ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: IPCA registou alta de 0,61% em abril, com núcleos elevados
MUNDO: Nos EUA, processo de desinflação segue de forma gradual
Eventos da semana
Nos mercados globais, o destaque foi a divulgação dos dados de inflação nos Estados Unidos. O CPI (inflação ao consumidor, sigla em inglês) de abril teve alta na margem de 0,37%, em linha com as expectativas do mercado. O núcleo de inflação, que exclui a parcela de alimentação e energia, registrou 0,41%, mostrando estabilidade no comparativo interanual entre março e abril. De modo geral, apesar do patamar alto em 12 meses (4,96%), o CPI revela alguns sinais de arrefecimento. O dado de inflação de abril reforça nossa expectativa que o Fed deve interromper o ciclo de aperto da política monetária na próxima reunião, com a expectativa de manutenção da taxa até o final de 2023 no intervalo de 5,00% a 5,25%. Na Europa, o destaque da semana foi a decisão de juros do Banco Central da Inglaterra (BoE, sigla em inglês), que elevou mais uma vez a taxa básica de juros em 25 pb, para 4,50%. No Brasil, o principal evento da semana foi a divulgação do IPCA, com o índice de inflação de abril mostrando alta de 0,61% na margem, acima das expectativas dos analistas. A surpresa altista com a inflação doméstica contribuiu para o comportamento dos preços dos ativos, com abertura dos vértices mais curtos da curva de juros pré-fixada.
Inflação ao consumidor desacelerou na passagem de março para abril, exibindo alta de 0,61% no mês. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou acima da expectativa do mercado (0,55%) e da nossa projeção (0,57%), atingindo variação acumulada em 12 meses abaixo do registrado no período anterior (4,2% ante 4,7%). Apesar da desaceleração em relação ao mês anterior, todos os nove grupos que compõem o índice exibiram alta. Nesse sentido, a maior variação derivou de saúde e cuidados pessoais (1,5%), refletindo os reajustes no preço dos medicamentos. O grupo alimentação e bebidas também apresentou aceleração, avançando de 0,05% para 0,71% entre março e abril, influenciado principalmente pela alta no subgrupo alimentação no domicílio (0,7%), um dos responsáveis pela surpresa altista em relação às projeções. O subgrupo apresentou reversão em relação ao observado no IPCA-15, em parte pela alta de itens como Leite (4,96%) e uma deflação menor em Carnes (-0,45%). Apesar disso, na variação acumulada em 12 meses, o subgrupo de alimentação no domicílio seguiu desacelerando (de 7,0% para 5,1%), refletindo uma tendência de inflação de alimentos mais baixa em 2023. Sobre a inflação do conjunto de serviços, houve desaceleração na variação acumulada em 12 meses em comparação com o mês anterior (de 7,6% para 7,5%). O grupo de bens industriais, por sua vez, exibiu recuo mais intenso (de 6,8% para 6,0%), com arrefecimento tanto em bens duráveis (2,2%) como em semiduráveis (11,4%). Por fim, os preços administrados apresentaram uma variação menor que o esperado (0,86%), com contribuição de uma deflação em combustíveis como Gasolina (-0,52%). Na variação acumulada em 12 meses, administrados continuam em um processo de queda, variando -2,1% em abril, ainda refletindo os cortes tributários de 2022.
Com relação aos núcleos da inflação, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, a média anualizada de três meses com ajuste sazonal registrou elevação de 6,6%, avançando em relação à leitura anterior (6,1%). Já a variação acumulada em doze meses seguiu desacelerando em comparação com o mês anterior (7,3%, ante alta de 7,8%). Do ponto de vista de política monetária, um dos focos do Banco Central tem sido a inflação de serviços, que ficou relativamente estável na comparação com a prévia do IPCA. Apesar dessa não ser uma boa notícia do ponto de vista de antecipação dos cortes de juros, tal estabilidade põe fim a uma tendência de aceleração desse agregado observada no primeiro trimestre de 2023. Assim, mantemos nossa projeção de 5,6% para o IPCA de 2023 e 3,9% em 2024.
Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75%, o Banco Central detalhou o cenário econômico e os principais desafios discutidos durante a reunião. No cenário internacional, o Comitê citou as incertezas quanto às condições financeiras no ambiente externo, mas reconheceu o impacto limitado, até o momento, sobre a economia doméstica. No ambiente interno, a ata enfatizou que o conjunto de indicadores recentes segue apontando para uma redução gradual do crescimento, com moderação nos indicadores coincidentes de atividade e desaceleração na margem das concessões de crédito, apesar de resiliência maior do que a esperada para o mercado de trabalho. Na discussão sobre o cenário, o Comitê considerou elevar sua estimativa de taxa neutra de juros, mas optou por mantê-la em 4%. Para alguns membros, o processo de desinflação mais lento, junto com uma atividade econômica mais resiliente, poderiam indicar uma taxa neutra mais elevada do que a medida utilizada pelo Copom, o que implicaria em um impacto menos contracionista da taxa Selic atual. No entanto, a maioria dos membros julgou que tal intepretação ainda é prematura. Quanto ao balanço de riscos, o Copom destacou que há fatores de risco em ambas as direções para a inflação e as expectativas de inflação, o que exige atenção na condução da política monetária. Com relação ao arcabouço fiscal, o Comitê reforçou que, embora a apresentação da nova regra tenha reduzido a incerteza associada a cenários extremos de crescimento da dívida pública, não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal. Dessa forma, o Copom avaliou que a manutenção da taxa de juros no patamar atual é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Diante da ata da reunião do Copom, mantemos nosso cenário de cortes na taxa de juros a partir da reunião de setembro, encerrando o ano de 2023 em 12,50%.
