ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Copom reforça sinalização de Selic acima de 12%
MUNDO: Inflação dos EUA acelera acima das expectativas em janeiro
Eventos da semana
Os dados de inflação nos EUA, que reforçaram o quadro de inflação bem acima da meta, e as sinalizações de alguns integrantes do Fed foram o foco dessa semana nos mercados globais. A indicação é que o Fed deverá debater, em sua próxima reunião, a possibilidade de movimentos mais intensos na política monetária (tanto em relação à taxa de juros quanto à redução de seu balanço). A consequência desses fatos foi a elevação da curva de juros norte-americana, com a taxa das treasuries de 10 anos superando o patamar de 2,00%. Já no mercado doméstico, o destaque da semana foi a ata do Copom, na qual houve indicação que a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante requer uma trajetória de juros superior à considerada no cenário de referência de 12%. Como consequência, a taxa prefixada de 1 ano superou novamente o patamar de 12,00%.
Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na qual a Selic foi elevada de 9,25% para 10,75%, os membros reforçaram que o ciclo de aperto da taxa de juros não deve se encerrar na reunião de março. Assim como no comunicado da semana passada, a ata mantém as condições para que o ciclo de alta se encerre: ancoragem das expectativas e processo de desinflação consistente. No entanto, a ata trouxe um tom mais duro no discurso do Banco Central em relação ao comunicado, uma vez que afirma que a desancoragem das expectativas de prazos mais longos para a inflação, derivado dos desenvolvimentos no cenário fiscal atual, mantém o viés de alta para as projeções do cenário de referência. Diante disso, o comitê avaliou que, considerada assimetria nas projeções, o ciclo de aperto monetário deverá ser mais contracionista do que o utilizado no cenário de referência ao longo do horizonte relevante. Além disso, o comitê reforçou o uso da expressão de “próximos passos” da política monetária, fortalecendo a mensagem que o processo de aumento de juros deverá prosseguir ao menos pelas duas próximas reuniões. Nossa projeção de Selic para o final do atual ciclo de aperto de juros contempla dois aumentos adicionais, levando a Selic para 12,25%. No entanto, reforçamos o viés de alta para o atual ciclo de juros.
A inflação medida pelo IPCA registrou variação de 0,54% em janeiro, com nova aceleração no acumulado de 12 meses de 10,06% para em 10,38%. O resultado ficou acima da nossa projeção (0,45%) e abaixo do consenso de mercado (0,55%), após alta de 0,73% registrada em dezembro de 2021. As principais surpresas observadas em janeiro são explicadas pela aceleração de bens industriais (1,22%). O item com maior contribuição positiva para o IPCA foi Automóvel Novo (2,2%), acumulando 17,2% de alta nos últimos 12 meses e exemplificando a continuidade da pressão em bens industriais observada desde o início de 2021. Movimento semelhante pode ser observado em Eletrodomésticos e Equipamentos (2,9%), como Refrigeradores (3,8%) e Fogão (2,8%), acumulando 15,1% em 12 meses.
Em relação à inflação de serviços, itens ligados à reabertura seguem em patamar elevado. Agregando os preços de serviços e excluindo itens mais voláteis, como Passagem Aérea (-18,6%), houve uma aceleração de 0,94% em janeiro ante 0,80% em dezembro, com pressão advinda de itens ligados a Recreação (1,6%) e contraposto pela queda da inflação Alimentação Fora do Domicílio (0,25%). Com relação aos núcleos de inflação, que são métricas que excluem ou suavizam a variação de preços de itens voláteis, a média dos núcleos dessazonalizada acelerou de 0,66% em dezembro para 0,72% em janeiro. Em 12 meses, o indicador atingiu 7,84%.
O cenário de inflação é desafiador e ainda não apresenta sinais de inflexão. O resultado de janeiro piora a perspectiva de arrefecimento em bens industriais, o que é reforçado pela elevação de preços de commodities internacionais. Com isso, revisamos nossa expectativa de inflação de 5,5% para 5,8% em 2022.
A atividade do setor de serviços apresentou novo avanço em dezembro. O volume total de serviços teve alta de 1,4% na margem em dezembro, após 2,7% em novembro. Na comparação anual, a variação foi de 10,4%, acima da nossa projeção (8,9%) e da mediana das expectativas de mercado (9,1%). Em termos de crescimento trimestral, o dado de dezembro representa alta de 0,4% em relação à média do terceiro trimestre de 2021. Dentre os setores que compõem o índice, apenas serviços de informação e comunicação tiveram queda no mês, de 0,2% na margem. No entanto, esse movimento deve ser encarado como uma correção, posto que o volume de serviços desse setor ainda se situa 12,3% acima do nível pré-crise. As maiores contribuições positivas vieram de serviços profissionais, administrativos e complementares (2,6%) e serviços de transporte (1,8%), ambos influenciados pelo forte desempenho da produção industrial no mês. Apesar do resultado positivo, mesmo com o rebalanceamento do consumo de bens e serviços incompleto, os dados para os próximos meses devem ser influenciados negativamente por um nível de demanda agregada mais fraco e pelo avanço desfavorável da pandemia no início deste ano.
