ENFOQUE MACRO
01 de dezembro de 2023BRASIL: IPCA-15 reforçou perspectiva favorável para a inflação
MUNDO: Tendência de alívio na inflação persistiu nos EUA em outubro
EVENTOS DA SEMANA
No cenário internacional, o destaque da semana foi a divulgação do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, que ficou estável em outubro. O resultado, especialmente do núcleo, em linha com as expectativas fez com que o mercado mantivesse o cenário de estabilidade dos juros americanos, aumentando a discussão sobre o início do processo de corte de juros pelo Fed. Na Europa, os dados de inflação trouxeram surpresa baixista, reforçando cenário mais benigno para juros. No Brasil, os juros acompanharam a melhora observada no mercado americano, tendência que foi reforçada por dados mais favoráveis de inflação, com núcleos próximos da meta de 3%. Ainda na semana, tivemos a divulgação de dados de emprego de outubro mostrando um mercado de trabalho resiliente, o que enseja cautela do Banco Central quanto à alteração do ritmo de corte de juros domésticos.
Prévia da inflação reforçou o cenário favorável de preços. O IPCA-15 avançou 0,33% na margem em novembro, em linha com nossa projeção (0,32%) e acima da mediana do mercado (0,30%). A principal contribuição partiu do grupo Alimentação e Bebidas (0,82%), o qual interrompeu uma deflação de cinco meses. Grupos ligados a bens industrializados, como Higiene Pessoal (-0,78%), apresentaram variação mais baixa, demonstrando uma antecipação dos descontos da Black Friday. Em relação às métricas mais relevantes para o Banco Central, continuamos a observar um processo de desinflação em direção à meta. O núcleo de Serviços Subjacentes, medida que exclui itens mais voláteis do grupo de serviços, continuou sua trajetória de alívio, passando de 3,9% para 3,7% na média móvel de três meses com ajuste sazonal anualizada. A média dos núcleos de inflação observados pelo Banco Central, medidas que excluem ou suavizam itens mais voláteis, também apresentou desaceleração, indo de 3,7% na média anualizada de três meses com ajuste sazonal na última leitura do IPCA-15 para 3,1% na mais recente. Esse resultado reforçou a tendência de queda dos núcleos de inflação de médio prazo, com a variação acumulada em 12 meses atingindo 4,6%. Diante do resultado da prévia da inflação, mantemos nossas projeções para o IPCA em 4,4% para 2023 e em 4,0% para 2024.
O mercado de trabalho seguiu resiliente em outubro. De acordo com os dados do Caged, foram geradas liquidamente 190 mil vagas de emprego formal no mês, acima das expectativas. Na série com ajuste sazonal, houve aceleração: o saldo passou de 133 mil em setembro para 150 mil no mês, com maior contribuição do setor de serviços. Por sua vez, os dados da PNAD Contínua mostraram taxa de desemprego de 7,6% no trimestre encerrado em outubro, o que, na série com ajuste sazonal, representa alta de 0,1 p.p. ante setembro, para 8,0%. A elevação é fruto do aumento da força de trabalho, ante estabilidade do número de ocupados. Em relação ao emprego, houve avanço apenas dos trabalhadores informais, com maior participação do setor de serviços. Esperamos desaceleração mais contundente dos dados de emprego nas próximas leituras.
Indústria apresentou resultado fraco em outubro, com contribuição negativa da extração mineral. De acordo com os dados do IBGE, a produção industrial teve crescimento de 0,1% no mês, abaixo das expectativas. Por trás do resultado está a queda de 1,1% na margem da indústria extrativa mineral. Houve estabilidade da indústria de transformação, com destaque para a menor produção de derivados de petróleo (-1,4%) e de máquinas e materiais elétricos (-2,6%), compensados pelo avanço de produtos alimentícios (1,6%) e máquinas e equipamentos (2,4%). Em relação às categorias de uso, apenas os bens intermediários tiveram crescimento no mês. Vale notar a queda expressiva de bens de capital dos últimos meses, com impacto negativo sobre o investimento. Nas próximas leituras, a indústria deve continuar com desempenho modesto: projetamos menor demanda por bens de consumo e bens de capital em virtude da desaceleração da demanda.
