ENFOQUE MACRO
10 de novembro de 2023
BRASIL: Perspectiva favorável da inflação foi reforçada
MUNDO: Recuperação chinesa ainda não se consolidou
EVENTOS DA SEMANA
No mercado local, o destaque dessa semana foi a divulgação dos dados de inflação do mês de outubro. O IPCA registrou variação de 0,24% no mês, abaixo das expectativas, com maior surpresa concentrada no núcleo de bens. Ademais, tanto a média dos principais núcleos como os serviços subjacentes se situaram em nível confortável, indicando continuidade da desaceleração. Com isso, a curva de juros doméstica teve recuo em quase todos os vértices, em especial de curto e médio prazo. No front internacional, apesar da semana com menos indicadores, o principal destaque foi a fala do presidente do Fed, Jerome Powell, sugerindo que ainda existe a possibilidade da instituição voltar a elevar juros no país caso seus membros julguem necessário. Apesar dessa comunicação, continuamos a avaliar que o Banco Central do EUA já encerrou seu ciclo de aperto de juros e deve mante o discurso de manutenção das taxas no atual patamar por período prolongado. Na China, a frustração com os dados de exportações e a desaceleração da inflação no país mostram que a recuperação da economia chinesa ainda não se consolidou.
Dados de outubro reforçaram cenário favorável de inflação. O IPCA registrou variação de 0,24%, abaixo da nossa projeção e da mediana das expectativas do mercado, com a principal surpresa advinda da deflação mais intensa de bens industriais. Entre os destaques, automóveis novos (-0,32%) voltaram a recuar, enquanto outros bens não duráveis, que em outros anos avançaram em outubro para abrir espaço nas promoções de novembro, tiveram uma variação modesta. Por um lado, isso poderia indicar que os descontos de Black Friday foram antecipados em algumas categorias e não trariam quedas tão relevantes em novembro, por outro, pode ser um indicativo de demanda fraca no comércio. om relação à média dos núcleos de inflação do Banco Central, medidas que excluem ou suavizam itens voláteis, a medida recuou de 3,6% para 3,2% na média móvel anualizada de três meses com ajuste sazonal. Além disso, o núcleo de serviços subjacentes seguiu registrando desempenho favorável ao registrar uma variação de 3,6% na mesma métrica. Diante do dado de outubro, mantivemos nossas projeções para o IPCA em 4,7% para 2023, mas destacamos um viés baixista para os próximos meses, o que faria com que a inflação deste ano ficasse dentro dos limites de tolerância da meta de inflação. O mesmo vale para a projeção de 4,0% de 2024, que pode se beneficiar de uma continuidade no processo de desaceleração dos núcleos, além de possíveis recuos nos preços de combustíveis no final deste ano.
Banco Central consolidou a indicação de ritmo de corte de 50 pb na ata de sua última reunião ao retirar o trecho que discutia as condições para intensificação do passo. O documento chamou a atenção para o desenvolvimento do cenário externo, caracterizando-o como adverso diante da elevação das taxas de juros mais longas nos EUA, do aumento de tensões geopolíticas e da resiliência de núcleos de inflação e do mercado de trabalho em diversos países. A avaliação preponderante no comitê foi de que o cenário internacional afeta primordialmente o grau de incerteza relativa ao balanço de riscos, o que exige maior cautela na condução da política monetária. Em relação ao ambiente doméstico, o Comitê reconheceu a desaceleração da atividade econômica, a moderação do mercado de trabalho e a dinâmica mais favorável da inflação, destacando o arrefecimento dos núcleos e da inflação de serviços. Por outro lado, o Banco Central também apontou riscos altistas, como a persistência de pressões inflacionárias globais e uma maior resiliência da inflação de serviços. Além disso, a incerteza acerca da meta fiscal foi citada como um fator que pode impactar as expectativas de inflação, que já se encontram desancoradas, e, portanto, afetar a política monetária. Após a divulgação da ata, mantivemos nosso cenário de juros, que contempla cortes de 50pb até o segundo trimestre de 2024, encerrando o ciclo com a Selic em 9,50% a.a.
Desempenho favorável do setor externo continuou em setembro. As transações correntes registraram déficit de US$ 1,4 bi no mês, ante déficit de US$ 6,9 bi no mesmo período de 2022. No acumulado em 12 meses, o déficit soma US$ 39,8 bi, representando 1,9% do PIB, contra 2,2% na leitura de agosto. O melhor saldo em conta corrente na comparação interanual decorreu do maior saldo comercial e da redução do déficit na renda primária, fruto de menores remessas de lucros e dividendos, que mais do que compensaram o maior gasto com serviços. O investimento direto no país (IDP), por sua vez, registou US$ 3,8 bi no mês, ante US$ 9,6 bi em setembro de 2022; no acumulado em 12 meses, o IDP somou US$ 60,0 bi (2,9% do PIB), inferior aos US$ 65,9 bi de agosto (3,2% do PIB). Apesar da desaceleração, o fluxo é mais do que suficiente para compensar o déficit nas transações correntes. Os próximos meses deverão contar com desaceleração mais intensa de importações e melhor resultado da conta de serviços em virtude da desaceleração da atividade doméstica.
