Enfoque Macro – Bradesco Asset

ENFOQUE MACRO SEMANAL
20 de setembro de 2024

BRASIL:  Copom eleva taxa Selic para 10,75%

MUNDO: Fed opta por iniciar o ciclo com corte maior dos juros

EVENTOS DA SEMANA

No âmbito global, a semana foi marcada pela decisão de política monetária nos EUA, que reduziu a taxa de básica de juros em 50 pb (para 5,00%), corte mais expressivo do que esperado. Como resultado, a expectativa para a taxa terminal de juros nos EUA foi reduzida e o dólar se desvalorizou perante outras moedas. Domesticamente, o destaque foi a reunião do Copom, que aumentou a Selic em 25 pb, para 10,75%, conforme as projeções do mercado. Apesar da decisão em linha com as expectativas, o Banco Central do Brasil mostrou uma preocupação maior com a atividade mais aquecida do que o esperado para o atual estágio do ciclo econômico e os impactos inflacionários desse processo. Com isso, a curva de juros no Brasil abriu cerca de 40 pontos ao longo de todos os vértices. A elevação da taxa de juros brasileira, junto do corte nos EUA, fez com que o real se apreciasse diante do dólar. Outros bancos centrais também tiveram suas reuniões nesta semana, que se destacaram pela cautela, com Reino Unido, China e Japão deixando suas taxas de juros inalteradas.

O Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic para 10,75%, conforme as expectativas. No comunicado após a decisão, o Banco Central entendeu que o ambiente externo permanece desafiador diante das dúvidas sobre a postura do Fed adiante. Sobre o cenário doméstico, o Comitê julgou que a atividade econômica e o mercado de trabalho estão mais dinâmicos do que esperado e que as últimas leituras do IPCA, incluindo suas medidas subjacentes, permanecem acima da meta de inflação. Em relação ao balanço de riscos, o Copom avaliou que há uma assimetria altista, destacando a desancoragem das expectativas por período mais prolongado, a maior resiliência da inflação de serviços e uma taxa de câmbio depreciada de forma persistente. Diante da resistência da atividade econômica, das pressões no mercado de trabalho e das elevações nas projeções de inflação, o Copom entendeu que o cenário exige uma política monetária mais restritiva e decidiu, unanimemente, elevar a taxa Selic em 25 pb, para 10,75%.

A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026 foi de 3,5%. O Comitê apresentou projeções de inflação acima do esperado, com um descolamento de 50 pontos base da meta de 3,00%. Entre as premissas utilizadas na projeção, o Banco Central utiliza a curva de juros do Boletim Focus, que considera uma alta da Selic para 11,50%. Dessa forma, o Copom indica que o ciclo de juros precisaria, potencialmente, ser maior que o esperado pela mediana do Focus. Um dos motivos para essa projeção mais elevada foi uma revisão significativa do hiato do produto, devido o dinamismo da atividade econômica. Apesar do comunicado não dar sinalização sobre ritmo e magnitude do ciclo, nossa expectativa é de que o Copom acelere o ritmo para 50 pb nas próximas reuniões, com um ciclo total de 150 pb de alta, o que levaria a Selic para 12,00%.

Arrecadação federal permaneceu forte em agosto. A arrecadação totalizou R$ 201,6 bilhões em no mês, registrando avanço real de 12,0% em relação ao mesmo período de 2023. Conforme a Receita Federal, o aumento pode ser atribuído ao desempenho mais forte da atividade, ao retorno da tributação do PIS/Cofins sobre combustíveis, à tributação dos fundos exclusivos e à atualização de bens e direitos no exterior. Excluindo os fatores não recorrentes, o crescimento foi de 9,2% em termos reais na comparação interanual. Na composição da receita, destaque para o PIS/Pasep e a Cofins tiveram aumento real de 19,9%, e para o avanço real de 7% na receita previdenciária. Apesar da performance forte da arrecadação no ano, com aumento real de 9,5% no acumulado de janeiro a agosto em relação ao mesmo período do ano passado, as receitas não devem ter capacidade de zerar o  déficit primário neste ano, embora o governo deva ficar com o déficit no limite inferior da meta que é de -0,25% do PIB.

Fed reduziu a taxa de juros em 50 pb,  para o intervalo entre 4,75% e 5,00%. A redução foi maior que a expectativa da maioria das casas de corte de 25 pb. No comunicado após a decisão, o comitê de política monetária (FOMC) reconheceu a desaceleração na criação de vagas e a elevação na taxa de desemprego. O comitê entendeu que o processo desinflacionário em direção à meta de 2% teve mais progresso, adquirindo confiança de que a inflação está convergindo ao seu objetivo de forma sustentável. Além de entender que os riscos para inflação e mercado de trabalho estão balanceados, o comitê apontou que está comprometido em dar suporte para o ‘máximo emprego’.