As vendas no varejo restrito em dezembro recuaram 0,1% na margem. Dentre os setores que compõem o varejo restrito, as maiores contribuições negativas na margem vieram de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-5,7%) e hiper e supermercados (-0,4%), que tiveram resultados influenciados pela Black Friday no mês anterior. Em seguida, equipamentos e materiais de escritório e informática tiveram queda de 2,0% na margem. A maior contribuição positiva veio de artigos farmacêuticos (3,2%), cujas vendas provavelmente tiveram influência da evolução da epidemia no final do ano e passou a se situar 19,7% acima do nível pré-crise. O comércio ampliado, que inclui vendas de automóveis e materiais de construção, mostrou direção oposta ao registrar alta de 0,3% no mês, ainda que abaixo de nossa projeção (1,4%) e do mercado (0,8%). Houve alta das vendas de veículos (1,2%) e queda de materiais de construção (1,4%), embora suas vendas se situem 9,4% acima do nível pré-crise. Em linhas gerais, o resultado do comércio parece confirmar o processo de substituição entre o consumo de bens e serviços. Nesse sentido, os dados dos próximos meses não deverão ser favoráveis ao varejo.
Incorporando as surpresas positivas do setor de serviços e indústria em dezembro, o Índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) teve avanço de 0,3% na margem. Na comparação interanual, o índice teve alta de 1,3%. O indicador repercutiu o crescimento na margem do volume de serviços (1,4%), da produção industrial (2,9%) e das vendas do varejo ampliado (0,3%) no mês. Com o resultado, o IBC-Br se encontra 0,5% acima do nível pré-crise. A média entre outubro e dezembro representa estabilidade em relação à média do 3º trimestre. De forma geral, o resultado mostra um quadro mais favorável para o PIB no 4º trimestre.
Nos EUA, a inflação ao consumidor (CPI) apresentou variação acima da expectativa em janeiro. O CPI variou 0,6% na comparação mensal, enquanto o núcleo, métrica que exclui alimentos e combustíveis, avançou 0,5%. Em termos anuais, o núcleo do CPI teve variação de 6,0%, com alta de 4,1% em serviços e de 11,7% em bens, distantes da meta de 2%. A notícia negativa no mês ficou por conta da aceleração no núcleo de serviços, pressionado por itens de transportes (1,02%) e recreação (0,81%). Além disso, a inflação de aluguéis, que corresponde a um terço do CPI, permanece em nível elevado e relativamente estável em 5% na média móvel de 3 meses anualizada. O processo de aceleração da inflação é tema central das reuniões do Fed desde dezembro, com sinalização do início do ajuste monetária na próxima reunião em março. Nosso cenário base é de aumentos seguidos da taxa de juros em todas as reuniões, até que seja atingido o nível neutro ou moderadamente superior. Não descartamos passos superiores a 25 pb, sendo provável que esse debate esteja presente entre os integrantes do Fed na próxima decisão.
O índice de confiança (PMI) da indústria chinesa elaborado pela Caixin-Markit apresentou contração (abaixo de 50 pontos) no mês de janeiro. O PMI recuou de 50,9 em dezembro para 49,1 em janeiro, abaixo da expectativa do mercado (50,4 pontos). O PMI Composto, por sua vez, apresentou expansão em 50,1 em janeiro, ante 53 pontos em dezembro. A parcela do PMI que exclui a indústria também apresentou recuo na margem, passando de 53,1 em dezembro para 51,4 em janeiro, acima da expectativa de mercado (50,5). Parte da desaceleração observada reflete as restrições adotadas por conta da nova onda da pandemia. Mais importante, a tendência de desaceleração da atividade observada nos últimos meses tem sido contraposta nesse início de ano por estímulos de política econômica mais intensos, o que indica que devemos observar estabilização ou mesmo inflexão do ritmo de crescimento nos próximos meses.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IGP-10 na terça-feira. No cenário internacional, destaque para a divulgação da ata do FOMC e dados de produção industrial e vendas no varejo na quarta-feira. Na Zona do Euro, destaque para a parcial dos dados de atividade do quarto trimestre de 2021.