ENFOQUE MACRO SEMANAL
23 de agosto de 2024

BRASIL:  Expectativa de inflação recua para 2025

MUNDO: Fed indica corte de juros na ata da última reunião

EVENTOS DA SEMANA

No âmbito global, os preços de mercado reagiram em grande medida aos dados de emprego dos EUA e às atualizações da comunicação do Fed. O processo de revisão anual dos dados de payroll mostraram substancial revisão para baixo, corroborando o cenário de desaquecimento do mercado de trabalho. Já a ata referente à reunião de política monetária do Fed, ocorrida em julho, revelou maior preocupação com o aumento da taxa de desemprego, levando diversos membros a discutirem a possibilidade de reduzir a taxa de juros já naquela reunião. Mais relevante, o discurso do Powell (presidente do Fed) no simpósio de Jackson Hole indicou de modo contundente que o ciclo de redução da taxa de juros terá início na próxima reunião, em 18 de setembro. Reagindo a essa sinalização, a curva de juros norte-americana recuou em seus vértices mais curtos. No Brasil, discursos de membros do Banco Central foram o destaque para o mercado local. Esses reafirmaram uma postura mais cautelosa da autoridade monetária ao deixar em aberto a possiblidade de alta da taxa de juros na próxima reunião do Copom, que ocorrerá no mesmo dia do Fed.

O mercado revisou positivamente suas projeções para inflação e PIB para 2024 e para a Selic em 2025. As projeções do Focus para o IPCA deste ano aumentaram ligeiramente na última leitura, passando de 4,20% para 4,22%, ao passo que as estimativas para 2025 atingiram 3,91%, ante 3,97% na última pesquisa. O mercado também revisou sua expectativa para o crescimento do PIB de 2024, de 2,20% para 2,23%, enquanto, em sentido oposto, a mediana para 2025 recuou de 1,92% para 1,89%. Em relação à taxa de juros, as projeções para a Selic se mantiveram em 10,50% para 2024, aumentando 25 pb para o ano que vem, de 9,75% para 10,00%. Apesar do recuo da expectativa de inflação de 2025 ser um movimento benigno para o Banco Central, as revisões positivas da atividade impõem um desafio para a dinâmica futura de inflação, requerendo ajustes da taxa de juros.

Arrecadação federal continuou forte em julho. A arrecadação totalizou R$ 231 milhões no mês passado, avanço real de 9,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Excluindo os fatores não recorrentes, o crescimento real da receita foi de 8,3% na comparação interanual. Entre os componentes, destaque para o PIS/Pasep e a Cofins que registraram aumento real de 22%, enquanto houve avanço mais moderado com IRPJ/CSLL (6,2%) e da receita com previdência (6%). A receita segue surpreendendo positivamente, incluindo a receita recorrente, em especialmente números de previdência, atrelados à solidez do mercado de trabalho. Com alta real acumulada no ano de 9,2%, o desempenho da receita eleva a probabilidade de alcance do limite inferior do intervalo da meta de resultado primário (-0,25% do PIB).

Ata do Fed mostrou maior disposição dos participantes em iniciar o ciclo de cortes. No documento, os membros reconheceram o progresso no processo desinflacionário nos últimos meses, com alívio generalizado nos principais componentes do núcleo da inflação. Os participantes também julgaram que o melhor equilíbrio entre oferta e demanda no mercado de trabalho tem contribuído com a moderação no aumento dos preços. Em relação ao balanço de riscos, foi considerado que a ameaça para o objetivo de máximo emprego compatível com a meta de 2% do Fed passou a ser maior, enquanto o perigo de intensificação da inflação foi reduzido. Com esse pano de fundo, vários membros discutiram a possibilidade de redução de juros já na reunião de julho. No entanto, a “grande maioria” dos integrantes do FOMC entendeu que, uma vez que os dados não fiquem distantes do esperado, o ciclo de redução na taxa básica de juros deverá ser apropriado na reunião de setembro.

Em seu discurso anual no Simpósio de Jackson Hole, o presidente do Fed, Jerome Powell, reafirmou o cenário de corte de juros em setembro. Colocando bastante ênfase no temor de uma piora no emprego, Powell apontou que fará o que for necessário para manter o mercado de trabalho forte. Ainda que tenha apontado a dependência dos dados, o presidente do Fed defendeu que o momento para o corte de juros está chegando. Avaliamos que o balanço assimétrico de riscos para o Fed (tendo em vista os sinais de piora no mercado de trabalho) e o nível elevado de restrição monetária compõem um cenário no qual o Fed deverá iniciar o ciclo de corte com uma redução de 50 pb. em setembro.

Dinâmica da economia global seguiu impulsionada por serviços, com continuidade do enfraquecimento da indústria. O índice PMI composto dos EUA mostrou leve desaceleração de 54,3 para 54,1 pontos entre julho e agosto, acima da projeção do mercado (53,2). O resultado foi explicado pela retração mais acentuada na indústria (de 49,6 para 48,0), que compensou a expansão do setor de serviços (de 55,0 para 55,2). Na Área do Euro, por sua vez, a prévia do índice PMI Composto avançou de 50,2 para 51,2 no período, leitura também superior às expectativas (50,1). Da mesma forma, serviços melhoraram (de 51,9 para 53,3) refletindo em alguma medida os jogos olímpicos na França, ao passo que o setor manufatureiro manteve a tendência de perda de tração dos últimos meses (de 45,8 para 45,6).

NA PRÓXIMA SEMANA

Na agenda doméstica, destaque para o IPCA-15 e para dados de crédito e do setor externo. No exterior, teremos dados de inflação dos EUA.

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