SÍNTESE ECONÔMICA DE AGOSTO

SÍNTESE ECONÔMICA DE AGOSTO

Brasil: Copom eleva a Selic para 5,25% e afirma que cenário prescreve juro acima do neutro

Mundo: Ata do FOMC reforça a  necessidade de novas discussões sobre a redução dos estímulos

O Banco Central elevou a  taxa básica de juros em 100 pb. Em decisão unânime, a autoridade monetária elevou a taxa Selic de 4,25% para 5,25%, confirmando as expectativas do mercado. O movimento marca a continuidade do processo de ajuste da taxa de juros e sancionou o cenário deixado em aberto na última reunião do Copom, segundo o qual uma deterioração das expectativas de inflação exigiria redução mais tempestiva dos estímulos monetários.

No comunicado, o Copom indicou ser apropriado elevar a taxa de juros para patamar  acima do considerado neutro para garantir a ancoragem das expectativas de inflação. Na avaliação sobre o cenário, o comitê continua antevendo recuperação robusta da atividade econômica no segundo semestre e um ambiente global favorável para as economias emergentes.  A pressão inflacionária, por sua vez, tem se revelado mais persistente do que o esperado e com composição mais desfavorável, destacando-se a elevação de núcleos gerada tanto por uma maior inflação subjacente de serviços como pela continuada pressão de bens industriais. Além disso, condições climáticas adversas incidentes sobre preços de alimentos e energia têm gerado revisões nas projeções de curto prazo.

Para a próxima reunião, o Banco Central indicou um aperto monetário de mesma magnitude. O ajuste reflete a percepção do Copom de que a piora recente em componentes inerciais dos índices de preços, em momento de reabertura do setor de serviços, poderia provocar deterioração adicional das expectativas, de forma que é necessário ser mais tempestivo no ajuste da política monetária.  Esperamos que o Banco Central eleve a taxa de juros para 8% ao final do atual ciclo de política monetária.

Em termos de atividade, o Índice do Banco Central de atividade (IBC-Br) avançou 1,1% na margem em junho. O indicador prévio do PIB registrou resultado abaixo de nossa expectativa (1,3%), mas acima da expectativa do mercado (0,6%). O indicador repercutiu o crescimento no volume de serviços (1,7%), estabilidade na indústria e recuo de 2,3% das vendas no varejo. Com o resultado, a média do índice no 2º trimestre  representa alta de 0,1% em relação à média do 1º trimestre. Na comparação interanual, o índice teve alta de 9,1%. O IBC-Br passou a se situar 1,3% acima do patamar pré-pandemia (média de janeiro e fevereiro de 2020). Em julho, os dados de atividade devem ser novamente beneficiados pelo aumento da mobilidade.

A prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) variou 0,89% em agosto. O resultado  veio acima de nossa projeção e da mediana do mercado, ambas em 0,83%. A inflação acumulada em 12 meses apresentou nova aceleração, de 8,9% em julho para 9,3% em agosto. Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens com inflação volátil, a leitura de agosto revelou uma nova piora do quadro inflacionário. A média dos núcleos teve variação de 0,57% e, no acumulado em doze meses, passou de 5,3% para 5,7%.

De modo geral, as leituras mais recentes de inflação confirmam aceleração de preços de serviços com a reabertura da economia. A inflação de bens, no entanto, não mostra tendência clara de desaceleração, como seria esperado nesse quadro. O cenário inflacionário para os próximos meses, portanto, segue pressionado. Os riscos de alta advêm tanto dos preços de alimentos, com problemas de oferta de produtos in natura e proteínas, como de bens, com os baixos estoques e escassez de insumos ainda afetando os preços. Ademais, o risco advindo da crise hídrica não pode ser minimizado. Para o final deste ano a nossa projeção de IPCA é de 7,6%.

Nos EUA, o Fed divulgou a ata da reunião de julho, na qual os membros mostraram a maior necessidade de debates sobre a redução no grau de estímulo monetário. Em linhas gerais, a maioria dos membros defendeu que, diante da evolução da economia, o início da redução da compra de ativos no mercado americano poderá ter início ao final deste ano. No entanto, foi enfatizado que essa redução não possui ligação com um possível aumento da taxa de juros básica. Sobre o cenário econômico, a ata revela que o comitê apresenta visão favorável para a atividade econômica, mas que existem riscos no curto prazo. As autoridades julgam que a incerteza da nova variante Delta da Covid-19 pode ser um desafio para o mercado de trabalho, podendo atrasar a reabertura total da economia. Os membros seguem com a avalição que a aceleração recente da inflação reflete um movimento temporário. Avaliamos que o Fed deverá adotar uma estratégia de redução gradual da compra de ativos ao final desse ano.

As prévias dos índices de confiança (PMI) de agosto vieram ligeiramente abaixo do esperado, mas ainda corroboram o cenário de crescimento robusto. O PMI Composto prévio da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços atingiu 59,5 pontos em agosto ante 60,2 em julho, sinalizando a continuidade da expansão da economia (nível acima de 50 pontos indica expansão). Nos EUA, o PMI Composto pelo segundo mês consecutivo apresentou queda, com um recuo de 59,9 pontos para 55,4 pontos entre julho e agosto. Os números revelam ainda um efeito positivo sobre a demanda de consumo e investimento diante do aumento da mobilidade, mas ressaltam o problema do aumento de custos. O aumento de casos da COVID-19 causados pela nova variante Delta é um risco iminente para o avanço nos próximos meses na oferta de produtos e nas expetativas futuras dos índices de confiança do mercado. Acreditamos que esse risco materializará de modo a produzir uma queda significativa da atividade global.

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