Em relação às projeções, houve revisão para baixo para a taxa de juros de 2024, 2025 e 2026. A projeção para o núcleo de inflação caiu para 2024, passando de 2,8% para 2,6%, e para 2025, indo de 2,3% para 2,2%, mantendo-se em 2,0% para 2026. Em relação ao mercado de trabalho, a mediana dos membros do FOMC para a taxa de desemprego avançou para os três horizontes, mudando de 4,0% para 4,4%, de 4,2% para 4,4% e de 4,1% para 4,3% para 2024, 2025 e 2026, respectivamente. A expectativa do Fed para o crescimento do PIB, por sua vez, se alterou para 2024, atingindo 2,0% após a métrica de 2,1% nas projeções de junho, ficando inalterada em 2,0% para os períodos à frente. Diante deste cenário, a expectativa do banco central dos EUA para a taxa básica de juros foi reduzida para 2024 (5,1% para 4,4%), 2025 (4,1% para 3,4%) e 2026 (3,1% para 2,9%). Logo o Fed prevê mais 50 pb de corte nesse ano (temos reuniões em novembro e dezembro), e mais 100 pb de corte em 2025.

O presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou que o FOMC está confiante de que a inflação está convergindo à meta. Em entrevista após a decisão, Powell afirmou que as expectativas de inflação continuam ancoradas e reconheceu o progresso no processo desinflacionário. O presidente do Fed afirmou que a expansão da atividade segue sólida e emprego forte, e ressaltou que não é necessário mais afrouxamento no mercado de trabalho para que se atinja o objetivo de 2%. Diante da desaceleração do aumento dos preços, o Fed se viu em posição mais favorável para recalibrar a política monetária, dando mais prioridade ao compromisso de maximizar o nível de emprego compatível com a meta de inflação, levando a taxa de juros a um nível mais próximo do neutro. Powell afirmou também que o Fed não tem pressa e que o ritmo de corte de juros não está decidido, e será decidido a cada reunião, apontando a dependência dos dados. Acreditamos que o Fed irá prosseguir com o ciclo do corte de juros nesse ano, com um corte de 25 pb nas próximas reuniões, em direção à taxa neutra de juros. Projetamos taxa de juros de 3,50% ao final do ciclo.

Os dados de atividade nos EUA sugerem que o crescimento segue resiliente. As vendas no varejo registraram aumento de 0,1% no mês, surpreendendo a projeção do mercado (-0,2%), e ante o forte crescimento de julho (1,0%). O índice do grupo de controle, proxy para o consumo medido pelas contas nacionais (que exclui serviços de alimentação, automóveis, materiais de construção e combustíveis), por sua vez, teve avanço de 0,3%, em linha com a projeção do mercado e com a variação observada na leitura anterior. A produção industrial também veio acima do esperado (0,2%) ao avançar 0,8% em relação a julho, assim como o início de novas construções que tiveram alta de 9,6% na margem em agosto. Com esses números, o nosso tracking de PIB do terceiro trimestre aponta um crescimento anualizado de 3%, acima do potencial de 2,5%.

Além do Fed e do BCB, outros bancos centrais importantes se reuniram nesta semana que, de forma geral, se destacaram pela cautela em suas decisões. O Banco da Inglaterra, após ter iniciado o ciclo de redução de juros em agosto, optou pela manutenção dessa vez em 5,00%, com 8 votos favoráveis à estabilidade dos juros ante 1 voto na direção do corte. O tom de cautela prevaleceu, com o presidente da instituição ressaltando o cuidado para não cortar nem em demasiado nem muito rápido, dada a persistência das pressões inflacionárias. Mantemos nossa visão de que a redução do nível restritivo da política monetária acontecerá de forma gradual. Na China, em sua decisão mensal dos juros de referência (loan prime rate), o Banco Central do país também manteve as taxas inalteradas, de 1 e 5 anos, em 3,35% e 3,85%, respectivamente. De certo modo, essa decisão frustrou parte do mercado que acreditava haver espaço para redução em função do corte do Fed anunciado nesta semana, diante da recente piora da economia. Apesar disso, aumentam as expectativas de que medidas para o setor imobiliário, como redução das taxas de financiamento de imóveis, sejam anunciadas em breve. Por fim, o Banco Central do Japão, dentro do esperado, manteve a taxa de juros inalterada em 0,25%, após ter subido em julho. Olhando à frente, a sinalização do BC japonês é de cautela, afirmando que desejam esperar mais tempo para avaliar o cenário atual, marcado por incerteza e instabilidade. Nessas condições, a próxima alta dos juros no país deve acontecer no final deste ano.

NA PRÓXIMA SEMANA

Na agenda doméstica, destaque para o IPCA-15 de setembro e para dados do mercado de trabalho. No exterior, dados de inflação nos EUA.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui