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ENFOQUE MACRO SEMANAL
16 de agosto de 2024

BRASIL:  Atividade econômica continuou sólida em junho

MUNDO: Inflação dos EUA continua sua trajetória de moderação

EVENTOS DA SEMANA

No âmbito global, a semana foi marcada pela continuidade do debate sobre o ciclo de corte de juros pelo Fed. Os dados divulgados nos últimos meses mostram que a atividade dos EUA está em processo de desaceleração, bem como a inflação, o que é compatível com o início do ciclo de normalização de juros em setembro. A dúvida reside sobre a intensidade dessa desaceleração, determinante para a tempestividade da retirada do aperto monetário pelo Fed. O quadro de dados de atividade na semana, que contou com vendas no varejo, produção industrial e novas construções, afastou os temores de uma desaceleração pronunciada. Com isso, para a reunião de setembro a probabilidade de um corte de 50 bps pelo Fed teve redução na semana, deixando em aberto a possibilidade de uma redução de 25 bps.  Para a decisão de setembro, o relatório de emprego de agosto será de bastante relevante, tendo em vista a dependência dos dados pelo Fed. No quadro doméstico, os dados da semana mostraram resiliência, ao passo que a inflação apresentou leve surpresa de alta. Mais relevante para o movimento dos mercados locais, os membros do Banco Central novamente indicaram que diante de uma atividade resiliente e a interrupção do processo de desinflação, o Banco Central não hesitará em subir os juros dada a necessidade de levar a inflação para o centro da meta. Em reação aos discursos, os vértices mais curtos de juros apresentaram nova alta, com fechamento dos vértices mais longos.

Indicadores de atividade seguiram mostrando um quadro aquecido em junho. De acordo com os dados do IBGE, o volume de serviços prestados no mês, teve alta de 1,7% na margem, superando as expectativas. Todos os setores tiveram contribuição positiva, com as maiores vindo dos segmentos relacionados às empresas: transportes (1,8%), que reverteram a queda de maio influenciada pelas enchentes no RS, serviços de informação e comunicação (2,0%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (1,3%). Os serviços prestados às famílias tiveram crescimento mais modesto, de 0,3%, e passaram a se situar apenas 0,5% acima do nível pré-pandemia. Por sua vez, as vendas no varejo em junho tiveram resultado mais moderado. De um lado, as vendas no conceito restrito tiveram recuo de 1,0% em relação a maio, puxadas por segmentos ligados à renda, em especial supermercados (-2,1%), que se normalizaram após alta motivada por compras emergenciais no RS no mês anterior,  e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,8%). Por sua vez, o varejo ampliado, que inclui veículos, material de construção e atacarejo, registrou crescimento de 0,4% na margem. Por fim, de acordo com os dados Banco Central, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) registrou alta de 1,3% em junho na série ajustada sazonalmente, acima das expectativas do mercado. Com isso, a média de abril a junho do IBC-Br representa alta de 0,4% em relação ao 1º trimestre deste ano, corroborando nossa visão de crescimento ainda forte no 2º trimestre. Nas próximas leituras, esperamos moderação da atividade, mas o patamar ainda aquecido do mercado de trabalho deverá amenizar os efeitos contracionistas da política monetária.

Inflação nos EUA manteve sua tendência de alívio em julho. O índice de preços ao consumidor (CPI) registrou crescimento de 0,2% no mês, em linha com a projeção do mercado e ante deflação de 0,1% no mês anterior. Na comparação interanual, o CPI arrefeceu de 3,0% para 2,9%. O núcleo da inflação, por sua vez, acelerou em relação a junho, atingindo 0,17% após a marca de 0,06% da última leitura, embora tenha continuado a desacelerar na comparação em 12 meses, passando de 3,3% para 3,2%. Na composição do indicador, observamos a continuidade da deflação em bens e um arrefecimento nos serviços, embora a parte de aluguéis tenha apresentado leve surpresa altista no mês.

Ainda nos EUA, os dados de atividade apresentaram desempenho misto em julho. As vendas no varejo registraram aumento de 1,0% no mês, surpreendendo a expectativa do mercado (0,4%) e superando a estabilidade observada em junho. O índice do grupo de controle, proxy para o consumo medido pelas contas nacionais (que exclui serviços de alimentação, automóveis, materiais de construção e combustíveis), por sua vez, teve crescimento de 0,3%, também acima das projeções, porém inferior à variação de 0,9% da última leitura. Já a produção industrial surpreendeu negativamente a mediana do mercado (-0,3%), com retração de 0,6% em julho, ante aumento de 0,6% no mês anterior. Por fim, os dados de novas construções frustraram as expectativas. Em nossos cálculos, os dados do mês de julho são compatíveis com um PIB crescendo 2,5% no terceiro trimestre, ao redor do potencial. O balanço de inflação e atividade desacelerando permite que o Fed inicie o ciclo de afrouxamento monetário em setembro.

Economia chinesa seguiu fraca em julho. Na comparação interanual, as vendas no varejo avançaram 2,7%, recuperando-se em relação à alta de 2,0% verificada em junho, em resposta aos estímulos para troca de eletrodomésticos. A produção industrial mostrou expansão de 5,1%, mantendo o ritmo dos meses anteriores, ainda favorecida pelas exportações de manufaturados. Como destaque negativo, frustrando as expectativas, os investimentos em ativos fixos cresceram 3,6% no acumulado do ano, com desaceleração das inversões em infraestrutura. Por fim, os indicadores do mercado imobiliário continuaram piorando, mesmo com medidas adotadas em maio para estimular o setor: as vendas e os lançamentos registraram quedas respectivas de 21% e 24% no ano e os preços dos imóveis caíram 5,3% na comparação com o mesmo mês de 2023. Nossa avaliação continua cautelosa e entendemos que os riscos para a economia chinesa são baixistas levando em conta a não estabilização do setor imobiliário e a sinalização de que os estímulos econômicos seguirão contidos no restante deste ano.

NA PRÓXIMA SEMANA

Na agenda doméstica, destaque para a arrecadação federal. No exterior, teremos dados de inflação da Área do Euro e o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, na sexta-feira.

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