ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Agropecuária impulsionou PIB brasileiro no primeiro trimestre

MUNDO: Mercado de trabalho nos EUA seguiu aquecido em maio

Eventos da semana

No cenário internacional, o destaque ficou para a divulgação dos dados de emprego nos Estados Unidos. Com abertura de 339 mil vagas em maio, ante a expectativa do mercado de criação de 200 mil vagas, as curvas de juros futuros reagiram com uma leve abertura em praticamente todos os vértices, refletindo a elevação da probabilidade que o Fed continue o ciclo de aperto monetário na próxima reunião. Na nossa visão, o Fed deve optar por mais um aumento da taxa de juros de 25 pb na reunião de junho, mas reconhecemos que uma pausa estará presente nas discussões do comitê de política monetária. Ainda nos Estados Unidos, a semana foi marcada pela aprovação no Congresso e no Senado da suspensão do teto da dívida pública. Por outro lado, vale destacar os dados mais fracos de atividade na China, com a queda do índice PMI, do setor de manufatura e setores não industriais. De certa forma, a economia chinesa vem mostrando sinais de moderação da atividade no segundo trimestre de 2023, após o forte crescimento observado no primeiro trimestre. No Brasil, o destaque ficou para a divulgação dos dados do PIB do primeiro trimestre, com alta na margem de 1,9% no período, ante as expectativas do mercado de 1,2%. Dentre os três grandes setores da economia, a agropecuária teve o melhor desempenho e foi responsável por 1,7 p.p. do crescimento total no trimestre, com expansão de 21,6% na margem, derivada da safra recorde de soja e milho no período.

O PIB do 1º trimestre registou avanço de 1,9% na margem. O resultado da atividade superou a nossa projeção e da mediana das expectativas do mercado (1,2%). Pela ótica da oferta, dentre os três grandes setores, a agropecuária teve o melhor desempenho e foi responsável por 1,7 p.p. do crescimento total no trimestre, com alta de 21,6% na margem derivada da safra recorde de soja e milho no período. Em serviços, houve avanço de 0,6%, com as contribuições mais relevantes vindo de intermediação financeira (1,2%), puxada pelo setor agrícola, e administração pública (0,5%), impactada pela educação pública. Por sua vez, os destaques negativos vieram de outros serviços (-0,5%) – setor que contempla alojamento, alimentação, educação e saúde privada – e serviços de informação (-1,4%), que ainda se situa significativamente acima do patamar pré-pandemia. Pela ótica da demanda, o maior destaque foi o desempenho líquido do setor externo, com queda de 0,4% na margem das exportações inferior à de 7,1% das importações na comparação com o trimestre anterior. Tanto o consumo das famílias como o do governo tiveram alta, avançando respectivamente 0,2% e 0,3% na margem. O destaque negativo foi a queda de 3,4% da formação bruta de capital fixo, decorrente do menor consumo aparente de bens de capital e da construção civil. A abertura do PIB do primeiro trimestre exibiu resultado acima do esperado, com a agropecuária sendo o principal fator de crescimento. Apesar disso, o resultado revelou desempenho modesto do consumo e queda do investimento, refletindo os efeitos do aperto monetário. Com isso, realizamos uma revisão altista da projeção do PIB para este ano para 1,9%, porém ainda considerando um cenário de desaceleração mais intensa da atividade para as próximas leituras.

