SÍNTESE ECONÔMICA DE JULHO
Brasil: Inflação tem nova aceleração em julho e cenário segue desafiador
Mundo: Fed reconhece atividade forte, mas mantém postura paciente com a inflação
Em julho, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) variou 0,72%. A inflação acumulada em 12 meses apresentou nova aceleração, de 8,1% em junho para 8,6% em julho. A principal surpresa altista ocorreu em Transportes, com aceleração mais intensa do que o esperado (1,07% ante 0,7%). Nesse componente, Passagem Aérea avançou 35,6%. Em relação aos demais componentes, destaque para a alta acima do esperado em Despesas Pessoais (0,36% ante 0,25%) e Alimentação e Bebidas (0,49% ante 0,41%). Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens com inflação volátil, a leitura de julho também revelou uma piora no quadro. A média dos núcleos avançou 0,6% e no acumulado em doze meses, o indicador subiu de 4,8% para 5,3%. De modo geral, as leituras mais recentes de inflação confirmam o realinhamento de preços de serviços com a reabertura da economia. A inflação de bens, por sua vez, não sinaliza tendência de desaceleração diante do espaço para repasse do aumento de custos. O cenário inflacionário para os próximos meses, portanto, segue bem pressionado. Os riscos de alta seguem evidentes com o elevado patamar dos preços de commodities, problemas na oferta de produtos in natura, baixos estoques de matérias-primas e reabertura mais rápida da economia, pressionando o setor de serviços.
O Índice do Banco Central de atividade (IBC-Br) recuou 0,4% na margem em maio. O indicador prévio do PIB registrou resultado abaixo de nossa expectativa ao mostrar queda mesmo em um mês no qual houve alta das vendas no varejo ampliado (3,8%), da produção industrial (1,4%) e do volume de serviços (1,2%), contrabalançados pela menor produção agrícola. Com o resultado, a média do índice em abril e maio representa queda de 0,2% em relação à média do 1º trimestre. Na comparação interanual, o índice teve alta de 14,2%. O IBC-Br passou a se situar 0,2% acima do patamar pré-pandemia (média de janeiro e fevereiro de 2020). Em junho, os dados de atividade devem ser beneficiados por maior montante pago do auxílio emergencial e pelo menor grau de restrições de mobilidade.
Nos EUA, o Fed manteve a taxa de juros entre 0% a.a e 0,25% a.a e reconheceu que a economia segue em recuperação firme. O Banco Central americano reafirmou que manterá o patamar da taxa de juros e o programa de US$ 120 bilhões mensais em compra de ativos, até avanço substancial em direção ao alcance das metas de pleno emprego e de inflação. No comunicado, o Fed manteve a avaliação que a inflação elevada corrente decorre de eventos transitórios. Na entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, revelou que os membros do comitê de política monetária debateram eventuais estratégias para a redução da compra de ativos. Contudo, uma decisão final será tomada apenas nas próximas reuniões, uma vez que se obtenha maior clareza sobre a velocidade de recuperação do emprego. Powell reforçou que não existe qualquer perspectiva de alteração da taxa de juros no horizonte. Gradualmente o Fed reconhece os avanços no mercado de trabalho e na inflação, abrindo espaço para o anúncio da redução dos estímulos, que em nosso cenário deverá ocorrer formalmente na reunião de dezembro, com redução efetiva das compras a partir de janeiro.
O Banco Central Europeu (BCE) manteve o patamar da taxa de depósito em -0,5%, da taxa de refinanciamento em 0,0% e da taxa de empréstimo em 0,25%. O total do Programa Pandêmico de Compras Emergenciais (PEPP na sigla em inglês) foi mantido em € 1,85 trilhão em compra de ativos, com horizonte de compras até março de 2022 ou até o BCE julgar que a crise atual tenha se encerrado. Como novidade, essa foi a primeira reunião sob a nova estratégia de política monetária, anunciada há duas semanas. Reconhecendo que as taxas de juros estão no seu limite inferior há algum tempo, enquanto as perspectivas de médio prazo para a inflação ainda estão muito abaixo da meta, o BCE assumiu o compromisso de manter a política monetária persistentemente acomodatícia até alcançar a meta de 2%. Nesse sentido, o comunicado adiciona que o aumento da taxa de juros apenas ocorrerá se o BCE estiver seguro que a meta de inflação será atingida em um horizonte curto. Em suma, a reunião com o mais novo escopo adotado pelo BCE reforça o quadro de manutenção do estímulo monetário por um período prolongado.
Em relação à atividade econômica, EUA e China tiveram crescimento no 2º trimestre deste ano. O PIB dos EUA teve crescimento de 1,6% na margem no 2º trimestre e superou o nível pré-pandemia. Dentre seus componentes, o consumo das famílias teve alta acima do esperado (2,8% na margem), com destaque para a expansão da demanda de serviços. Dentro da rubrica de investimentos, destaque para a parte não-residencial (1,9%), enquanto que a parte de investimentos residenciais recuou 2,5%. Com o avanço da vacinação e a volta da mobilidade, no 3º trimestre o PIB americano deverá apresentar crescimento de 2% na margem. Já o PIB da China avançou 7,9% no 2º trimestre na comparação com o mesmo período do ano anterior. A série com ajuste sazonal, que compara o momento atual da economia com o primeiro trimestre de 2021, mostra tendência de alta do crescimento: em termos anualizados, o crescimento na margem foi de 6%, frente ao avanço de 5% no 1º trimestre. O desempenho no trimestre contou com avanço acima do esperado dos indicadores de atividade em junho, após dois meses de frustração. Destaque para o consumo e pelo investimento liderado pela indústria privada. Em nossa avaliação, os dados revelam trajetória consistente de expansão do PIB de cerca de 8% em 2021, e afastam o temor de uma desaceleração pronunciada no segundo semestre. Nesse sentido, avaliamos que o recente corte da taxa de depósito compulsório em 0,5 p.p pelo banco central mantém relação com problemas pontuais de liquidez ao invés de um problema estrutural de crescimento.