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ENFOQUE MACRO SEMANAL
12 de julho de 2024

BRASIL:  Comportamento benigno da inflação em junho

MUNDO: Alívio importante da inflação nos EUA em junho

EVENTOS DA SEMANA

Os sinais de moderação da economia e da inflação dos EUA seguiram como principais vetores para os mercados globais, que começaram a vislumbrar a possibilidade de antecipação de corte de juros pelo Fed. O resultado mais fraco da inflação ao consumidor nos EUA, com composição favorável especialmente dos núcleos, ajudou a compor um quadro mais favorável para o banco central norte-americano reduzir a taxa de juros. De forma geral, os resultados de inflação – divulgados em vários países nesta semana – surpreenderam de forma negativa, sugerindo que parte importante da desinflação, incluindo os núcleos, já foi atingida. Com isso, houve fechamento das curvas de juros em grande parte dos países e o dólar perdeu valor em relação à maioria das moedas. No Brasil, se por um lado houve surpresa baixista com o IPCA, os dados do comércio varejista e do setor de serviços trouxeram variações mais fortes do que as esperadas, indicando que a atividade econômica tem se mostrado mais resiliente. O alívio das preocupações com a agenda fiscal, por sua vez, foi determinante para a melhora dos principais ativos brasileiros: as curvas de juros recuaram em todos os vértices, a moeda tem apreciado de forma gradual e a bolsa encerrou em alta nesta semana.

Inflação ao consumidor tem exibido comportamento benigno no curto prazo. O IPCA registrou avanço de 0,21% em junho, resultado inferior à expectativa do mercado e à nossa projeção (0,30%). Na variação acumulada em 12 meses, o IPCA alcançou alta de 4,2%, ante 3,9% no mês anterior. Quanto ao desvio em relação a nossa projeção, o principal efeito veio de Alimentação no Domicílio (0,47%), que contribuiu com -6 bps. Apesar de algumas coletas indicarem que os preços de junho teriam um avanço relevante, principalmente em Porto Alegre – ainda como um resquício do impacto inflacionário das enchentes –, os preços coletados pelo IBGE não mostraram tal movimento. Além disso, bens industrializados também tiveram um avanço menor do que o esperado, com destaque para os preços da cadeia automotiva recuando em relação à divulgação do IPCA-15 do mesmo mês.

Em relação às métricas mais relevantes para o Banco Central, as diferentes aberturas ligadas a serviços mostraram arrefecimento. Houve uma reversão da aceleração observada no mês passado da média móvel de três meses dessazonalizada do núcleo de serviços subjacentes, atingindo 4,7% após o registro anterior de 5,2%. Por sua vez, serviços intensivos em trabalho recuaram para 5,7% na mesma métrica, reforçando uma tendência de recuo observada desde o início do ano. A média dos cinco núcleos de exclusão e suavização acompanhados pelo Banco Central, por sua vez, avançou ligeiramente depois de permanecer estável no mês antecedente, com a variação passando de 3,4% para 3,6% na mesma métrica. Nesse sentido, entendemos que as medidas de inflação mais relevantes continuam desacelerando ou exibem variação ao redor da meta, reforçando um cenário relativamente benigno para o curto prazo. Para 2024, esperamos elevação de 3,9%, após incorporar a surpresa de junho e o reajuste de preços de combustíveis.

Indicadores de atividade mostraram resiliência em maio, mesmo em face das enchentes no Rio Grande do Sul.  De acordo com os dados do IBGE, as vendas no varejo tiveram crescimento de 1,2% em relação a abril, acima das expectativas do mercado. As maiores contribuições positivas para o resultado vieram de supermercados (0,7%),  outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,6%) e tecido, vestuário e calçados (2,0%). As vendas de supermercados refletiram as compras emergenciais no RS, em mês marcado por enchentes que paralisaram parte da economia da região. O varejo ampliado, que inclui veículos, material de construção e atacarejo, registrou alta mais modesta (0,8%), influenciada pela redução das vendas de automóveis no período. Na segregação por setores ligados ao crédito e à renda, o resultado do varejo ampliado no mês pode ser atribuído ao segundo grupo.

Ainda segundo os dados do IBGE, o volume de serviços prestados ficou estável em maio, também superando as expectativas.  Os resultados entre os setores foram mistos: de um lado, serviços prestados às famílias avançaram 3,0% na margem,  puxados por alimentação,  mas transportes tiveram queda de 1,6%, influenciados em grande medida pelas enchentes no RS, com fechamento do aeroporto e interrupções do transporte rodoviário de cargas e passageiros. Nos próximos meses, o patamar ainda aquecido mercado de trabalho deverá sustentar o crescimento do segmento direcionado às famílias.

Inflação nos EUA continuou sua trajetória de alívio em junho. O índice de preços ao consumidor (CPI) registrou deflação de 0,1% no mês, ante expectativa de aumento de 0,1%, e estabilidade em maio. Na comparação em 12 meses, a trajetória de desaceleração teve continuidade, recuando de 3,3% para 3,0%. O núcleo da inflação também surpreendeu, avançando 0,06% na margem, após a leitura de 0,16% no mês anterior e expectativa de alta de 0,2%. Na comparação interanual, o indicador arrefeceu, passando de uma alta de de 3,4% para outra de 3,3%. As últimas leituras de inflação mostram um avanço no processo desinflacionário, motivado em especial por números mais moderados da inflação de aluguéis e serviços médicos, componentes inerciais que podem favorecer um processo inflacionário mais benigno. Nesse contexto de consolidação da desinflação, ganha força o cenário de corte de juros neste ano pelo Fed.

Crescimento da economia chinesa continua puxado majoritariamente pelas exportações. Em junho, as vendas externas cresceram 8,6% em relação ao mesmo período do ano passado, ao passo que as importações seguiram mais moderadas, com retração de 2,3% na mesma base de comparação. Esses resultados enfatizam a dinâmica que temos observado nos últimos trimestres, com a demanda interna mais fraca em contraste com o setor externo mais aquecido, favorecendo a indústria do país. Os dados de inflação – conhecidos nesta semana – ratificam essa tendência: o índice de preços ao consumidor mostrou alta interanual de 0,2% no mês passado e os preços ao produtor continuam no campo deflacionário, com queda de 0,8%, puxada principalmente pela cadeia de produtos manufaturados. Por fim, o estoque de crédito total registrou expansão de 8,1% em junho, acumulando importante desaceleração ao longo dos últimos meses, em resposta à fraca demanda por crédito tanto das empresas como das famílias. Para esta segunda metade do ano, acreditamos que essa dinâmica será mantida, o que aumenta os riscos de uma moderação adicional da economia, tendo em vista os sinais de arrefecimento das principais economias do mundo.

NA PRÓXIMA SEMANA

Na agenda doméstica, destaque para o resultado do IBC-Br de maio, além das discussões relacionadas à agenda fiscal. No cenário internacional, as atenções se voltam os dados de atividade da China e dos EUA referentes a junho.

 

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