Em abril, o mercado de trabalho apresentou melhora na margem. De um lado, o CAGED registrou saldo de 180 mil vagas formais, correspondente a 193 mil vagas na série com ajuste sazonal, após 202 mil em março. Houve saldo positivo em quase todos os setores, com aceleração da criação de vagas na indústria extrativa mineral (16 mil, ante 1 mil), administração pública (17 mil, ante 3 mil) e serviços industriais de utilidade pública (14 mil, ante 2 mil). O menor saldo de abril está associado à alta na margem de admissões em magnitude inferior à de demissões. Por sua vez, os dados mensalizados da PNAD Contínua em março trouxeram uma leitura melhor da emprego, com alta de 0,4% dos ocupados em relação a março puxada por empregados com carteira assinada no setor privado. De acordo com nossos cálculos, a taxa de desemprego no mês caiu de 8,3% para 8,1% na série com ajuste sazonal. No entanto, parte do bom desempenho se deve à baixa taxa de participação: se mantivéssemos a força de trabalho no nível médio de 2022, a taxa de desemprego estaria em 8,8%. Ainda pela métrica mensal, o rendimento médio ficou estável em relação a março em termos reais, passando a se situar 2,5% abaixo do nível pré-crise. Por sua vez, a massa de rendimento habitual real teve alta de 0,8% no período, situando-se 2,0% acima do nível pré-pandemia. Apesar do mês mais positivo para o mercado de trabalho, nas próximas leituras esperamos desaceleração da ocupação e da massa, ainda que a taxa de desemprego possa permanecer baixa em função do patamar reduzido de pessoas na força de trabalho.

Resultado do setor público consolidado superou expectativas em abril. O setor público consolidado exibiu superávit primário de R$20,3 bilhões em abril, ante superávit de R$38,9 bilhões no mesmo período do ano passado. O resultado ficou acima da nossa projeção (R$17 bilhões) e da expectativa do mercado (R$16 bilhões). Em termos de composição, o governo central e os governos regionais exibiram superávits primários de R$16,9 bilhões e R$4,0 bilhões, respectivamente, enquanto as empresas estatais foram deficitárias em R$602 milhões. Em doze meses, o superávit primário acumulado foi de R$56,2 bilhões, equivalente a 0,55% do PIB. Por sua vez, o resultado nominal, o qual inclui no cálculo os juros nominais, registrou déficit de R$25,4 bilhões em abril, com déficit nominal recuando de 6,1% para 5,9% do PIB no acumulado em 12 meses. Ademais, a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), composta por Governo Federal, INSS, e governos estaduais e municipais, atingiu 73,2% do PIB (R$7,5 trilhões). Em linhas gerais, o desempenho mais favorável no primeiro quadrimestre do ano acrescenta viés de alta para a nossa projeção de estabilidade para esses entes. Estimamos déficit de R$100 bilhões do setor público consolidado em 2023.

O saldo de crédito desacelerou novamente em abril. Segundo os dados do Banco Central, a variação interanual do saldo de crédito total desacelerou de 12,1% para 11,1% entre março e abril. O resultado refletiu tanto a desaceleração interanual do crédito às famílias (de 16,7% para 15,7%) como às empresas (de 5,7% para 4,6%). De acordo com nossos cálculos, houve alta de 7,5% na margem da média diária das concessões de crédito livre para pessoas físicas na série com ajuste sazonal, puxada por cartão de crédito à vista e cheque especial, passando a se situar 25% acima do patamar pré-crise. No caso das empresas, houve alta de 3,3% das concessões de crédito livre na margem, situando-se 4,6% acima do nível pré-crise. Em relação à inadimplência total, houve elevação de 3,4% em abril, com a carteira de recursos livres registrando inadimplência de 6,2% de pessoas físicas e de 2,8% para pessoas jurídicas. Desde junho de 2022, os dados mostram alta de 1,0 p.p. da inadimplência das famílias e de 1,1 p.p. da inadimplência das empresas no crédito livre. Esperamos desaceleração mais intensa dos empréstimos nos próximos meses.

