ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Prévia da inflação indica continuidade da desaceleração 

MUNDO: Fed e ECB indicam possível encerramento do ciclo de aperto monetário

Eventos da semana

No âmbito internacional, os destaques foram as decisões de política monetária nos Estados Unidos, Área do Euro e Japão. Dentro das expectativas, o Fed, banco central norte-americano, voltou a subir a taxa de juros em 25 pb, ressaltando em seu comunicado a expansão moderada da atividade e o mercado de trabalho ainda apertado. Além disso, na entrevista após a decisão Jerome Powell reforçou a dependência da análise dos dados de atividade e inflação, não se comprometendo com uma nova alta de juros nas próximas reuniões. Acreditamos que o Fed encerrará o ciclo de alta no patamar atual de juros entre 5,25% e 5,50%, com viés de manter os juros nesse nível por um período prolongado. Na Área do Euro, o BCE (Banco Central Europeu) também elevou as taxas de juros em 25 pb indicando que a próxima decisão poderá ser de pausa ou outro aumento, a depender dos dados de inflação e atividade. Por último, no Japão, o BoJ manteve inalteradas as principais taxa de juros que coordenam a política monetária no país. No entanto, a indicação do banco central de alterar a condução de sua política de controle da curva de juros (yield curve control, em inglês), com uma maior flexibilidade, surpreendeu o mercado que esperava por manutenção. No âmbito doméstico, os principais dados da semana foram a prévia de inflação de julho e os dados de mercado de trabalho de junho. Em relação aos dados de emprego, a PNAD mostrou mais uma queda da taxa de desemprego, chegando a 7,9% em termos dessazonalizados. O IPCA-15, por sua vez, exibiu nova desaceleração dos núcleos da inflação, reforçando a perspectiva de início de um ciclo de queda da taxa Selic.

Prévia da inflação ao consumidor recua 0,07% no mês de julho. O resultado do IPCA-15 veio abaixo da nossa projeção (-0,06%) e da mediana do mercado(-0,03%). Os principais responsáveis pela deflação foram itens ligados à Habitação (-0,94%), Alimentação no domicílio (-0,72%) e Veículo Próprio (-0,32%). No entanto, o foco dessa divulgação era nos itens que trouxeram uma surpresa altista relevante nas divulgações anteriores, como é o caso de Condomínio (que recuou de 1,64% em julho para 0,41%) e Aluguel Residencial (de 0,68% para -0,05%). Esses itens são relevantes, pois se enquadram no conjunto de Serviços Subjacentes, que retira itens mais voláteis do grupo de serviços. Nos últimos meses, essa medida se mostrou mais resiliente e, por isso, tem sido uma das métricas relevantes para o Banco Central decidir sobre os próximos passos da política monetária. O dado observado no IPCA-15 aponta para uma desaceleração da média móvel de três meses com ajuste sazonal anualizada, saindo de 6,9% para 5,8%. Na variação acumulada em 12 meses, serviços subjacentes encontra-se em 5,9%. Apesar do nível ainda ser alto quando comparado à meta de inflação e o histórico pré-pandemia, estamos observando uma desaceleração consistente desde o terceiro trimestre de 2022, quando a variação acumulada em 12 meses se aproximou de 10%.

Com relação à média dos núcleos de inflação do Banco Central, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, houve recuo de 4,9% para 3,9% na média anualizada de três meses com ajuste sazonal. Mesmo que essa métrica sofra da influência do programa de desconto para compra de veículos, os núcleos começam a se aproximar de patamares mais próximos da meta. Dado o cenário que se apresenta, mantemos uma perspectiva benigna para as projeções de IPCA, que situam-se em 4,8% e 3,5% para 2023 e 2024, respectivamente.

