No cenário internacional, o Fed divulgou a ata da reunião na qual manteve a taxa de juros no intervalo de 0,25% a.a. e 0% a.a. Na reunião, os membros reforçaram que o cenário ainda contempla uma incerteza extraordinária para economia, decorrente da evolução da pandemia. Nesse sentido, o comitê ressalta o risco de a taxa de desemprego não retornar ao patamar anterior por um período prolongado, resultando em perda de produtividade. O Fed também menciona um risco potencial de queda nos gastos das famílias em decorrência da queda da confiança e do aumento da poupança precaucional, afetando a recuperação do consumo. Sobre a inflação, os membros concluem que diante da queda da demanda, o fortalecimento do dólar e a redução do preço do petróleo, o alcance da meta de inflação será postergado. A respeito dos próximos passos, parte do comitê defende uma comunicação mais incisiva a respeito da possibilidade de aumento dos estímulos e da sua duração. Ainda em um cenário bastante incerto, o Fed deverá manter ou acelerar os estímulos nos próximos meses.
Na China, em virtude da grande incerteza oriunda do coronavírus, as autoridades chinesas decidiram não fixar a meta de crescimento para esse ano. O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, defendeu que o pais deve priorizar a estabilização do emprego e a redução da pobreza. Nesse sentido, o governo fixou como meta a criação de 9 milhões de empregos nesse ano. Ademais, o governo também anunciou que o déficit fiscal deverá aumentar de 2,8% em 2019 para 3,6% nesse ano. Por fim, os estímulos anunciados abrangem a aumento da permissão para os gastos de governos locais com infraestrutura. De modo geral, os dados diários de atividade na China sugerem uma retomada gradual, compatível com crescimento de aproximadamente 2% do PIB nesse ano.
A prévia dos índices de confiança (PMI) da Zona do Euro e dos EUA de abril apresentou leve recuperação em maio, sugerindo retomada lenta. O PMI Composto prévio da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços atingiu 30,5 pontos em maio ante 13,6 em abril (abaixo de 50 pontos indica contração). O PMI Composto dos EUA aumentou de 27 pontos em abril para 36,4 em maio. Os índices são compatíveis com retração do PIB de aproximadamente 10% na Zona do Euro e 5% nos EUA em 2020. A recuperação e retomada da atividade para o restante do ano dependerá fundamentalmente da contenção da epidemia. Mais vulnerável ao avanço da doença, o setor de serviços segue com recuperação mais lenta. Estímulos monetários e fiscais devem atenuar quedas mais pronunciadas e ajudar na recuperação. O PIB global deverá recuar cerca de 3% em 2020. Na Zona do Euro, a produção industrial sofreu queda recorde em março.
Na próxima semana
Na agenda local, destaque para a divulgação do IPCA-15 de maio (BRAM: -0,50%) na terça-feira, os dados de desemprego de abril na quinta-feira, e a divulgação do PIB do 1° trimestre de 2020 (BRAM: -1,50% T/T), na sexta-feira. Na agenda internacional, destaque para os indicadores de confiança na Zona do Euro e EUA.