SÍNTESE ECONÔMICA DE AGOSTO

SÍNTESE ECONÔMICA DE AGOSTO

Brasil: Copom eleva a Selic para 6,25% e sinaliza juro em território contracionista

Mundo: Fed sinaliza que em breve deverá reduzir o programa de compra de ativos

O Banco Central elevou a  taxa básica de juros novamente em 100 pb. Em decisão unânime, a autoridade monetária elevou a taxa Selic de 5,25% para 6,25%, confirmando as expectativas do mercado, e em linha com a sinalização da reunião de agosto. O Copom indicou que no atual estágio do ciclo de elevação de juros, o ritmo de 100 pb de ajuste é o  mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta, além de permitir que o Banco Central obtenha mais informações sobre a evolução da atividade e inflação. Com isso, avaliamos que o Copom indica que uma nova aceleração do ritmo de aperto monetário não deverá fazer parte do atual ciclo de alta da Selic.

O Copom indicou ser apropriado elevar a taxa de juros para território contracionista. O comitê continua antevendo recuperação robusta da atividade econômica. Na conjuntura externa, apesar do ambiente ainda favorável para economias emergentes, o risco se elevou com o aperto das condições monetárias e menor crescimento nas economias asiáticas bem como o risco inflacionário em economias desenvolvidas. A pressão inflacionária interna segue elevada, com alta dos preços de bens industriais em meio a aumento de preços de serviços, fruto do aumento da mobilidade, e pressão em componentes voláteis. Para a próxima reunião, em outubro, o Banco Central indicou um aperto monetário de mesma magnitude. Esperamos que o Banco Central eleve a taxa de juros novamente em 100 pb na reunião de novembro, e encerre o ano com a taxa Selic em 8,25% ao ano. O atual ciclo de aperto monetário deverá ser finalizado em fevereiro, com uma alta de 75 pb, levando a taxa de juros para 9,00% a.a..

Em setembro, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) variou 1,14%. A inflação acumulada em 12 meses apresentou nova aceleração,  de 9,68% em agosto para 10,05% em setembro. Apesar do aumento entre os meses ter sido liderado por preços de energia elétrica e passagem aérea, a leitura de setembro mostra inflação de bens industriais ainda pressionada em um momento de reabertura da economia no qual a inflação de serviços acelera de forma mais disseminada. Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens com inflação volátil, a leitura de setembro corroborou essa piora do quadro inflacionário. A média da variação dos núcleos acelerou de 0,67% para 0,79%, alcançando 6,4% em 12 meses. A inflação continuará pressionada na leitura final de setembro sobretudo por combustíveis e pelo reajuste de energia elétrica (nova bandeira de escassez hídrica). Projetamos inflação de 8,8% neste ano.

Nos EUA, o Fed manteve a taxa de juros entre 0% e 0,25% e sinalizou a possibilidade de moderação no ritmo de compras de ativos nos próximos meses. O banco central  norte-americano reafirmou que manterá o patamar da taxa de juros e o programa de US$120 bilhões mensais em compra de ativos, até o avanço substancial em direção ao alcance das metas de pleno emprego e da meta de inflação. Porém, o Fed avalia que no caso de avanço da economia em linha com a expectativa, a necessidade de redução das compras de ativos deverá ser alcançada em breve. Sobre o cenário, o Fed manteve a avaliação que a inflação avançou, mas em decorrência majoritariamente de fatores transitórios. Na entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, mostrou confiança com a recuperação do mercado de trabalho e também reconheceu que problemas de oferta podem tornar a inflação alta mais persistente no curto prazo.  Ademais, Powell mencionou que o programa de compras de ativos deverá ser encerrado em meados do próximo ano.

Nas projeções, a novidade ficou por conta da expectativa de alta de juros até 2024. Para 2022, as projeções mostram que a mediana para a taxa de juros se deslocou de 0,1% para 0,3%. Para 2023, a mediana subiu de 0,4% para 0,6%, enquanto que para 2024 (inserida a partir dessa reunião) a mediana está em 1,8%, abaixo da projeção de longo prazo de 2,5%. Essa reunião marca mais um avanço do Fed no sentido de iniciar a redução dos estímulos. O anúncio formal deverá ocorrer na reunião de novembro, com redução das compras já a partir de dezembro. De início, composição deverá comtemplar a queda das compras mensais de US$ 80 bilhões para US$ 70 bilhões em títulos púbicos, e de US$ 40 bilhões para US$ 35 bilhões em títulos ligados ao mercado imobiliário (MBS).

O índice de confiança (PMI) da indústria na China apresentou contração (abaixo de 50 pontos) no mês de setembro. As duas principais explicações para a queda do índice no mês de setembro foram as restrições de oferta de energia no país e a dificuldade na disponibilidade de insumos, que impactaram no recuo das ordens e produção, em especial na indústria pesada. Por outro lado, a parcela do PMI que exclui a indústria avançou,  passando de 47,5 em agosto para 53,2 em setembro, acima da expectativa de mercado (49,2). O aumento da mobilidade foi a principal justificativa para a melhor do índice, principalmente no setor de serviços.

Na China, a empresa Evergrande, uma das maiores incorporadoras imobiliárias do país, revelou enorme pressão de caixa e liquidez diante da frustração de vendas de propriedades e de outros ativos. O evento ocorre meio à política de desalavancagem da economia. Nesse sentido, no caso das incorporadoras, no ano passado o governo implementou métricas de controle (´três linhas vermelhas’) que abrangem limite passivo, limite dívida e capacidade de gerar caixa para honrar dívida de curto prazo. Desde abril os números já mostravam que a Evergrande não conseguia cumprir métricas de controle (´três linhas vermelhas’) que abrangem limite passivo, limite dívida e capacidade de gerar caixa para honrar dívida de curto prazo. Desde abril os números já mostravam que a Evergrande não conseguia cumprir com esses limites estabelecidos pelo governo. Em termos de representatividade na economia, o total de ativos da empresa corresponde a 2% PIB, possuindo complexidade elevada, com um alto número de subsidiárias. O risco maior de uma eventual falência da empresa, no entanto, decorre do potencial contágio para o restante setor de construção, que representa diretamente 14% do PIB.

O Banco Central Europeu (BCE) sinalizou moderação das compras de ativos nos próximos meses. Ainda, o BCE decidiu manter o patamar da taxa de depósito em -0,5%, da taxa de refinanciamento em 0,0% e da taxa de empréstimo em 0,25%. No entanto, ao contrário das últimas reuniões, os membros do BCE julgam que o ritmo de compra de ativos relacionadas ao PEPP deverá ser moderado nos próximos meses.

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