Enfoque Macro Semanal – Bradesco Asset

ENFOQUE MACRO SEMANAL
06 de setembro de 2024

BRASIL:  PIB forte do 2º trimestre foi favorecido pelo consumo e pelos investimentos

MUNDO: Mercado de trabalho nos EUA continuou em desaceleração

EVENTOS DA SEMANA

O início do ciclo de corte de juros nos EUA seguiu como o principal determinante para o comportamento dos mercados globais nesta semana. Ao longo dos últimos dias, diversos indicadores do mercado de trabalho norte-americano foram conhecidos apontando para uma tendência inequívoca de desaceleração da geração de vagas. Isso reforça o início do ciclo de queda da taxa de juros pelo Fed, ainda que permaneça em aberto a opção de 25 pb ou 50 pb para a próxima reunião. Mantemos a avaliação de que um corte de 50 pb apresenta probabilidade levemente majoritária, levando em conta a tendência de desaquecimento em curso do mercado de trabalho e a sinalização de que parte do comitê já defendia uma redução na reunião de julho. Com isso, considerando o encerramento da semana, o dólar perdeu valor em relação à maioria das moedas e as curvas de juros norte-americanas fecharam em todos os vencimentos. Cabe ainda mencionar os dados mais fracos da economia chinesa que podem ter ajudado a explicar a correção dos preços de commodities, com destaque para as quedas mais significativas das cotações do petróleo e do minério de ferro. No mercado local, a surpresa de alta com o resultado do PIB do segundo trimestre reforçou a visão de que a economia ainda aquecida representa importante desafio para a política monetária. A despeito desse indicador reforçar a crescente probabilidade de alta de juros no Brasil, a influência externa pesou sobre os ativos domésticos e, com isso, o real terminou a semana com leve apreciação e as curvas de juros futuros mostraram leve queda.

Resultado do PIB do segundo trimestre novamente superou as expectativas, favorecido pelo consumo e pelos investimentos. Pela ótica da oferta, dentre os três grandes setores, apenas a agricultura teve retração na margem (-2,3%), afetada por quedas na produção de soja e milho e pelas enchentes no Rio Grande do Sul. A indústria, por outro lado, avançou 1,8% em relação ao 1º trimestre, puxada pela indústria de transformação (1,8%), enquanto houve aumento disseminado dos serviços (1,0%), com maiores contribuições positivas do comércio (1,4%), intermediação financeira (2,0%), administração pública (1,0%) e outros serviços (1,6%). Nossa medida de PIB cíclico, que exclui setores menos sensíveis à política monetária, teve aumento ainda mais expressivo, de 2,0% em relação ao 1º trimestre. Pela ótica da demanda, a maior contribuição partiu do consumo das famílias (1,3%), repercutindo o aumento da massa real de salários e das transferências governamentais no período. A formação bruta de capital fixo também mostrou avanço expressivo, impactada sobretudo pela construção civil, que contou com expansão da oferta de crédito e investimentos em infraestrutura no ciclo pré-eleitoral. A maior surpresa consistiu no crescimento de 3,1% do consumo do governo no trimestre. O setor externo, em sentido oposto, contribuiu negativamente mais uma vez, com a alta das exportações sendo amplamente compensada pelo crescimento das importações. Em suma, além da surpresa positiva, a composição do crescimento do PIB reforça o quadro de demanda doméstica ainda bastante aquecida, o que indica uma desaceleração mais lenta à frente do que inicialmente previsto. Com isso, revisamos nossa projeção de crescimento para 3,0% em 2024.