O governo central registrou superávit primário de R$ 18,3 bilhões em outubro, ante resultado positivo de R$ 30,6 bilhões no mesmo mês de 2022. O resultado ficou acima da expectativa do mercado (R$ 15,5 bilhões) e da nossa projeção (R$ 16,0 bilhões). Em termos reais, o crescimento da receita líquida foi de 0,6% na comparação interanual, enquanto o aumento da despesa total foi de 10,1%. No acumulado ao longo do ano, o déficit foi de R$ 75,1 bilhões (-0,8% do PIB), diante de superávit de R$ 64,4 bilhões de janeiro a outubro de 2022 (0,8% do PIB). Acreditamos que o déficit primário do governo central alcançará R$ 131 bilhões (-1,2% do PIB) até o fim deste ano.
Relatório de gastos do consumidor (PCE) nos EUA de outubro reforçou tendência de alívio da inflação. O núcleo da inflação mensurado pelo PCE subiu 0,16% na margem, em linha com a expectativa do mercado e abaixo do registrado em setembro (0,31%). Na comparação interanual, o aumento do índice foi de 3,5%, desacelerando ante os 3,7% do mês anterior. Em relação ao consumo, o crescimento real recuou ligeiramente na margem, passando de 0,3% no trimestre anterior para 0,2% em outubro, e permaneceu em 2,2% no acumulado em 12 meses. A poupança como proporção da renda disponível, por sua vez, teve pequeno aumento, subindo de 3,7% para 3,8%. Em linhas gerais, o relatório confirma a tendência de desaceleração da inflação, mas que ainda segue bastante acima da meta de 2%, ao passo que o consumo se mantém resiliente.
Surpresas baixistas com a inflação da Área do Euro foram disseminadas em novembro. A prévia do índice de preços ao consumidor apontou para alta de 2,4% na comparação interanual, surpreendendo as expectativas (2,7%) e desacelerando ante outubro (2,9%), com arrefecimento em todos os seus principais componentes. Novamente, o índice cheio foi beneficiado pela considerável deflação em energia, porém o núcleo continuou sua trajetória de alívio, cedendo de 4,2% para 3,6% no acumulado em 12 meses. Na margem, o índice de preços e o núcleo tiveram deflação de 0,3% e 0,1%, respectivamente, considerando os ajustes sazonais. Diante do cenário benigno para inflação, mantemos nossa expectativa de corte de juros para meados do ano que vem. Reconhecemos, contudo, que uma desaceleração mais pronunciada da atividade econômica, somando-se ao processo de desinflação, pode antecipar o início do ciclo.
Retomada da economia chinesa segue desafiadora. Em novembro, a frustração com o resultado do índice PMI sugere que novas rodadas de estímulos se fazem necessárias para reverter a tendência de desaceleração da economia chinesa. O índice da manufatura caiu de 49,5 para 49,4 pontos entre outubro e novembro, abaixo do esperado (49,8). Da mesma forma, o índice não manufatura recuou de para 50,6 para 50,2 pontos no período, com arrefecimento mais forte de serviços e alguma moderação do segmento de construção. Dessa forma, mesmo com o alívio recente da política econômica, a reação tem sido bastante limitada. Mantemos nossa visão cautelosa para a economia chinesa dados os ajustes estruturais em curso (como do setor imobiliário), mas acreditamos que novas rodadas de estímulos serão anunciadas nos próximos meses, garantindo alguma melhora da economia.
NA PRÓXIMA SEMANA
Na agenda doméstica, as atenções estarão concentradas na divulgação do PIB do 3º trimestre (BRAM: -0,2% T/T) e nos dados de crédito e setor externo. No cenário internacional, destaque para leituras de emprego nos EUA e de inflação na China.