Crédito teve nova desaceleração em junho, mas inadimplência começa a dar sinais de moderação. O saldo de crédito total se elevou 8,9% na comparação interanual, em comparação a 10,6% registrados em maio. A desaceleração refletiu o menor crescimento do crédito livre, influenciado por capital de giro, do lado das empresas, e por crédito pessoal e cartão de crédito, do lado das famílias. No caso das concessões de crédito livre, a alta do mês para as famílias foi fruto da expansão de cartão de crédito à vista, modalidade associada a meio de pagamento; no caso das empresas, o avanço se deveu a capital de giro. Vale notar que modalidades emergenciais ou associadas a renegociação de dívidas seguiram com participação elevada. No entanto, a inadimplência das famílias no crédito livre passou a dar sinais de moderação, ficando estável em 6,3%, após acumular alta de 1,1 pp desde junho de 2022. A inadimplência das empresas, por sua vez, passou de 3,0% para 3,1%, acumulando alta de 1,4 pp em um ano. Nas próximas leituras, esperamos continuidade do processo de desaceleração dos empréstimos em meio a um quadro de moderação dos atrasos.

Mercado de trabalho mostrou sinais mistos em junho. Segundo o CAGED, houve criação de 157,2 mil vagas formais de trabalho em junho. Na série com ajuste sazonal, o dado representa saldo de 70 mil vagas, desaceleração em relação a maio (134 mil) e abril (161 mil). O resultado reflete a queda na margem de admissões em magnitude superior à de demissões, com contribuição negativa da maior parte dos setores, em especial serviços (de 106 mil em maio para 68 mil em junho). Com isso, a média móvel de três meses passou de 178 mil para 121 mil vagas. Os dados da PNAD sinalizaram para redução do desemprego de 8,0% em maio para 7,9% em junho na série com ajuste sazonal, puxada por alta de 0,2% da população ocupada na margem. A alta da ocupação foi influenciada por trabalhadores informais. Ainda assim, o rendimento médio real habitual teve alta de 0,2% na margem, o que fez com que a massa salarial avançasse 0,5% no período. Em suma, se de um lado o Caged mostrou desaceleração do emprego formal, a PNAD mostrou um mercado de trabalho ainda resiliente, marcado por baixa ociosidade. Nas próximas leituras, esperamos moderação do mercado de trabalho em linha com a desaceleração da atividade econômica.

Em junho, os dados do Banco Central mostraram saldo de transações correntes abaixo das expectativas, mas em meio a cenário favorável de financiamento externo. Houve saldo negativo de US$ 0,8 bilhão no mês, inferior ao superávit de US$ 0,3 bilhão exibido em junho do ano passado. Em 12 meses, o déficit em transações correntes acumula US$ 50,0 bilhões (2,5% do PIB). A piora do saldo em conta corrente refletiu as maiores remessas ao exterior de lucros e dividendos, com elevação de US$ 2,8 bilhões do déficit na conta de renda primária na comparação interanual. Atenuando esse impacto, a balança comercial teve saldo US$ 1,3 bilhão maior, totalizando US$ 8,6 bilhões no mês, fruto de queda de 16,1% das importações e de 8,7% das exportações nessa base de comparação. Por fim, os investimentos diretos no país (IDP) registraram ingressos líquidos de 1,9 bilhão, também abaixo das expectativas, embora em 12 meses acumulem 80 bilhões (4,0% do PIB). Para os próximos meses, projetamos desaceleração mais intensa das importações, bem como menor déficit de serviços em virtude da desaceleração econômica.

O setor público consolidado exibiu déficit primário de R$ 48,9 bilhões em junho, ante superávit de R$14,4 bilhões registrado no mesmo período do ano passado. Em termos de composição, o governo central e os governos regionais exibiram superávits primários de R$ 46,5 bilhões e R$ 0,93 bilhões, respectivamente, enquanto as empresas estatais foram deficitárias em R$1,5 bilhão. Em doze meses, o superávit primário acumulado foi de R$ 24,3 bilhões, equivalente a 0,2% do PIB. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), composta por Governo Federal, INSS, e governos estaduais e municipais, se manteve em 73,6% do PIB (R$ 7,6 trilhões). Em linhas gerais, déficits mais elevados deverão ser a tônica dos próximos, revertendo o superávit em 12 meses. Nossa projeção para o ano é de déficit ao redor de R$ 100 bilhões para o setor público consolidado.

