ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

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BRASIL: PIB recua 0,1% na margem no 3º trimestre, abaixo das expectativas

MUNDO:  Apesar de criação de vagas abaixo do esperado, relatório de emprego do EUA mostra queda da taxa de desemprego

O PIB do 3º trimestre de 2021 registrou queda de 0,1% na comparação com o trimestre anterior. O resultado veio próximo da nossa projeção (0,1%) e da mediana do mercado (0,0%). Considerando a revisão das pesquisas anuais feitas pelo IBGE, o PIB encontra-se muito próximo do nível pré-crise (0,1% abaixo). Na margem, os maiores desvios em relação à nossa expectativa se concentraram em agropecuária (-8,0%), outros serviços (4,4%) e intermediação financeira (-0,5%). Contrabalançando parcialmente esses resultados abaixo do previsto, construção civil  teve maior alta (3,9%), bem como transportes (1,2%) e  impostos (0,2%,). Em relação ao mesmo período do ano anterior, o PIB teve crescimento de 4,0%.

Comparando com o trimestre anterior, entre os grandes setores pela ótica da oferta, apenas serviços tiveram alta, com avanço de 1,1%. Em serviços, tiveram queda o comércio (-0,4%), refletindo o rebalanceamento entre o consumo de bens e serviços, e intermediação financeira (-0,5%). Como esperado, as maiores contribuições positivas vieram de outros serviços (4,4%) – setor que contempla alojamento, alimentação, educação e saúde privadas e foi beneficiado pela reabertura – e administração pública (0,8%).  A agropecuária recuou 8,0%, refletindo problemas nas safras de milho, cana e café, bem como menor abate de bovinos; a indústria registrou estabilidade.

Pelo lado da demanda, houve crescimento do consumo das famílias (0,9%) e do governo (0,8%). Pelo outro lado, houve pequena queda do investimento (-0,1%). O desempenho líquido do setor externo foi negativo, com queda de exportações (-9,8%) superior à de importações (-8,3%).

Apesar do resultado abaixo do esperado, a percepção qualitativa a respeito do PIB persiste. É possível notar rebalanceamento entre o consumo de bens e serviços e continuidade de problemas de oferta na indústria. Vale notar que a principal surpresa negativa veio da agropecuária, que sofreu com choques climáticos temporários. Ainda assim, houve surpresa positiva com o consumo das famílias e investimento. Ainda há espaço para crescimento do setor de serviços, principalmente administração pública e outros serviços. Nossa projeção para o PIB deste ano foi revisada para 4,6%.

A produção industrial recuou 0,6% na margem em outubro. O resultado veio abaixo da nossa expectativas e da mediana das projeções (0,8%). A queda pode ser atribuída em maior parte à indústria extrativa, que apresentou queda expressiva de 8,6%, devido à menor produção de minério de ferro e petróleo, e passou a se situar 6,1% abaixo do nível pré-crise. Na indústria de transformação, que teve recuo de 0,1%, as maiores contribuições negativas vieram da fabricação de produtos alimentícios (-4,2%) e da fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-4,9%). Contrabalançando essas quedas, houve avanço do refino de petróleo (3,7%) e da fabricação de produtos químicos (2,1%). Dentre as atividades, apenas 29,2% tiveram expansão na margem no mês, ante 58,3% em setembro. O dado de outubro representa queda de 1,3% da indústria geral em relação à média do 3º trimestre. Em suma, a leitura revela novo desempenho desfavorável da indústria em outubro. De um lado, problemas de oferta ligados ao suprimento de insumos e componentes persistem e são intensificados pela dificuldade de restabelecimento da cadeia de suprimentos global. De outro, a queda difundida entre setores sugere enfraquecimento da demanda por bens.

Dados de emprego formal (Caged) mostraram criação de 253,1 mil vagas em outubro. O resultado foi ligeiramente inferior às expectativas. Considerando a série com ajuste sazonal, o saldo foi positivo em 248 mil postos de trabalho, ante 249 mil em setembro. Na abertura por setor, todos os segmentos registraram resultado positivo, com destaque para serviços (154,6 mil, ante 115,0 mil em setembro), comércio (43,4 mil, ante 43,0 mil) e construção civil (20,1 mil, ante 16,6 mil). No mês, houve queda na margem tanto das admissões (-5,3%) como das demissões (-6,0%). Ainda assim, o patamar de contratações supera em 25% o nível pré-crise. Os dados do Caged sugerem continuidade da recuperação do mercado de trabalho formal em meio à reabertura da economia.