Produção industrial registrou queda em julho, mas segue com tendência positiva. De acordo com os dados do IBGE, a indústria mostrou retração de 1,4% na margem, o que representa crescimento de 6,1% na comparação interanual. A indústria extrativa registrou queda de 2,4%, puxada por petróleo, enquanto a de transformação recuou 1,3%, com as principais contribuições negativas partindo de alimentos (-3,8%) e refino de petróleo (-3,9%). O resultado negativo foi concentrado em alguns setores, como atesta o avanço do índice de difusão: 74% dos setores tiveram crescimento em julho, ante 65% em junho. Em relação às categorias de uso, os dados de julho foram mistos, registrando queda de bens intermediários e bens de consumo semi e não duráveis, enquanto bens de capital e duráveis apresentaram expressivo crescimento no mês. Em termos de carrego, por fim, a leitura de julho representa alta de 0,9% em relação à média do 2º trimestre de 2024. Em suma, mesmo com a queda do mês, a atividade industrial seguiu com tendência positiva.

Relatório de emprego de agosto reforçou a tendência de esfriamento do mercado de trabalho nos EUA. O número de vagas criadas foi inferior à expectativa de 165 mil, com 142 mil vagas criadas no mês, embora acima dos 89 mil registrados em julho. O setor privado também surpreendeu negativamente, criando 118 mil postos de emprego, ante projeção de 140 mil. A leitura de julho foi revisada para baixo, contribuindo com a desaceleração da média móvel de 3 meses, que passou de 141 mil para 116 mil. A taxa de desemprego recuou levemente de 4,25% para 4,22% entre julho e agosto, enquanto a alta dos salários passou de 0,2% para 0,4%, entre julho e agosto, contribuindo para a aceleração da comparação interanual de 3,6% para 3,8%. A trajetória de desaceleração no mercado de trabalho tem se mostrado consistente. Com isso, mantemos nossa expectativa de início do ciclo do corte de juros em setembro com uma redução de 50 pb, mas reconhecemos o risco de um corte menor de 25 pb.

Desaceleração da economia chinesa tem se consolidado no terceiro trimestre. O índice PMI mostrou leve queda de 50,2 para 50,1 pontos na passagem de julho para agosto. Para tanto, o índice do setor manufatureiro continuou no patamar contracionista (e recuando de 49,4 para 49,1 pontos) e o setor não manufatureiro mostrou leve avanço de 50,2 para 50,3 pontos, com melhora de serviços mas piora significativa de construção. Além disso, a abertura do dado revelou uma nova rodada de queda de preços e aumento dos estoques, sem melhora de encomendas. Isso sugere que o cenário para os meses à frente segue bastante desafiador, dada o nível reduzido da confiança das famílias, o contínuo enfraquecimento do setor imobiliário e a baixa disposição do governo chinês em lançar novos estímulos. Esses resultados são compatíveis com a nossa expectativa mais cautelosa para a economia chinesa, que deve crescer 4,6% e 4,2% neste e no próximo ano, respectivamente.

Indicadores de atividade na Área do Euro têm apontado desaceleração mais pronunciada da economia. A revisão do resultado do PIB da região referente ao segundo trimestre, que avançou 0,2% na margem ante resultado prévio de alta de 0,3%, reforçou as preocupações com o desempenho da economia europeia. O consumo das famílias e os investimentos recuaram 0,1% e 2,2%, nessa ordem, na passagem do primeiro para o segundo trimestre revelando o enfraquecimento da demanda interna. Por outro lado, gastos do governo avançaram 0,6% e exportações 1,4%. Somado a isso, destaca-se a frustração com o desempenho da produção industrial alemã, que acumula retração de 5,0% de janeiro a julho deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Por fim, o dado de compensação por trabalhador cedeu de 4,8% no primeiro trimestre para 4,3% no segundo trimestre. Esses dados analisados de forma conjunta, portanto, reforçam a expectativa de que o Banco Central Europeu reduzirá mais uma vez a taxa de juros, em 25 pb, na reunião agendada para semana que vem. O mercado estará ainda atento ao nível de preocupação acerca da atividade econômica que os membros da autoridade monetária vão revelar, o que poderia tornar o ciclo de cortes na região mais tempestivo.

NA PRÓXIMA SEMANA

Na agenda doméstica, destaque para o resultado do IPCA de agosto e para dados de atividade referentes a julho. No exterior, teremos dados de inflação dos EUA e de atividade da China.

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