Vendas no varejo cresceram em setembro. Segundo os dados do IBGE, o volume de vendas teve elevação de 0,6% no mês, recuperando-se da queda de 0,2% de agosto e superando as expectativas do mercado. Apenas 3 dos 8 setores que compõem o indicador avançaram no período. A maior contribuição positiva veio de itens ligados à renda, sobretudo supermercados e produtos alimentícios (1,6%) e artigos farmacêuticos (0,4%). Compensando parcialmente essas altas, a maior contribuição negativa veio de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,9%) – setor que engloba lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos e brinquedos e havia registrado crescimento expressivo em julho, tendo recuado desde então. O varejo ampliado, por sua vez, que inclui vendas de automóveis, materiais de construção e atacado de produtos alimentícios, teve crescimento de 0,2% em setembro, após queda de 1,3% no mês anterior. Mesmo com desempenho superior ao esperado neste mês, esperamos desaceleração nas próximas leituras de vendas no varejo.
Crédito seguiu desacelerando em setembro. Conforme os dados do Banco Central, o crescimento interanual do saldo total de crédito passou de 9,0% para 8,0%, em decorrência tanto da desaceleração do crédito para as empresas como para as famílias. No entanto, houve alta de 4,3% na margem da média diária das concessões de crédito livre PF com ajuste sazonal, com maiores contribuições de cartão de crédito à vista e consignado INSS, e de 12% das concessões de crédito livre às empresas. Por fim, a inadimplência total no mês avançou 0,1 p.p., para 3,6%. Na carteira de recursos livres, a inadimplência ficou estável em 4,9%, com a de pessoas jurídicas aumentando de 3,3% para 3,4%, e a de pessoas físicas recuando de 6,1% para 6,0%. Desde junho/22, os dados mostram alta de 0,8 pp da inadimplência das famílias e de 1,7 pp da inadimplência das empresas no crédito livre. Esperamos continuidade da desaceleração dos empréstimos nos próximos meses.
O setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 18,1 bilhões em setembro, ante superávit de R$ 10,7 bilhões no mesmo período do ano passado. Em relação à composição, o governo central e os governos regionais foram deficitários em R$ 16,5 bilhões e R$ 1,1 bilhão, respectivamente, enquanto as empresas estatais tiveram resultado negativo de R$ 500 milhões. No acumulado em 12 meses, o setor público consolidado registrou déficit de R$ 101,9 bilhões, o que equivale a 1% do PIB. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), por sua vez, composta por Governo Federal, INSS, e governos estaduais e municipais, ficou estável em 74,4% do PIB entre agosto e setembro, atingindo R$ 7,8 trilhões. Para esse ano, projetamos déficit primário de R$ 110 bilhões.
Estabilização da economia chinesa ainda não está consolidada, com frustração dos resultados das exportações e da inflação em outubro. No mês passado, as exportações recuaram 6,4% na comparação interanual, abaixo do esperado, acumulando retração de 5,9% neste ano, em função da demanda externa mais fraca. Por outro lado, as importações surpreenderam positivamente, com alta de 3,0%, mas recuo de 6,6% no ano, refletindo alguma retomada da economia doméstica, especialmente em infraestrutura. Somado a isso, os indicadores de inflação continuaram em níveis baixos, aumentando a pressão por mais estímulos. O índice de preços ao consumidor caiu 0,2% na comparação com outubro do ano passado e os preços no atacado mostraram queda de 2,6%, mantendo a tendência deflacionária, em resposta à demanda fraca e ao recuo dos preços do petróleo e derivados. Nossa avaliação é que a retomada da economia chinesa ainda se mostra frágil, com sinais fracos das exportações e do setor imobiliário. Assim, na ausência de pressões inflacionárias, a política fiscal tende a ser mais expansionista nos meses à frente, para garantir a estabilização do crescimento em torno de 4,5 e 5%.
NA PRÓXIMA SEMANA
Na agenda doméstica, as atenções estarão concentradas na divulgação do volume de serviços e do índice de atividade do Banco Central (IBC-Br) de setembro. No cenário internacional, destaque para dados de inflação e atividade dos EUA e da China.