ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Taxa de desemprego chegou a 8,4% no trimestre encerrado em janeiro, com queda da ocupação
MUNDO: BCE subiu a taxa de juros em 50 pb, mas próximas decisões estão em aberto
Eventos da semana
O comportamento dos preços dos principais ativos globais, nesta semana, respondeu às incertezas relacionadas ao sistema bancário dos EUA e, em menor medida, da Europa. Após a intervenção em dois bancos norte-americanos, a preocupação do mercado ao longo da semana se concentrou no mapeamento de casos semelhantes, tanto nos EUA como na Europa, o que configuraria um problema maior. Por ora, de maneira simplificada, os dados disponíveis indicam que alguns bancos podem apresentar dificuldades, caso tenham que reconhecer o prejuízo decorrente da marcação a mercado de títulos em sua carteira. A questão tem sido endereçada pelo Fed, que disponibilizou uma linha de redesconto aos bancos, em nível superior ao verificado em 2008, para prover liquidez à economia. Além disso, um conjunto de bancos também deu suporte a uma instituição norte-americana de porte médio. Diante dessas incertezas que seguem presentes, o banco central dos EUA deve ter cautela em sua decisão na semana que vem, tentando contrabalançar os riscos bancários, que poderiam levar a uma situação de aperto das condições financeiras mais acentuada, com a necessidade de subir juros para conter a inflação. Nesta semana, também tivemos a reunião de política monetária na Europa. O Banco Central Europeu optou por uma elevação de 50 pb da taxa de juros, tendo como fundamento para sua decisão a inflação bastante elevada. Reconheceu que o sistema financeiro europeu é sólido, mas diante das incertezas neste momento, deixou suas próximas decisões em aberto. Assim, as curvas de juros – especialmente nos EUA e na Área do Euro – exibiram queda substancial na última semana. Na mesma direção, a tendência de queda das bolsas globais prevaleceu desde o início das turbulências no sistema bancário dos EUA, ainda que com alguma recuperação nos últimos dias. Dada a importância desse tema para a estabilidade dos mercados e para a definição da política monetária, seguimos monitorando esses riscos.
Desaceleração do mercado de trabalho no Brasil deve ficar mais evidente nos meses à frente. A taxa de desemprego atingiu 8,4% no trimestre encerrado em janeiro. O resultado veio em linha com nossa projeção, mas acima da expectativa do mercado. Na série com ajuste sazonal, houve alta de 8,5% para 8,6% na passagem de dezembro para janeiro. Para tanto, tivemos estabilidade da força de trabalho e pequeno recuo da população ocupada (-0,04%) no período. A queda da ocupação pode ser atribuída a trabalhadores formais (-0,5% na margem), puxada por trabalhadores por conta própria com CNPJ. Dentre os setores de atividade, as maiores contribuições negativas para a variação do número de ocupados vieram da administração pública (-1,2%) e da indústria (-0,1%). O rendimento médio real habitual subiu 0,3% na margem no trimestre móvel encerrado em janeiro, o que resultou em uma alta de 0,1% da massa de rendimento real no período. No entanto, quando consideramos a taxa de desemprego mensalizada, houve recuo de 8,7% para 8,6% na série com ajuste sazonal, com alta da população ocupada. Apesar do resultado mais favorável no mês, os dados da PNAD evidenciam sinais de reversão da dinâmica do mercado de trabalho, com desaceleração da ocupação e estabilização da massa de rendimento. Esperamos continuidade desse movimento, ainda que a taxa de desemprego possa permanecer baixa nos próximos meses pelo patamar reduzido de pessoas na força de trabalho.
