ENFOQUE MACRO
05 de janeiro de 2024
BRASIL: Indústria de transformação deverá seguir com desempenho modesto
MUNDO: Mercado de trabalho nos EUA seguiu apertado em dezembro de 2023
EVENTOS DA SEMANA
A expectativa sobre o início do corte de juros nos EUA continuou determinante para o comportamento dos mercados globais nesta primeira semana do ano. A discussão em torno da intensidade da desaceleração da economia e os riscos da desinflação em curso mantiveram a volatilidade dos juros na maioria dos países. A despeito da sinalização do presidente do Fed em sua última decisão de política monetária de que o corte de juros estava próximo, a ata do FOMC e os dados conhecidos nesta semana sugerem que o início do afrouxamento da política monetária nos EUA deve ainda levar alguns meses. Com isso, as curvas de juros ajustaram parte do fechamento observado nas últimas semanas de 2023. Com essa expectativa de que a redução de juros pode ocorrer um pouco mais tardiamente e de que será menor acabou valorizando o dólar em relação à maioria das moedas. Aqui no Brasil, em grande medida refletindo o desempenho dos preços dos ativos globais, tivemos leve abertura dos juros e depreciação do real. Os resultados dos indicadores econômicos, por sua vez, não alteraram nossa expectativa de moderação da atividade econômica olhando à frente, compatível com a continuidade dos cortes de 50 pb do Copom, dado o espaço para redução dos juros, mas com cautela – especialmente diante dessas incertezas advindas do cenário global.
Crescimento da produção industrial em novembro foi impulsionado pela atividade de extração mineral. De acordo com os dados do IBGE, a indústria avançou 0,5% no mês, acima da projeção do mercado. O aumento na margem foi explicado pela indústria extrativa (expansão de 3,4%), influenciada por minério de ferro e petróleo, que mais do que compensou a queda da indústria de transformação (-0,2%). Em relação às categorias de uso, novamente bens de consumo duráveis e bens de capital recuaram no mês. Acreditamos que a indústria de transformação deverá prosseguir com desempenho modesto nos próximos meses.
Alta das concessões, em novembro, indica que desaceleração do mercado de crédito deve perder força nos próximos meses. Conforme os dados do Banco Central, o crescimento interanual do saldo total de crédito passou de 7,5% em outubro para 7,1% em novembro, devido em maior parte à desaceleração do crédito direcionado. No entanto, a média diária das concessões de crédito livre para as famílias apresentou avanço de 1,1% na margem na métrica dessazonalizada, principalmente em virtude do desempenho de cartão de crédito rotativo e crédito pessoal. No caso das empresas houve crescimento de 5,6% na mesma magnitude. Por fim, a inadimplência total registrou queda de 0,1 p.p. no mês, atingindo 3,4%, em virtude do recuo da inadimplência de pessoas físicas, que compensou o aumento na de pessoas jurídicas. Considerando a carteira de crédito livre, a inadimplência das famílias já recua de forma consistente, 0,5 p.p. desde junho de 2022; a das empresas, contudo, segue avançando (alta de 2,0 p.p., no mesmo período). Esperamos alguma estabilização dos empréstimos nas próximas leituras, levando em conta o alívio em curso das condições financeiras e a melhora das condições de endividamento das famílias.
Contas externas seguiram favorecidas pelo elevado saldo comercial em novembro. As transações correntes foram deficitárias em US$ 1,6 bilhão no mês, o que no acumulado em 12 meses indica déficit de US$ 33,7 bilhões, ou 1,6% do PIB. O melhor resultado em conta corrente decorre do maior saldo comercial, de US$ 6,7 bilhões, em função da queda das importações superior ao recuo de exportações. O investimento direto no país somou US$ 7,8 bilhões em novembro, e, no acumulado em 12 meses, chegou a US$ 57,7 bilhões (2,7% do PIB), mantendo tendência de desaceleração em relação a novembro do ano anterior (4,0% do PIB). Ainda assim, o nível de financiamento externo é mais do que suficiente para compensar o déficit em transações correntes.