A produção industrial voltou a recuar em abril, após avanço em março. Segundo os dados do IBGE, a produção industrial registrou queda de 0,6% no mês, abaixo da nossa projeção (-0,5%) e da mediana das expectativas de mercado (-0,2%). Na comparação com o mesmo período do ano passado, houve recuo de 2,7%. O resultado pode ser atribuído tanto à queda de 1,1%, na margem da indústria extrativa, puxada pela produção de minério de ferro e petróleo, como pelo recuo de 0,6% da indústria de transformação. Dentre as atividades de transformação, as maiores contribuições negativas na margem derivaram de produtos alimentícios (-3,2%), máquinas e equipamentos (-9,9%) e veículos (-4,6%). Refletindo um desempenho negativo mais disseminado, o índice de difusão da atividade industrial recuou de 61% para 39%. Sobre o núcleo da indústria de transformação que expurga setores com problemas de oferta, houve alta de 1,9% no mês, acima do dado cheio (-0,6%). Já  o núcleo, que expurga setores afetados pelo rebalanceamento do consumo de bens e serviços, subiu 0,3% no mês, também evidenciando menor demanda por bens. Com relação às categorias de uso, a retração derivou principalmente do desempenho de bens de capital (-11,5%), influenciados por caminhões e máquinas e equipamentos. A produção de insumos típicos da construção civil (ITCC) registrou queda de 0,7% na margem, passando a se situar 0,7% acima do patamar pré-pandemia. Por fim, em termos de carrego, o dado de abril representa estabilidade em relação ao primeiro trimestre de 2023, com alta de 0,2% da indústria extrativa e da indústria de transformação. Para as próximas leituras, seguimos projetando desaceleração da indústria como resultado da menor demanda por bens de consumo.

Os EUA registraram criação líquida de 339 mil vagas de emprego em maio, acima da expectativa do mercado de 195 mil. A média de criação de vagas nos últimos três meses acelerou de 253 mil vagas em abril para 283 mil vagas em maio. Entre os setores, destaque para a criação de 97 mil vagas em serviços de educação e saúde, 64 mil vagas em serviços profissionais e empresariais, e 48 mil vagas em serviços de lazer e hospitalidade. No lado negativo, a indústria destruiu 2 mil vagas, enquanto os serviços de informação destruíram 9 mil vagas. Os salários avançaram 0,3% na margem, abaixo do avanço de 0,5% em abril, implicando acréscimo de 4,3% em termos anuais, abaixo do registro anterior (4,4%). Já a taxa de desemprego avançou na margem, subindo de 3,4% em abril para 3,7% no mês, em virtude da queda na ocupação. O relatório de emprego, apesar de apresentar alguns sinais de desaceleração, revela um quadro de aquecimento no mercado de trabalho, compatível com a continuidade do aperto da política monetária.

Apesar do alívio da inflação ao consumidor, Banco Central Europeu seguirá subindo a taxa de juros. O resultado prévio do índice de preços ao consumidor apontou para alta interanual de 6,1% do índice cheio e de 5,3% do núcleo no mês passado, surpreendendo as expectativas mais elevadas de 6,3% e 5,5%, respectivamente. Na passagem de abril para maio, por sua vez, o índice cheio recuou 0,1% e o núcleo avançou 0,2%, nessa ordem, abaixo do ritmo observado nos últimos meses. Mesmo que a inflação já tenha feito pico e os preços de energia e de bens sigam sua tendência de alívio, o nível elevado e o comportamento de serviços demandam atenção. Dessa forma, mantemos nossa expectativa de mais 2 altas dos juros, de 25 pb, em junho e julho, levando a taxa básica para 3,75%.

Perda de ritmo da economia chinesa tem se dado de forma espalhada. Após forte crescimento observado no primeiro trimestre, os sinais de moderação da atividade têm se consolidado. Frustrando as expectativas, o índice PMI do setor de manufatura caiu de 49,2 para 48,8 pontos e o indicador dos setores não industriais (que consideram serviços e construção) recuou de 56,4 para 54,5 pontos, entre abril e maio. Somado a isso, dados de alta frequência apontam para arrefecimento importante das vendas de imóveis nas últimas semanas, aumentando as incertezas sobre a sustentabilidade do crescimento. Entendemos que a demanda das famílias continuará em expansão, em resposta à reabertura da economia. Todavia, a moderação da indústria e a piora do setor imobiliário residencial justificam nossa expectativa mais cautelosa para o crescimento deste ano.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para os dados de inflação, com a divulgação IPCA referente a maio (para o qual projetamos alta de 0,35%). No cenário internacional, as atenções da semana também estarão voltadas para o mesmo tema, com a publicação dos índices de preços ao consumidor e produtor na China.

Selo-Gestao-Recursos-Positivo-01

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui