ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Superávit em conta corrente e queda na arrecadação federal em março
MUNDO: Confiança aponta para retração da atividade nos EUA e na Zona do Euro
O saldo em conta corrente apresentou superávit em março, após 32 meses em déficit. No mês, o saldo em conta corrente atingiu superávit de US$ 0,9 bilhão, ante expectativa de déficit de US$ 0,2 bilhão. No mesmo período em 2019, o déficit foi de US$ 2,7 bilhões. A melhora no saldo derivou da redução no déficit da renda primária, com destaque para a queda de 73% nas despesas com lucros e dividendos, ante 2019. Em doze meses, o saldo em conta corrente atingiu 2,8% do PIB, ante 3,0% em fevereiro. Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 7,6 bilhões no mês, atingindo 4,5% do PIB em doze meses. Além disso, afetado pelo Covid-19, o fluxo de investimento em portfólio no mercado doméstico foi negativo em US$ 22,2 bilhões, recorde da série. Avaliamos que, com o aumento da exportações e os efeitos da pandemia, o déficit em conta corrente deve se reduzir nos próximos meses, atingindo R$ 33 bilhões (2,2% do PIB) no final de 2020.
A arrecadação federal recuou em março com o aumento nas compensações tributárias. O total no mês somou R$110 bilhões, próximo da nossa projeção e do mercado (ambas em R$111 bilhões). O resultado representa um recuo de 3,7% na comparação anual. As receitas caíram mediante o ritmo de atividade mais moderado e pelo aumento do uso de crédito tributários pelas empresas para aumentar a liquidez. Esse resultado ainda não captura os efeitos das medidas de isolamento para contenção do Covid-19, devendo ter queda mais acentuada no 2º trimestre. A retomada da arrecadação, no 2º semestre, dependerá da recuperação da atividade e da progressão e extensão da pandemia.
O mercado revisou as projeções econômicas em meio aos impactos da Covid-19. No Relatório Focus, a mediana das projeções do PIB de 2020 aponta para retração de 3,0% (revisado de -2,0%). Em 2021, a projeção passou de 2,7% para 3,1%, recuperando parte da queda prevista para esse ano. Para a inflação (IPCA), espera-se alta de 2,2% em 2020 e de 3,4% em 2021, ambas abaixo da meta do Banco Central. A taxa de câmbio deve encerrar esse ano em R$/US$ 4,80 e em R$/US$ 4,50 em 2021. Por fim, a taxa Selic teve nova redução, passando para 3,0% em 2020 (ante 3,25% no relatório anterior) e 4,5% no próximo ano (ante 5,25% no mês anterior).
A prévia dos índices de confiança (PMI) da Zona do Euro e dos EUA de abril registram mínimas históricas e apontam para contração no trimestre. O PMI Composto prévio da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços atingiu 13,5 pontos em abril ante 29,7 em março (abaixo de 50 pontos indica contração). Enquanto isso, o PMI Composto dos EUA contraiu para 27,4 pontos em abril, ante 40,9 em março. Os índices são compatíveis com retração na margem de cerca de 4% do PIB na Zona do Euro e 10% do PIB nos EUA no 2ª trimestre de 2020. A recuperação e retomada da atividade para o restante do ano dependerá fundamentalmente da contenção da epidemia. Estímulos monetários e fiscais deverão atenuar quedas mais pronunciadas e ajudar na recuperação.
Os preços das commodities registram queda no ano, principalmente o petróleo. Em função da queda da demanda causada pelos efeitos do Covid-19, o índice internacional de preço de commodities (CRB) registra recuo de 12,7% no ano. Até o final de fevereiro, antes da pandemia se intensificar, a queda era de 1,2%. Para o petróleo, a demanda mundial deve cair cerca de 30% em abril, segundo estimativa da Agência Internacional de Energia. Com o aumento recente na produção pelos países produtores, o preço da commodity registra queda de 67,5% no ano. Mesmo diante da perspectiva de corte da produção da Opep e seus parceiros que passará a vigorar a partir de 1º de maio, a contração da demanda continua mais intensa que a queda na produção, em um cenário de contração global. Além disso, o elevado nível dos estoques nos EUA não permite uma recuperação mais sustentada dos preços do petróleo. Como consequência, a inflação no mundo sobre nova pressão baixista, abrindo espaço para maior acomodação da política monetária.
Na próxima semana
Na agenda local, destaque para a divulgação da prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) de abril (BRAM: 0,01%) na terça-feira, dados fiscais e de crédito de março, e da taxa de desemprego na quinta-feira. Na agenda internacional, destaque para o PIB do 1° trimestre, o índice de preços (CPI) e taxa de desemprego da Zona do Euro.