Frustração com déficit público em novembro foi explicada pelo desempenho das contas públicas dos governos locais. O setor público consolidado foi deficitário em R$ 37,3 bilhões em novembro, ante resultado negativo de R$ 20,1 bilhões no mesmo período do ano passado. Com isso, no acumulado em 12 meses, o setor público consolidado foi deficitário em R$ 131,4 bilhões, o equivalente a 1,2% do PIB. A respeito da composição, o Governo Central e as empresas estatais registraram déficit de R$ 38,9 bilhões e R$ 343 milhões, respectivamente, enquanto os governos regionais obtiveram superávit de R$ 2,0 bilhões. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), por sua vez, composta por Governo Federal, INSS, e governos estaduais e municipais, aumentou 0,1 pp, para 73,8% do PIB, atingindo R$ 8,0 trilhões. Em nossas projeções, o setor público consolidado deve ter encerrado 2023 com déficit de R$ 226 bilhões, com deterioração mais forte em dezembro em decorrência do pagamento de precatórios.
Mercado de trabalho nos EUA continua apertado, com sinais ainda graduais de moderação. Em dezembro do ano passado, foram criados 216 mil postos de trabalho, ante 173 mil vagas em novembro e expectativa de 175 mil. A média móvel dos últimos três meses recuou de 180 mil para 165 mil. A taxa de desemprego, por sua vez, ficou inalterada em 3,7%, com redução tanto da população à procura de emprego como da ocupação. Outro ponto relevante foi o avanço de 0,4% dos salários na margem, o que, em termos anuais, indica elevação de 4,1% (ante 4% em outubro). Esses resultados, portanto, corroboram nossa visão de uma desaceleração moderada da atividade nos EUA, demandando cautela por parte do Fed no início do ciclo de corte de juros.
A ata da última reunião do Fed não indicou que corte de juros nos EUA é iminente. No documento, o Fed avaliou que os riscos para o crescimento e para a inflação se tornaram mais balanceados, apesar da dinâmica inflacionária ainda demandar um nível alto de atenção. Sobre os próximos passos, se de um lado os membros reconheçam que provavelmente o ciclo de aperto tenha se encerrado, muitos membros admitem que os juros podem permanecer nesse patamar por mais tempo que o previamente esperado. Ainda sobre o comportamento prospectivo, o comitê avalia que a política monetária deverá permanecer restritiva por algum tempo. Em nossa avaliação, essa reunião marcou apenas o início da discussão sobre corte de juros, trazendo uma série de ressalvas por parte dos membros. A ata, portanto, mostra que a pressão por um relaxamento monetário não é iminente, reduzindo a probabilidade de corte já em março, lembrando que nossa expectativa é de que a primeira redução dos juros nos EUA acontecerá em junho.
Comportamento benigno dos núcleos de inflação na Área do Euro suporta expectativa de corte de juros no segundo trimestre deste ano. A prévia do índice de preços ao consumidor apontou alta de 2,9% na comparação interanual, acelerando ante o registrado em novembro (2,4%) e em linha com a mediana do mercado. Apesar dessa aceleração do índice cheio, explicada essencialmente pela menor deflação dos preços de energia, o núcleo arrefeceu de uma alta de 3,6% para outra de 3,4% nessa base de comparação. Analisando a variação dos últimos três meses anualizada, a alta da inflação segue benigna, com o núcleo avançando 1,3%, abaixo da meta de 2%. Diante do cenário favorável para a inflação e de fragilidade da atividade econômica, nossa expectativa é de que o início do ciclo de corte de juros se dê em abril.
NA PRÓXIMA SEMANA
Na agenda doméstica, as atenções estarão concentradas na divulgação do IPCA de dezembro. No cenário internacional, o destaque está nos dados de inflação dos EUA e da China.