Enfoque Macro Semanal – Bradesco Asset

ENFOQUE MACRO SEMANAL23 de fevereiro de 2024

BRASIL:  Arrecadação federal teve bom desempenho em janeiro

MUNDO: Bancos centrais reforçam o tom de cautela sobre o início do corte de juros

EVENTOS DA SEMANA 

O ambiente internacional foi novamente marcado pela evolução nas discussões de política monetária. Nos EUA, a ata da última reunião do FOMC mostrou preocupação da maioria dos membros em iniciar prematuramente um ciclo do corte de juros, potencialmente comprometendo a convergência da inflação para a meta de 2%. Os membros que discursaram ao longo da semana também buscaram reforçar essa mensagem de cautela a respeito da avaliação do cenário econômico. Com isso, o orçamento de corte de juros nesse ano se consolidou em três cortes de 25 pb., sendo que há um mês esse orçamento era de seis cortes. Seguindo o tom de cautela desde o ano passado, o Banco Central Europeu (BCE) também destacou a dificuldade da fase final de desinflação, demandando maior atenção por parte da política monetária. No Brasil, os destaques ficaram por conta do avanço da atividade no mês de dezembro e para os dados de arrecadação de janeiro, que revelaram um bom desempenho no mês, reduzindo a pressão pela revisão da meta de primário no curto prazo.

Com crescimento da indústria e dos serviços prestados, a atividade econômica avançou em dezembro. Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), houve crescimento de 0,8% na margem no mês, resultado em linha com as expectativas. O resultado refletiu o avanço de 1,1%  da produção industrial e de 0,3% do volume de serviços, parcialmente compensados por recuo de 1,1% das vendas no varejo ampliado no mês. Na comparação interanual, o indicador teve acréscimo de 1,4%, ante 2,4% em novembro. Em termos de carrego, a média do 4º trimestre de 2023 alta de 0,2% em relação à média do trimestre anterior. Com os dados de atividade do 4º trimestre de 2023, projetamos que o PIB tenha recuado 0,1% na margem.

A arrecadação federal apresentou avanço expressivo em janeiro. No mês, a arrecadação totalizou R$ 280 bilhões, acréscimo real de 6,7% em termos anuais. Entre os principais fatores para esse desempenho, destaque para o PIS/Cofins com alta de 14,4%, para a alta de 7,6% na Receita Previdenciária e para o aumento de 24,4% no IRRF-Capital, em função da arrecadação proveniente da tributação de fundo exclusivos. Segundo a Receita Federal, excluindo os fatores não recorrentes (pagamento atípico de IRPJ/CSLL, tributação de fundos exclusivos e desonerações), o avanço da receita teria sido de 4,3%. Apesar do bom resultado de janeiro reduzir a pressão pela alteração da meta de resultado primário no curto prazo, necessitamos continuidade desse desempenho para reavaliarmos o nosso cenário de não alcance da meta de déficit zero. Com os dados de janeiro, revisamos a nossa projeção de déficit de R$ 74 bilhões para déficit de R$ 68 bilhões.

Ata da última reunião do FOMC reforça a mensagem de cautela a respeito do início do ciclo de corte de juros. Acerca da evolução do cenário, os membros avaliaram na reunião de janeiro que o mercado de trabalho se encontra mais balanceado em termos de oferta e demanda, ao passo que o movimento de desinflação revela um substancial progresso, ainda que reflita em parte alguns aspectos idiossincráticos. Sobre a condição atual da política monetária, o comitê concorda que o patamar de juros está restritivo suficiente para continuar pressionando a atividade e a inflação para baixo. A respeito dos próximos passos da política monetária, os membros reafirmaram que o ciclo de corte de juros terá início apenas quando houver confiança suficiente que a inflação está convergindo para a meta de 2%. Ademais, a maioria dos membros manifestou preocupação com um corte prematuro de juros que poderia comprometer a desinflação dos preços. Na reunião de janeiro, o comitê não contava com as fortes surpresas altistas nos dados de inflação e geração de vagas. Avaliamos que embora o comitê tenha avançado na discussão sobre corte de juros nessa reunião, as surpresas recentes nos dados de janeiro devem reforçar o discurso de cautela quanto ao início do afrouxamento monetário e de dependência de alguma devolução das surpresas de inflação e mercado de trabalho nos próximos meses. Com a expectativa de melhora no ambiente de inflação e atividade, prevemos para reunião de junho o início do ciclo do corte de juros.

Ambiente mais favorável para a China depende da sinalização de mais estímulos, mas dados econômicos ainda não apontam para forte retomada. A redução da taxa de juros de referência, para o prazo de 5 anos, foi reduzida em 25 pbs nesta semana para 3,95%, o que favorece especialmente o setor imobiliário. Outras medidas de suporte ao setor privado também foram anunciadas, reduzindo os riscos baixistas para a economia do país neste ano. Ainda assim, mantemos cautela para o cenário prospectivo, levando em conta que a retomada das vendas de imóveis segue lenta e os preços mantiveram a tendência de queda. Duas ressalvas ainda devem ser feitas: a taxa de juros de referência de 1 ano foi mantida em 3,45%, sinalizando ainda a cautela por parte da autoridade monetária. Além disso, a melhora indicada pelo fluxo de pessoas no feriado do ano novo, com alta de 19% em relação ao patamar pré pandemia deve ser contrastada com a ampliação mais contida dos gastos dos turistas (7,7%), sugerindo ainda uma postura conservadora das famílias. Dessa forma, mantemos nossa expectativa de crescimento do PIB de 4,7% neste ano, com retomada gradual da confiança e continuidade do ajuste do setor imobiliário.

Banco Central Europeu (BCE) tem mantido tom de cautela em relação ao início do corte de juros. As condições econômicas – desinflação em curso, atividade fraca e alívio dos salários – e os sinais de transmissão de política monetária sustentam nossa expectativa de que a taxa de juros poderá ser reduzida nos próximos meses. Mas, a grande maioria dos membros do BCE continua reforçando cautela, destacando que a fase final da desinflação merece atenção, dados os riscos vindos dos salários e da recomposição de lucro das empresas. Outro ponto trazido pelo BCE é que as decisões futuras dependerão da evolução dos dados e que, por ora, um corte tardio traz mais benefícios que um corte antecipado, tendo em vista a necessidade de ancorar as expectativas de inflação. Somado a isso, os sinais de estabilização da economia reduzem a urgência de um corte de juros. De fato, a prévia do índice PMI, conhecido nesta semana, subiu de 47,9 para 48,9 pontos entre janeiro e fevereiro (com o componente de serviços passando de 48,4 para 50,0 pontos e o da indústria recuando de 46,6 para 46,1). Assim, levando em conta principalmente a sinalização da autoridade monetária, parece mais provável que os juros na região comecem a cair em junho.

 

 

 

 

 

NA PRÓXIMA SEMANA

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA-15 de fevereiro na terça-feira e para o PIB do 4º trimestre na sexta-feira. No cenário internacional, as atenções se voltam para a inflação de janeiro (PCE) nos EUA

 

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