Enfoque Macro – Bradesco Asset

ENFOQUE MACRO22 de dezembro de 2023

 

 

BRASIL: Banco Central reiterou o ritmo de cortes da Selic de 50 pb

 

MUNDO: Inflação nos EUA manteve a tendência de alívio

 

 

EVENTOS DA SEMANA

 

Os eventos desta semana não mudaram a expectativa dos mercados de que o Fed começará o corte dos juros no início do ano que vem. Os dados revisados do PIB do 3º trimestre mostraram um crescimento abaixo da leitura inicial, com menor expansão do consumo. Já os números do PCE mostraram avanço da inflação abaixo do esperado em novembro, compondo uma alta anualizada de 2,7% nos últimos três meses. Embora diversos membros do Fed tenham sinalizado que a discussão de afrouxamento de juros no início do ano é prematura, o mercado precifica chance majoritária de redução já em março. Nesse sentido, as curvas de juros mantiveram o movimento de queda na semana. No Brasil, os destaques foram os comunicados do Banco Central (ata da última reunião e Relatório Trimestral de Inflação), que reforçaram o cenário de continuidade do ciclo de queda de juros no ritmo de 50 pb. Além disso, a autoridade monetária afirmou não existir relação mecânica entre a política monetária dos EUA e a do Brasil. A perspectiva de o Fed ser mais agressivo no corte de juros segue contribuindo para melhor desempenho dos ativos locais, com destaque para o Real, que apreciou 1,5%, com cotação abaixo de R$/US$ 4,90.

 

O Banco Central manteve o tom de cautela, reafirmando a manutenção do ritmo de cortes. A ata do Copom, divulgada nesta semana, caracterizou o cenário externo como menos adverso em comparação à última reunião. Isso é decorrente da redução das taxas de juros mais longas nos Estados Unidos e da indicação de queda dos núcleos de inflação de diversos países, o que tem permitido sinalizações de alívio na política monetária de algumas regiões. Mesmo assim, o Comitê avaliou que a determinação dos bancos centrais das principais economias em levar a inflação às respectivas metas exige cautela por parte dos países emergentes. Em relação ao cenário doméstico, o Copom reconheceu a moderação da atividade econômica, embora os membros tenham chamado atenção para a resiliência do consumo das famílias e do mercado de trabalho. Quanto à inflação, foi ressaltada sua evolução benigna, com surpresa baixista em serviços subjacentes, e destacou que o processo de desinflação tem ocorrido conforme o esperado. Mais uma vez, o Copom ressaltou a importância da observância das metas fiscais, a fim de manter as expectativas ancoradas. Diante desse cenário, os membros concordaram sobre a necessidade de uma política monetária contracionista, julgando adequada uma redução de 50 pb e reforçando a perspectiva de cortes da mesma magnitude nas reuniões adiante.

Mantemos a expectativa de alta de 4,0% do IPCA, tanto em 2024 como 2025. Nos próximos meses devemos ter uma série de informações importantes para o cenário de inflação do próximo ano, como a definição dos estados que vão alterar a alíquota de ICMS, a decisão da Petrobras quanto ao reajuste de gasolina, maior clareza quando à safra de soja, assim como reajustes de emplacamento e licenciamento, educação entre outros concentrados no início de ano. Esses eventos devem pautar a trajetória do índice cheio do IPCA, mas os núcleos tendem a seguir relativamente estáveis, avançando em torno de 3,0%, nos próximos meses.

O Relatório Trimestral de Inflação trouxe o detalhamento das projeções do Banco Central, reforçando o cenário desenhado na comunicação após sua reunião de dezembro. Em relação à inflação, o destaque foi o cenário de curto prazo, no qual o BCB indicou uma variação mensal da média dos núcleos de inflação em patamar ligeiramente acima da meta de inflação, mas dentro do intervalo de tolerância. Para a atividade, o Banco Central revisou ligeiramente (i) para cima a projeção de crescimento deste ano, de 2,9% para 3,0%, incorporando os dados mais favoráveis do 3º trimestre e (ii) para baixo a de 2024, de 1,8% para 1,7%. A revisão para baixo da projeção de crescimento do PIB em 2024 reflete a menor expectativa para agropecuária e indústria. Na entrevista após a divulgação do relatório, o presidente Roberto Campos Neto e o diretor Diogo Guillén mantiveram a indicação de manutenção do ritmo de corte de juros em 50 pb. Com isso, mantivemos nosso cenário para a política monetária, sem aceleração dos cortes e com a Selic terminal em 8,50% no final de 2024.

Atividade econômica recuou em outubro, influenciada por comércio e serviços. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) teve queda de 0,1% no mês, pouco acima das expectativas do mercado. Esse recuo mensal corresponde ao terceiro consecutivo do indicador e reforça o quadro de desaceleração econômica no 4º trimestre do ano. Para tanto, destacamos as quedas do volume de vendas do comércio ampliado (-0,4%) e do volume de serviços (-0,6%) em outubro, parcialmente compensados pela alta da produção industrial no mesmo período (0,1%). Em termos de carrego, o dado de outubro do IBC-Br sugere retração de 0,3% em relação ao trimestre anterior. Assim, esses dados reforçam nossa expectativa de queda do PIB no último trimestre de 2023.

Relatório de gastos do consumidor (PCE) nos EUA de novembro reforçou o movimento de queda na inflação. O núcleo da inflação medido pelo PCE ficou relativamente estável na margem, subindo 0,06% no mês, ante aumento de 0,15% em outubro e abaixo da projeção do mercado (0,2%). Na comparação interanual, o índice continuou recuando, passando de 3,4% para 3,2%. A respeito do consumo, houve aceleração do crescimento real na margem, de 0,1% para 0,3%, e no acumulado em 12 meses, de 2,0% para 2,7%. A poupança como proporção da renda disponível, por sua vez, registrou ligeiro aumento, de 4,0% para 4,1%, abaixo do patamar pré-crise. Apesar da tendência de desaceleração, a inflação permanece distante da meta de 2%. Em nosso cenário, a cautela com a dinâmica inflacionária levará o Fed a iniciar o ciclo de corte de juros apenas em junho.

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