A inflação dos EUA segue em níveis desconfortáveis. Em fevereiro, a inflação ao consumidor (CPI) nos EUA avançou 0,4% (ante 0,5% em janeiro), acumulando alta de 6,0% em 12 meses. Já o núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e energia e recebe mais atenção por parte das autoridades monetárias, variou 0,45% no mês, acima do consenso de 0,30%. Na comparação interanual, o núcleo do CPI avançou 5,5% (ante 5,6% em janeiro), com alta de 7,3% em serviços e queda de 1% em bens. No grupo de serviços, o indicador apresentou variação de 0,62% na margem em fevereiro, com destaque para aluguel, que corresponde a um terço do CPI e registrou alta de 0,76% no mês. Excluindo aluguéis, o CPI de serviços avançou 0,12% no mês, ante 0,56% no mês anterior. Anualizando a média dos últimos três meses, essa métrica apontada pelo Fed como fundamental para observar o processo de desinflação, apresentou leve aceleração entre janeiro e fevereiro, de 5,2% para 5,3%. A inflação de bens, por sua vez, apresentou leve deflação de 0,01%, seguindo a tendência de estabilidade das últimas leituras. O indicador contou com deflação de 0,90% em carros, impactado pela deflação de 2,77% em carros usados. Em linhas gerais, o quadro inflacionário segue pressionado, repercutindo a solidez do mercado de trabalho e o avanço dos salários.
O Banco Central Europeu optou por subir as taxas de juros em 50 pb. Com isso, a taxa de juro aplicável às operações de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à linha permanente de liquidez e de depósito subiram para, respectivamente, 3,50%, 3,75% e 3,00% (essa última taxa sendo a mais relevante). Ainda que essa elevação tenha sido sinalizada desde a sua reunião anterior, em fevereiro, as incertezas relacionadas ao sistema financeiro norte-americano levaram parte do mercado a esperar que a autoridade monetária europeia fosse mais cautelosa. O BCE, no entanto, pautou sua decisão pela situação econômica, em especial, pela visão de que a inflação está bastante elevada e continuará assim por bastante tempo. Como ressaltou que o sistema bancário na região está sólido, com capital adequado e condições de liquidez favoráveis, entendeu que a alta desta semana era necessária. Mas, reconhecendo os riscos advindos de uma instabilidade maior dos mercados globais, deixou suas próximas decisões em aberto. Somado a isso, afirmou que tem instrumentos e mecanismos prontos para prover liquidez ao sistema, caso necessário, dizendo que não há conflitos entre a estabilidade de preços e financeira. Para a reunião de maio, por ora, esperamos uma redução do ritmo de alta, para 25 pb, até porque a presidente da instituição, Christine Lagarde, chamou atenção para os efeitos já em curso da política monetária. De todo modo, dadas as perspectivas para a inflação e a persistência do núcleo, os juros na região devem continuar subindo nos próximos meses.
Na China, os dados de atividade do primeiro bimestre confirmaram a recuperação após o abandono da política de Covid zero no final do ano passado. Além da melhora do consumo, decorrente da maior mobilidade e da reabertura, o desempenho dos investimentos em infraestrutura e do setor imobiliário também surpreenderam de forma positiva. Assim, a produção industrial avançou 2,4% nos dois primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, levemente abaixo do esperado (2,6%), mas melhor que o registrado em dezembro. As vendas do varejo, por sua vez, registraram elevação de 3,5% no período, dentro do esperado, revelando importante retomada ante 2022. Os investimentos em ativos fixos acumularam expansão de 5,5% neste ano, acima da alta projetada de 4,5%, impulsionados pelas inversões em infraestrutura. Por fim e bastante importante é a melhora do setor imobiliário. Destacamos as quedas interanuais, menos acentuadas, das vendas e de lançamentos de imóveis de 0,6% e 8,7%, respectivamente, na somatória de janeiro e fevereiro em relação ao mesmo mês do ano passado. Vale lembrar que em 2022, essas estatísticas indicaram contrações de 26,8% e 39,8% nessa ordem. Os preços dos imóveis, na mesma direção, reverteram uma sequência de 15 quedas consecutivas na margem, ao subir 0,3% em fevereiro. Por fim, o banco central do país anunciou a redução de 0,25 p.p. do compulsório sobre as reservas bancárias, para dar suporte à economia. Portanto, esses resultados e essa ação de melhora da liquidez, somados aos sinais favoráveis que temos de março, reforçam as perspectivas favoráveis para a economia chinesa em 2023, que deve crescer ao menos 5,5%.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, destaque para a decisão do Copom, que deve incorporar a evolução da agenda fiscal bem como a dinâmica da inflação e do mercado de crédito, desde a sua última reunião. No cenário internacional, as atenções seguirão concentradas na evolução da situação bancária dos EUA e na reação do Fed, que terá reunião na quarta-feira.