O Banco Central americano (Fed) voltou a elevar a taxa de juros, levando-a para o intervalo entre 5,25% e 5,50%, conforme as expectativas. O comitê de política monetária (FOMC) reconheceu novamente a expansão moderada da atividade e o aperto do mercado de trabalho, além do nível elevado da inflação. O Comitê afirmou que a adoção de novos ajustes na taxa básica se dará mediante a análise dos novos indicadores, levando em conta o patamar já atingido e a defasagem com a qual a política monetária afeta a atividade econômica e a inflação.

O presidente do Fed, Jerome Powell, enfatizou que as próximas decisões dependerão dos dados divulgados entre as reuniões. Em entrevista após a decisão, Powell julgou os dados de inflação ao consumidor de junho como favoráveis, embora tenha ressaltado que se trate de apenas uma leitura, e que o núcleo de inflação permanece elevado. Sobre o impacto do aperto monetário, o presidente do Fed citou que a política monetária ainda não foi restritiva por tempo suficiente. Ao reconhecer que o cenário do Fed não contempla recessão nesse ano, Powell defendeu que a meta de inflação poderá ser alcançada sem uma grande piora no mercado de trabalho. Na nossa avaliação, Powell não enfatizou o cenário de juros apresentado pelo Fed na reunião de junho, o qual apontava mais uma alta de 25 pb, preferindo reforçar que as decisões futuras dependerão dos dados. Com a expectativa da continuidade de tendência baixista para a inflação, acreditamos que o Fed encerrou nessa reunião o ciclo de aperto de juros.

PIB dos EUA teve avanço de 0,6% na margem, acima das expectativas do mercado de 0,4% e do avanço de 0,5% no trimestre anterior. Em termos de composição, destaque para o consumo das famílias, com alta de 0,4%, e para o investimento, que registrou crescimento de 1,4%, após queda de 3,1% no trimestre anterior. Em termos de inflação, o relatório de preços ao consumidor (PCE) indicou continuação do processo de desinflação no país em junho, embora o nível ainda se encontre distante da meta de 2%. O núcleo da inflação desacelerou na margem de maio para junho (de 0,3% para 0,2%) e na comparação interanual (de 4,6% para 4,1%). Já o índice do custo de emprego (ECI) teve avanço na margem de 1%, abaixo da expectativa (1,1%) e do avanço no trimestre anterior (1,2%). De modo geral, os dados mostram que a atividade segue resiliente, ao passo que a tendência de desinflação tem se consolidado.

O Banco Central Europeu (ECB) elevou a taxa de juros em 25 pb, de acordo com as expectativas. Assim, a taxa de juros de referência subiu para 3,75%. Em seu comunicado, o ECB considerou que a transmissão dos últimos aumentos provocou condições financeiras mais restritas e um enfraquecimento da demanda. Além disso, o comunicado ressalta que, apesar da queda na inflação na Área do Euro, que deve continuar ao longo do ano, a expectativa ainda é de níveis elevados por tempo demais, assim justificando a alta de 25 pb em suas três principais taxas. Em entrevista após a decisão, a presidente do ECB, Christine Lagarde, deixou a próxima decisão de setembro em aberto ao afirmar que o resultado poderia ser uma pausa ou outro aumento na taxa de juros da região, a depender dos dados entre as reuniões, descartando a possibilidade de início nos cortes. Seguimos com a perspectiva que o BCE deverá manter estável as taxas de juros na Área do Euro nas próximas reuniões, reforçando que os efeitos defasados da política monetária e o alívio recente da inflação para interromper as altas e manter os juros em patamar restritivo por um período prolongado. Os riscos, contudo, continuam no sentido de uma alta adicional da taxa de juros.

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