A produção industrial avançou em março, após dois meses de queda. Segundo os dados do IBGE, a produção industrial registrou avanço de 1,1% no mês, acima da nossa projeção (0,5%) e da mediana das expectativas de mercado (0,9%). Na comparação com o mesmo período do ano passado, o avanço foi de 0,9%. O resultado refletiu a alta de 1,5%, no mês, da indústria de transformação, compensando a queda de 0,1% da indústria extrativa. Dentre as atividades de transformação, as maiores contribuições positivas na margem derivaram de refino de petróleo (1,7%), máquinas e equipamentos (5,1%) e fabricação de equipamentos de informática (6,7%), com o crescimento menos difundido entre setores. Contrabalançando essas altas, as principais quedas vieram de vestuário (-4,7%) e móveis (-4,3%). Sobre o núcleo da indústria de transformação que expurga setores com problemas de oferta, houve alta de 0,4% no mês, abaixo do dado cheio (1,4%), evidenciando ausência de problemas de insumos no mês. Com relação às categorias de uso, o avanço foi puxado principalmente pelo desempenho de bens de capital (6,3%), influenciados por caminhões e máquinas e equipamentos, bem como de bens intermediários (0,9%), com maior influência de derivados de petróleo. A produção de insumos típicos da construção civil (ITCC), por sua vez, exibiu alta 1,7% na margem, passando a se situar 1,5% acima do patamar pré-pandemia. Em termos de carrego, a média do primeiro trimestre de 2023 representou estabilidade em relação ao quarto trimestre de 2022, com alta de 3,0% da indústria extrativa, mas recuo de 0,3% da indústria de transformação. Para as próximas leituras, projetamos desaceleração da indústria como resultado da menor demanda por bens de consumo.
No cenário internacional, inflação dos EUA apresenta tendência de desaceleração, mas segue em patamar elevado. O índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 0,37% na margem em março, em linha com as expectativas, porém acima do observado em março (0,05%). Na comparação interanual, a alta chegou a 4,96%, ante elevação de 4,99% no mês anterior. Da mesma forma, em linha com a expectativa, o núcleo da inflação, métrica que exclui alimentação e energia do índice e é acompanhada com atenção pelas autoridades monetárias, registrou 0,41% em abril, após alta de 0,38% em março. Na composição do núcleo, o componente de serviço subiu 0,36% no mês e 6,84% em termos anuais, com destaque para a desaceleração na parcela de habitação, consistente com a desaceleração nos aluguéis. Excluindo aluguel, o núcleo de serviços teve alta moderada de 0,10%, acumulando alta de 5,2% em 12 meses. No componente de bens no núcleo, por sua vez, a inflação subiu 0,57% em abril, acumulando alta de 2,1% em 12 meses, com destaque para a alta de carros usados. Apesar de sinais mais evidentes de arrefecimento da pressão inflacionária, o quadro geral ainda é de índices elevados e distantes da meta de 2% do Fed. Com isso, o dado de inflação de abril reforça nossa expectativa de estabilidade da taxa de juros em 5,25% por um período prolongado, ao contrário da expectativa implícita na curva de juros de quedas ao longo do 2o semestre.
Na China, dados de crédito e do setor externo apontam para moderação do crescimento neste segundo trimestre. Em abril, as importações e exportações devolveram parte do resultado mais positivo observado no mês anterior, com queda de 7,9% e expansão de 8,5%, respectivamente, na comparação com mesmo mês do ano passado e ante expectativas de retração de 0,2% e alta de 8,0%. Com isso, mantemos nossa expectativa de que as exportações tendem a enfraquecer nos próximos meses, tendo em vista a desaceleração da economia mundial. Ademais, vale ressaltar que a queda dos preços das commodities tem sido explicada, em grande medida, pelo recuo das importações. Somado a isso, a carteira total de crédito avançou 10,0% no mês passado no acumulado dos últimos doze meses, com queda das concessões na passagem de março para abril, com destaque para o fraco desempenho da carteira de crédito imobiliário. Por fim, a inflação segue comportada, o que mantém espaço para a adoção de políticas expansionistas para dar suporte ao crescimento. O índice de preços ao consumidor mostrou alta interanual de 0,1% em abril, após elevação de 0,7% em março (frustrando expectativas de avanço de 0,3%). Seguindo a tendência dos últimos meses e refletindo principalmente o comportamento dos preços das commodities, o índice de preços ao produtor registrou deflação de 3,6% em março, vindo de uma variação negativa de 2,5% no mês anterior. Reconhecemos, portanto, que após forte desempenho no primeiro trimestre, a economia tem dado sinais de moderação. A retomada tende a se consolidar ao longo dos próximos meses à medida que a confiança das famílias e das empresas avance de forma sustentável. O risco baixista, contudo, se concentra principalmente na evolução do setor imobiliário residencial, que tem frustrado as expectativas.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, destaque para a divulgação dos dados de atividade econômica, com a publicação do resultado do PMS, PMC e IBC-Br. No cenário internacional, as atenções da semana estarão voltadas para a divulgação dos dados de atividade nos Estados Unidos, com vendas no varejo e produção industrial.