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ENFOQUE MACRO SEMANAL
30 de agosto de 2024

BRASIL:  IPCA-15 mostrou núcleos mais pressionados em agosto

MUNDO: Inflação nos EUA continuou trajetória de alívio

EVENTOS DA SEMANA

Nos mercados globais, as atenções seguem voltadas à próxima reunião do Fed, em setembro. Na semana, tanto a revisão altista do PIB do 2º trimestre dos EUA como o avanço dos dados de consumo de julho geraram maior incerteza a respeito de um início de ciclo de cortes de juros mais agressivo. Apesar disso, o mercado segue dividido entre um corte 25 e 50 pb, na espera dos dados de emprego a serem divulgados na próxima semana. No Brasil, o resultado do IPCA-15 de agosto veio em linha com as expectativas, mas os componentes de serviços, mais sensíveis aos ciclos de atividade, seguem indicando um quadro de inflação ainda acima da meta. Ao mesmo tempo, indicadores de mercado de trabalho de julho mostraram um quadro ainda resiliente de emprego. Além disso, incertezas a respeito da política fiscal voltaram para o radar, na esteira da divulgação do orçamento de 2025. Com isso, houve abertura da curva de juros em todos os vértices e aumento de inclinação, diante da expectativa de alta mais gradual da Selic nas próximas reuniões do Copom.

A prévia da inflação de agosto mostrou elevação dos núcleos. O IPCA-15 avançou 0,19% no mês, ficando em linha com nossa projeção (0,18%) e a mediana do mercado (0,17%). A principal contribuição positiva partiu do setor de Transportes (0,83%), influenciado pela alta da gasolina (3,33%), seguido por Educação (0,75%), enquanto o grupo de Alimentação e bebidas apresentou deflação pelo segundo período seguido, com queda de 0,80%. O item seguro voluntário de veículos (-1,26%) que havia surpreendido com forte alta no mês anterior, voltou a deflacionar, trazendo alguma volatilidade para o dado. O mesmo vale para Passagem Aérea (-4,63%), para a qual muitas coletas indicavam uma deflação superior à observada.

Em relação às principais métricas observadas pelo Banco Central, houve continuidade do processo de aceleração dos núcleos. Considerando a média móvel de três meses com ajuste sazonal anualizada, a elevação passou de 4,1% para 4,3%. Os serviços subjacentes tiveram movimento semelhante, passando de 4,4% para 4,9% na mesma métrica. Por outro lado, bens duráveis e semiduráveis seguem relativamente bem comportados, com variação em torno de 1,5% nessa base de comparação. Nas próximas leituras, essas aberturas ligadas a bens industrializados serão foco das atenções diante da forte depreciação cambial observada ao longo do ano. De modo geral, entendemos que os núcleos de inflação devem permanecer relativamente estáveis no patamar atual nos próximos meses, deixando de contribuir para uma visão mais positiva para inflação.

Mesmo com sinais de moderação, mercado de trabalho seguiu aquecido em julho. De acordo com os dados da PNAD Contínua, divulgada pelo IBGE, a taxa de desemprego atingiu 6,8% no trimestre encerrado em julho. Na métrica dessazonalizada, a taxa também passou de 6,9% para 6,8%, em virtude do recuo de 0,1% da força de trabalho em meio à estabilidade da ocupação. Vale notar que a taxa de participação, razão entre força de trabalho e população em idade de trabalhar, segue bastante abaixo da média histórica, o que tem gerado uma taxa de desemprego menor. Dentre os setores de atividade, as principais contribuições positivas para o emprego partiram da indústria e da administração pública. O rendimento médio habitual teve queda de 0,6% na margem em termos reais, enquanto a massa de rendimentos, de 0,8%. Na mesma direção, os dados do Caged, divulgados pelo Ministério do Trabalho, mostraram a criação de 188 mil vagas de emprego formal no mês, pouco abaixo das expectativas. Na série com ajuste sazonal, o saldo se elevou de 136 mil para 150 mil vagas, embora a média móvel de três meses tenha recuado de 151 mil para 141 mil. Em suma, ainda que o mercado de trabalho siga em patamar aquecido, acreditamos que as próximas leituras seguirão trazendo resultados mais moderados, em linha com a desaceleração lenta da atividade esperada para este semestre.

