ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: IPCA-15 registou alta de 0,51% no mês de maio, abaixo das projeções

MUNDO: Nos EUA, ata do FOMC reforça a dependência dos dados para a decisão de  junho

Eventos da semana

No mercado global, o destaque ficou para a divulgação da ata da última reunião de política monetária dos Estados Unidos. De uma forma geral, a ata reforçou que a continuação do ciclo do aperto de política monetária se tornou ainda mais dependente da evolução dos dados econômicos nas próximas semanas. Na nossa visão, diante dos dados correntes mais fortes e da estabilização do sistema financeiro, o Fed deverá realizar uma revisão altista nas projeções de atividade e inflação, e elevar a taxa de juros em 25 pb na próxima reunião. Por outro lado, no Brasil, o destaque ficou para a surpresa baixista da divulgação da prévia da inflação de maio, com alta de 0,51% ante expectativa de 0,64%. Com isso, os juros nominais no Brasil mostraram fechamento em praticamente todos os vértices da curva. As atenções agora estão voltadas para a divulgação do dado do PIB do primeiro trimestre que ocorre na próxima quinta-feira.

Prévia da inflação mensal desacelerou na passagem de abril para maio, exibindo alta de 0,51% no mês. O IPCA-15 ficou abaixo da expectativa do mercado (0,64%) e da nossa projeção (0,65%), atingindo variação acumulada em 12 meses, inferior ao registrado no período anterior (4,07% ante 4,20%). A maior variação positiva derivou de saúde e cuidados pessoais (1,49%), refletindo o aumento de 2,68% nos preços dos produtos farmacêuticos. Apesar do impacto positivo, essa elevação ficou abaixo das expectativas, com um repasse menor do reajuste de 5,6% em medicamentos aprovado para abril. O destaque positivo mais relevante ficou por conta do grupo alimentação e bebidas, variando 0,9% na margem, puxado pela alta do subgrupo alimentação no domicílio (1,02%), que reverteu a queda de 0,15% registrada no mês anterior. Na variação acumulada em 12 meses, o subgrupo seguiu desacelerando (5,1%, ante 5,8%), refletindo tendência de inflação de alimentos mais baixa em 2023. A maior variação negativa, por sua vez, veio de artigos de residência (-0,28%), com queda de 1,44% nos itens TV, som e informática (0,92%) em eletrodomésticos e equipamentos. Com relação ao grupo de bens industriais, na variação acumulada em 12 meses houve recuo de 6,5% para 5,2%, com arrefecimento tanto em bens duráveis (1,7%) como em semiduráveis (10,0%). Os preços administrados apresentaram recuo de 1,1% na margem, com manutenção do processo de queda na variação acumulada em 12 meses (-0,61%). Por fim, vale ressaltar a desaceleração mais intensa do grupo de serviços, variando de 0,53% para -0,06% na margem e de 7,6% para 6,5% no acumulado de 12 meses, devido ao recuo de cerca de 17% em passagens aéreas.

Com relação aos núcleos da inflação, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, a média anualizada de três meses com ajuste sazonal registrou recuo de 6,1% para 5,9%, em relação à leitura anterior. Em linha com esse resultado, a variação acumulada em doze meses seguiu desacelerando em comparação com o mês anterior (6,8% ante 7,5%). Por conta dos resultados recentes, revisamos nossa projeção de 5,5% para 5,4% para o IPCA de 2023. Cabe destacar que ainda não incorporamos alterações relacionadas aos descontos nos preços de veículos que foram anunciados durante a semana, que têm potencial baixista para a inflação de 2023, mas de alta para a projeção de 2024, tendo em vista que o desconto nos veículos deverá ter duração limitada (possivelmente de 12 meses).

O saldo de transações correntes foi negativo em US$ 1,7 bilhão em abril, acumulando déficit de 2,8% do PIB em 12 meses. No mês, a balança comercial teve superávit de US$ 6,9 bilhões, ante saldo de US$ 6,8 bilhões no mesmo período do ano passado, resultado de uma diminuição de 5,7% das exportações na comparação interanual e de 8,0% das importações. O déficit na conta de serviços totalizou US$ 3,2 bilhões em abril, mesmo resultado de abril de 2022: as menores despesas líquidas com transportes compensaram o avanço das despesas líquidas com aluguel de equipamentos e viagens internacionais. Por sua vez, a conta de renda primária teve déficit de US$ 5,4 bilhões em abril, refletindo as maiores despesas líquidas com juros e lucros e dividendos na comparação interanual. Com relação à conta financeira, os investimentos diretos no país totalizaram US$ 3,3 bilhões, enquanto os investimentos em carteira exibiram saldo de US$ 1,1 bilhão de ingressos líquidos no mês. Em linhas gerais, o resultado veio abaixo do esperado, com ligeira desaceleração dos investimentos direto no país. Para os próximos meses, esperamos menor déficit no saldo das transações correntes, refletindo recuo mais expressivo das importações e melhor resultado da conta de serviços em virtude da desaceleração econômica. 