A taxa de desemprego recuou para 12,6% no trimestre encerrado em setembro. Na série com ajuste sazonal, a taxa passou de 13,0% em agosto para 12,6% em setembro. A menor taxa de desemprego na margem pode ser atribuída à elevação da população ocupada (0,6%) em ritmo superior ao aumento da força de trabalho (0,2%). O avanço da população ocupada foi liderado por trabalhadores formais (1,1% M/M), com maior influência de empregados com carteira no setor privado e trabalhadores por conta própria com CNPJ. Dentre os setores, as maiores contribuições positivas para a ocupação vieram do comércio (1,2%), indústria (1,7%) e alojamento e alimentação (2,0%). Estimando o que teria sido o comportamento mensal da PNAD, concluímos que a perda de massa de renda desde o início da pandemia (cerca de 297,3 bi) foi mais do que compensada pelo montante de auxílio emergencial e benefício emergencial no período. Esperamos continuidade da queda da taxa de desemprego nos próximos meses.

O setor público consolidado registrou superávit primário de R$ 35,4 bilhões em outubro, em linha com a sazonalidade do período. O resultado veio de acordo com as expectativas de mercado. Na composição do indicador, o governo central apresentou superávit de R$ 29 bilhões, os governos regionais foram superavitários em R$ 6,6 bilhões, e as empresas estatais deficitárias em R$ 264 milhões. No acumulado do ano, o setor público consolidado registrou superávit primário de R$ 49,6 bilhões ante déficit de -R$ 633 bilhões no mesmo período de 2020. A dívida bruta atingiu R$ 7 trilhões (82,9% do PIB). Os números acima do esperado nesse ano contam com a forte recuperação da arrecadação. A despeito da expectativa de déficit nos dois meses restantes desse ano, o setor público deverá encerrar 2021 com superávit ao redor de R$ 10 bilhões.

Os EUA registraram criação de 210 mil vagas de emprego em novembro. O resultado veio abaixo da expectativa de criação de 525 mil vagas. A taxa de desemprego recuou de 4,6% para 4,2%, mesmo com o avanço da taxa de participação de 61,6% para 61,8%. Vale mencionar que a pesquisa que compõe a parte de ocupação para a construção da taxa de desemprego (Household Survey) difere daquela que revela a criação de emprego formal (Establishment Survey). Na pesquisa Houlsehold, a ocupação avançou em mais de 1 milhão de vagas em novembro. A respeito dos salários, o avanço foi  0,3% na margem, abaixo do avanço de 0,4% em outubro. Em termos anuais a alta foi de 4,8%. Os números ainda revelam que a oferta de mão de obra segue como principal dúvida acerca da velocidade de recuperação do mercado de trabalho, dado que outras pesquisas apontam aumento recorde nas vagas abertas. O mercado de trabalho, portanto, segue com sinais de aperto. Nesse sentido, com fim definitivo dos auxílios, a tendência é de contínua aceleração no ritmo de criação de vagas nos próximos meses.

Na Zona do Euro, a inflação ao consumidor (CPI) apresentou variação acima da expectativa em novembro. Em termos anuais, o CPI variou 4,9% ante expectativa de 4,4% do mercado. Destaque para os preços de energia, que tiveram variação anual de 27,4%,  ante aumento de 23,7% registrado até outubro. O núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e combustíveis e costuma receber mais atenção por parte das autoridades monetárias, avançou 2,6% frente a outubro na comparação anual. A pressão sobre a cadeia de bens e a alta nos preços de energia tendem a manter a inflação em trajetória altista, mas ainda dentro da meta em 2022 e 2023. Com isso, o Banco Central Europeu (BCE) deverá manter a política monetária expansionista, adotando como cenário base a transitoriedade da inflação mais alta.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a reunião do Copom e divulgação das vendas no varejo de outubro, ambas na quarta-feira, e para o IPCA de novembro na sexta-feira (BRAM: 1,09%). No cenário internacional, destaque para o CPI dos EUA na sexta-feira.

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