Mesmo com maior déficit em transações correntes, contas externas seguiram favoráveis em julho. O saldo em conta corrente foi deficitário em US$ 5,2 bilhões no mês, mais negativo do que as expectativas e do que o observado em julho de 2023 (US$ 3,6 bilhões). A principal contribuição para o maior déficit veio da balança de serviços (- US$ 4,7 bilhões ante -US$ 3,2 bilhões em julho de 2023), puxada por maiores gastos líquidos em transportes e serviços de negócios. A balança comercial teve saldo de US$ 7,1 bilhões, abaixo dos US$ 7,6 bilhões do mesmo mês do ano passado. No acumulado em 12 meses, o déficit em transações correntes somou US$ 34,8 bilhões, ou 1,6% do PIB, contra 1,5% do PIB em junho. O investimento direto no país, no entanto, somou US$ 7,3 bilhões no mês, acumulando US$ 71,8 bilhões em doze meses (3,2% do PIB). Em suma, o financiamento externo continua sendo mais do que suficiente para compensar o saldo mais negativo de conta corrente.

Crédito seguiu em aceleração em julho. De acordo com os dados do Banco Central, o avanço interanual do saldo total de crédito acelerou de 10,2% para 10,3%, com maior impulso dos empréstimos com recursos livres às famílias. Apesar da média diária das concessões de crédito livre para pessoas físicas ter recuado na margem em termos reais em julho, registra alta de 3% em três meses, puxada em maior parte por cartão de crédito à vista e linhas emergenciais.  As concessões de crédito direcionado às famílias, que concentram sobretudo empréstimos imobiliários, avançaram 2,3% no mês. Em relação às empresas, houve alta de 1,0% das concessões de crédito livre mas queda de 32% das concessões de crédito direcionado. A inadimplência total permaneceu em 3,2% em junho, mesmo com pequena elevação do segmento de pessoa física. Diante do alto nível de endividamento das famílias e do nível ainda bastante restritivo de juros, esperamos que o crédito avance de forma moderada nas próximas leituras.

O resultado primário do setor público consolidado foi deficitário em R$ 21,3 bilhões em julho, pior do que a expectativa de déficit de R$ 6,9 bilhões. Em relação à composição, o governo central, os governos regionais e as empresas estatais apresentaram déficits de R$ 8,6 bilhões, R$ 11,0 bilhões e R$ 1,7 bilhão, respectivamente. Em 12 meses, o setor público consolidado acumulou déficit primário de R$ 257,7 bilhões (2,3% do PIB), enquanto o resultado nominal, que inclui as despesas com juros, foi negativo em R$ 1,13 trilhão no mesmo período, o que representa 10,0% do PIB. A dívida bruta do governo geral alcançou 78,5% do PIB, 0,7 p.p. do PIB acima da leitura de junho. A frustração do mês ficou por conta do desempenho em governos regionais. Ainda mantemos a expectativa que esses entes apresentarão déficit zero neste ano, apesar do viés de piora. Para o governo central, no entanto, estimamos déficit de R$ 88 bilhões, mas ao contrário dos governos regionais, o viés é de melhora.

Inflação nos EUA seguiu tendência de desaceleração em julho. O núcleo da inflação medido pelo PCE teve avanço de 0,16% no mês e de 2,6% na comparação interanual, mesmos números observados em junho. A média móvel dos últimos três meses anualizada desacelerou de 2,1% para 1,7%. A composição mostrou estabilidade em bens, ante deflação de 0,2% no mês anterior, enquanto o avanço do preço dos serviços se manteve em 0,2% em julho. Na métrica preferida do Fed, a inflação de serviços que exclui aluguéis teve alta de 0,21%, com a média móvel de três meses anualizada recuando de 2,7% para 2,3%. Em termos de atividade, o consumo em termos reais subiu 0,4% na margem, contando com alta de 0,7% em bens e de 0,2% em serviços. Em resumo, o relatório desse mês confirmou a trajetória de desaceleração da inflação e a resiliência do consumo. Mantemos a expectativa de início de corte mais agressivo pelo Fed (50 pb) em setembro, condicional a uma nova deterioração no relatório de emprego que será divulgado na próxima semana. Caso contrário, o ciclo deverá iniciar de forma mais cautelosa, com 25 pb.

Inflação ao consumidor na Área do Euro desacelerou em agosto, mas serviços seguem em patamar elevado. O índice de preços ao consumidor avançou 2,2%, segundo resultado prévio para este mês, em linha com as expectativas e abaixo do mês anterior (2,6%). Considerando o núcleo da inflação, houve leve aceleração na margem de 0,25% para 0,29%, levando a variação nos últimos 12 meses para 2,8%. Ainda que o alívio do índice cheio seja bastante favorável, a pressão vinda de serviços (com alta de 4,2%) deve manter o Banco Central Europeu cauteloso no atual ciclo de cortes de juros. Dessa forma, avaliamos que a redução de juros seguirá acontecendo em reuniões alteradas, com cortes de 25 pb esperados para setembro e dezembro.

NA PRÓXIMA SEMANA

Na agenda doméstica, destaque para o PIB e para a produção industrial. No exterior, teremos dados de emprego dos EUA.

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