A ata da reunião de maio, na qual o Fed elevou a taxa de juros básica em 25 pb para o intervalo entre 5,00% e 5,25%, foi marcada pelo consenso sobre a persistência das pressões inflacionárias e pela discussão do fim do ciclo de aperto monetário. A respeito da evolução do cenário, além de manterem a avaliação que a inflação segue inaceitavelmente alta, os membros reconheceram que o ritmo de desinflação do núcleo está mais lento que o esperado. Já o mercado de trabalho segue muito apertado na avaliação do comitê, embora na margem o balanço entre oferta e demanda por trabalho tenha melhorado nas últimas leituras. A respeito dos acontecimentos recentes no sistema bancário, o comitê defendeu que as medidas adotadas pelas autoridades foram efetivas na estabilização das condições financeiras, apesar de o risco no sistema bancário ainda existir. Diante desse cenário, a ata apontou que os membros concordam que a continuidade do ciclo de aperto monetário se tornou mais incerta, levando em consideração o efeito defasado do aperto de juros realizado até o momento, bem como a possibilidade de impactos negativos na atividade em decorrência dos problemas no sistema bancário. Com isso, a decisão por um novo aumento da taxa de juros em junho se tornou ainda mais dependente da evolução dos dados econômicos nas próximas semanas. Avaliamos que o Fed fará uma revisão altista nas projeções de PIB e inflação na reunião de junho, devendo elevar em 25 pb a taxa de juros.

Relatório de gastos do consumidor (PCE) nos EUA de abril aponta consumo resiliente e inflação em patamar alto. O núcleo da inflação mensurada pelo PCE subiu 0,4% na margem em abril, acima da expectativa e da variação registrada no mês anterior (0,3%). Na comparação interanual, o índice também apresentou ligeira aceleração, saindo de 4,6% em março para 4,7%, permanecendo distante da meta de 2%. No que tange ao consumo, houve acréscimo real de 0,5% na margem, com alta de 0,8% no consumo de bens e avanço de 0,3% em serviços. Após dois meses consecutivos de recuo, o consumo voltou para o patamar mais alto da série. A poupança como proporção da renda disponível recuou de 4,5% em março para 4,1%. O relatório de consumo robusto corrobora a nossa visão de pressões para que o Fed dê continuidade ao ajuste da taxa de juros.

Dinâmica da atividade econômica global, neste trimestre, segue pautada pelo setor de serviços, ao mesmo tempo em que a produção industrial continua desacelerando. Os resultados prévios dos índices PMI, conhecidos nesta semana, confirmaram essa tendência em maio e, por ora, mesmo com o arrefecimento da indústria, a resiliência de serviços ainda mantém a economia dessas regiões aquecida, dificultando o alívio dos núcleos da inflação. Nos EUA, a prévia do índice composto avançou de 53,4 para 54,5 pontos entre abril e maio, acima das expectativas do mercado que apontavam para desaceleração da atividade no período (53 pontos). Para tanto, serviços subiram de 53,6 para 55,1 pontos, acima do esperado (52,5). Por outro lado, a atividade da indústria atingiu 48,5 pontos, abaixo do patamar neutro (50) e do mês anterior (50,2). Na Área do Euro, o indicador composto mostrou queda de 54,1 para 53,3 pontos no período, em linha com as projeções. Mesmo indicando moderação do ritmo de crescimento, com queda de 56,2 para 55,9 pontos, a dinâmica de serviços continuou superando as expectativas e o nível continua elevado. Já o setor manufatureiro, mantendo a tendência dos últimos meses, recuou de 45,8 para 44,6 pontos. De forma, geral, a despeito da alta de juros adotada até então, as condições apertadas do mercado de trabalho têm postergado e moderado o efeito da política monetária. Ao mesmo tempo, somando-se à elevação dos juros, a normalização das cadeias produtivas e do consumo de bens, combinada com a desaceleração da economia chinesa, explica o arrefecimento da indústria global.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a atividade econômica, com a divulgação dos dados de emprego do mês de abril e do PIB do primeiro trimestre ano. No cenário internacional, as atenções da semana estarão voltadas para a publicação dos dados de emprego dos Estados Unidos e da inflação da Zona do Euro.

Selo-Gestao-Recursos-Positivo-01

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui