ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: IPCA-15 teve variação de 0,55% em janeiro
MUNDO: PIB dos EUA avança 0,7% na margem no 4º trimestre de 2022
Eventos da semana
No cenário internacional, o destaque ficou para a divulgação do PIB dos Estados Unidos. Além do crescimento de 0,7% no 4º trimestre ter superado as expectativas de mercado, a composição do PIB revelou que o consumo das famílias, principal vetor de crescimento, ainda não mostra sinais de perda de força, o que não deve alterar a visão sobre a condução da política monetária pelo Fed. Já no âmbito doméstico, o destaque da semana foi a divulgação dos dados prévios de inflação ao consumidor em janeiro. O IPCA-15 de janeiro teve alta de 0,55%, acima das expectativas de mercado. Mesmo com um número cheio mais alto, os núcleos confirmaram a tendência de desaceleração da inflação, sobretudo nas métricas de serviços. Na próxima semana, as atenções do mercado se voltarão para a primeira reunião de política monetária do ano do Copom, na qual esperamos manutenção da Selic em 13,75%.
Em dezembro, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) apresentou alta de 0,55%. O resultado veio acima da nossa projeção e da mediana do mercado (0,52% e 0,51%, respectivamente). Com isso, a prévia da inflação atingiu variação acumulada em 12 meses de 5,9%, estável na comparação com o mês anterior. O grupo com maior variação positiva foi Comunicação (2,36%), impactado por uma elevação significativa em TV por assinatura (11,8%) e Combo de telefone, internet e TV por assinatura (3,2%). O IPCA-15 de janeiro também apresentou elevação relevante em itens de Cuidados Pessoais (1,9%), ainda capturando um movimento pós-Black Friday; no entanto, quando comparado com o IPCA de dezembro, já é possível observar uma desaceleração nos preços desse itens no início de janeiro. Em relação a surpresas altistas, a variação de Emplacamento e Licenciamento (1,6%) acabou tendo um impacto relevante para as projeções de 2023, dadas as características metodológicas desse item.
Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, a média anualizada de três meses com ajuste sazonal também arrefeceu, atingindo 5,4%. Esse resultado reforça o alívio em curso da inflação, com destaque para Serviços, que vem rodando abaixo de 5% na últimas leituras. Em 12 meses, a média dos núcleos alcançou 8,6% na prévia de janeiro, reforçando o processo de desinflação em curso. Diante da surpresa em Emplacamento e Licenciamento, assim como o reajuste de preços de gasolina promovido pela Petrobras, nossa projeção de inflação foi revistada para 5,7% em 2023. Ao mesmo tempo, a elevação das expectativas de inflação no Focus nos levaram a revisar a projeção de 2024 para 3,9%.
A arrecadação federal apresentou resultado em linha com o esperado em dezembro, encerrando o ano com crescimento real de 8,2%. A arrecadação total atingiu R$ 210 bilhões no mês, o que representou alta de 2,5% em termos reais na comparação com dezembro de 2021. Sem considerar os fatores não recorrentes, haveria um crescimento real da arrecadação total em 8,7% no período acumulado e de 5,4% em dezembro. A crescimento no ano pode ser explicado, principalmente, pelo crescimento dos recolhimentos do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL), com alta real de 16,1% e 20,9%, respectivamente. Em direção oposta, o Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) contraiu 6% em termos reais, enquanto o Imposto sobre Produtos Industrializados recuou 20,5%. Mesmo frente às políticas de redução de impostos, o desempenho da arrecadação continuou robusto, refletindo o crescimento e maior nível de preços da economia. Entretanto, apesar do quadro positivo no curto prazo, políticas de desoneração tributária, reversão do ciclo de alta dos preços das commodities e desaceleração da inflação inserem um viés de baixa para a arrecadação no médio prazo.
Em dezembro, o saldo de transações correntes foi negativo em US$ 10,9 bilhões, acumulando déficit de US$ 55,7 bilhões no ano, equivalente a 2,9% do PIB. O resultado foi inferior à nossa expectativa e do mercado. Em dezembro de 2021, o déficit havia sido de US$ 7,7 bilhões. O pior resultado na comparação interanual decorre dos maiores déficits na conta de serviços (US$ -4,6 bilhões, ante US$ -3,1 bilhões), puxado por viagens internacionais, e renda primária (US$ -9,7 bilhões, ante US$ -7,7 bilhões), puxado por maiores despesas líquidas com lucros e dividendos e com pagamento de juros, mesmo com maior saldo comercial no período (US$ 3,2 bilhões, ante US$ 2,7 bilhões). No entanto, os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 5,6 bilhões em dezembro e US$ 90,6 bilhões em 2022 (equivalente a 4,8% do PIB), mais do que compensando o déficit em conta corrente. Os investimentos em carteira, por fim, somaram US$ 4,1 bilhões em dezembro, sendo US$ 2,1 bilhões em ações e fundos de investimento e US$ 2,0 bilhões em títulos de dívida e somando US$ 6,4 bilhões no ano.
As prévias dos índices de confiança (PMI) superaram as expectativas na Zona do Euro e nos Estados Unidos. O índice PMI Composto da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços, subiu de 49,3 para 50,2 pontos entre dezembro e janeiro, apontando surpreendente expansão da atividade (nível abaixo de 50 pontos) nesse início de ano. A composição revelou alta na margem tanto da indústria, de 47,8 para 48,8 pontos, como pelo lado de serviços, que avançou de 49,8 para 50,7 pontos no mês. Esses resultados sugerem um leve crescimento da atividade no primeiro trimestre. Nos EUA, por outro lado, o indicador de confiança aponta contração da atividade no mês, apesar do número acima da expectativa. O índice PMI Composto avançou de 44,7 para 46,6 pontos em janeiro, com altas tanto da indústria de 46,2 para 46,8 pontos, como do setor de serviços de 44,7 para 46,6 pontos no mês. Apesar de números acima do esperado na Zona do Euro, nota-se uma perda de força da atividade global nos últimos, em especial da indústria. Repercutindo o aperto das condições financeiras, o PIB global neste ano deverá avançar 2,2%, ante expansão estimada de 2,8% em 2022.
Por fim, o PIB dos EUA teve avanço de 0,7% na margem no 4º trimestre, ante expectativa de mercado de crescimento de 0,6%. No ano, o PIB apresentou aumento de 2,1%, ante alta de 5,9% em 2021. O aumento na margem foi explicado pela contribuição positiva do consumo das famílias e governo, com contribuições positivas de 1,4 p.p e 0,6 p.p, respectivamente. Por outro lado, o investimento residencial contribuiu negativamente com 1,3 p.p, o sétimo trimestre consecutivo de queda. Os estoques, que nos dois últimos trimestres contribuíram negativamente, voltaram a ter participação positiva no PIB. A composição do PIB revela que o consumo das famílias, principal vetor de crescimento, ainda não mostra sinais de perda de força, o que não deve alterar a visão sobre a condução da política monetária pelo Fed. Na próxima semana, a autoridade monetária deverá elevar a taxa de juros em 25 pb para 4,75%, e reforçar que o ciclo de aperto monetário deverá ter continuidade.