ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: IPCA supera expectativas em maio e tem variação de 0,83%

MUNDO:  Nos EUA, inflação ao consumidor apresenta nova surpresa

Inflação tem variação mensal de 0,83% em maio e acumula alta de 8,06% nos últimos 12 meses. O resultado do IPCA veio acima da nossa projeção (0,77%) e do consenso de mercado (0,71%), confirmando aceleração expressiva frente à alta de 0,31% registrada em abril. A maior variação na passagem do mês pode ser atribuída majoritariamente ao grupo transportes, no qual  a  alta de combustíveis (gasolina  e etanol) mais do que compensou o intenso recuo de passagens aéreas, e ao grupo habitação, impactado pela energia elétrica residencial, cuja tarifa foi reajustada em virtude do acionamento da bandeira vermelha 1. Houve surpresas altistas em bens industriais, como automóveis, bem como em itens de serviços, como alimentação fora do domicílio. Nesse sentido, vale destacar a inflação de serviços com variação acima da esperada e aceleração do núcleo de serviços subjacentes, o que pode indicar menor dificuldade por parte das empresas do setor de repassar a elevação de custos para os preços finais. Com relação aos núcleos de inflação, que são métricas que excluem ou suavizam a variação de preços de itens voláteis, houve elevação das medidas subjacentes na média móvel de 3 meses e a média dos núcleos ultrapassou o teto da meta de inflação para esse ano.

Olhando à frente, projetamos alta de 5,9% do IPCA em 2021. Sobre em torno do cenário base, no sentido de alta destaque para elevação do preço de commodities, o baixo nível de estoques na indústria e o realinhamento de preços de serviços. Por outro lado, o patamar mais valorizado do câmbio e a possibilidade de menor reajuste de planos de saúde podem gerar alívio.

As vendas no varejo no conceito restrito tiveram crescimento de 1,8% em abril frente a março. Em um mês no qual as restrições de mobilidade foram abrandadas, o resultado surpreendeu positivamente, uma vez que a mediana do mercado previa uma queda de 0,3%. Dentre os componentes, apenas hiper e supermercados tiveram queda no mês, de 1,7%, corrigindo a alta de março gerada pelo deslocamento de consumo em virtude das medidas de isolamento social. As maiores contribuições positivas vieram de móveis e eletrodomésticos (24,8%), cujo volume de vendas voltou a se situar acima do patamar pré-crise, e de tecidos, vestuário e calçados (13,8%), setores que haviam registrado os maiores recuos em março. O varejo ampliado, que inclui todos os componentes do conceito restrito e adiciona as vendas de automóveis e materiais de construção, apresentou alta de 3,8% na margem em abril. As vendas de veículos tiveram crescimento de 20,3% e foram somadas à alta de 10,4% das vendas de materiais de construção.

Com o resultado de abril, o volume de vendas em ambas as métricas (restrito e ampliado) voltou a se situar acima do patamar pré-crise. No varejo ampliado, o resultado de abril representa crescimento de 1,4% em relação à média do 1º trimestre. Nos próximos meses, o comércio será  beneficiado pela nova rodada de auxílio emergencial e gradual reabertura de atividades econômicas.

Em abril, o volume total de serviços cresceu 0,7% na comparação com março. Na comparação anual, a variação foi positiva em 19,8% frente à base deprimida do início da pandemia, resultado inferior à nossa projeção (21,9%) mas superior à mediana do mercado (18,8%). Com isso, o volume total de serviços permaneceu abaixo do nível pré-crise, em 2,0% abaixo da média de janeiro e fevereiro de 2020. Entre os subsetores, foram responsáveis pelo crescimento na margem apenas os serviços prestados às famílias (9,3%), que abrangem hospedagem e alimentação e foram beneficiados pela maior mobilidade no mês, e  serviços de informação e comunicação (2,5%). A maior contribuição negativa foi provocada por serviços profissionais, administrativos e complementares, afetados pela menor atividade da indústria no mês. A tendência para os próximos meses é de recuperação gradual do setor, ainda dependente essencialmente do avanço da vacinação.  

No cenário internacional, a inflação ao consumidor nos EUA surpreendeu as expectativas em maio. O núcleo do CPI, métrica que exclui a inflação de componentes voláteis, mostrou alta de 0,7% na margem, após elevação de 0,9% em abril. O resultado ficou acima da mediana de projeções do mercado, de 0,5%, e representou aceleração do núcleo da inflação acumulada em 12 meses de 3,0% para 3,8%. Em relação ao índice geral, a variação em 12 meses subiu de 4,2% para 5,0% no período. A abertura revela que a inflação foi novamente impactada de modo significativo pela alta de preço de carros usados e de passagens aéreas. De toda forma, o avanço da vacinação no país, a reabertura da economia e os pacotes de incentivo fiscal sugerem novas pressões inflacionárias à frente, em especial no setor de serviços. Dessa forma, a preocupação com a reversão dos estímulos do Fed antes do esperado seguirá em elevação.

A inflação ao consumidor (CPI) na China apresentou alta de 1,3% em maio na comparação anual. O resultado ficou abaixo do esperado (consenso de 1,6%), mas representou aceleração em relação ao mês de abril (0,9%). A alta contou com a aceleração na inflação de alimentos, que passou de deflação de 0,7% para alta de 0,3%. O núcleo da inflação (exclui itens voláteis) também contribuiu para a alta ao acelerar de 0,7% para 0,9%. A inflação ao produtor (PPI), por sua vez, registrou surpresa altista, com alta de 9% em termos anuais, ante expectativa de 8,5%. Até o momento, o repasse do PPI para o CPI tem se mostrado comedido, o que deve dar conforto para o banco central do país manter a política monetária expansionista.

Por fim, o Banco Central Europeu (BCE) reafirmou a alteração recente na política de compra de ativos. O BCE manteve o patamar da taxa de depósito em -0,5%, da taxa de refinanciamento em 0,0% e da taxa de empréstimo em 0,25%. O total do Programa Pandêmico de Compras Emergenciais (PEPP na sigla em inglês) foi mantido em € 1,85 trilhão em compra de ativos, com horizonte de compras até março de 2022 ou até o BCE julgar que a crise atual tenha se encerrado. O BCE afirmou que prevê manter o ritmo mensal corrente de compras. Atualmente, as compras são de cerca de € 80 bilhões ao mês do PEPP, e mais € 20 bilhões em ativos pelo Programa de Compras (APP). A respeito das projeções, destaque para visão mais construtiva para o PIB em 2021 (4,6%) e 2022 (4,7%), e para a inflação em 2023 (1,4%) ainda distante da meta de 2%. Avaliamos que, dada a resistência da inflação a subir de forma consistente, os estímulos monetários devem ser mantidos por período prolongado.

Na próxima semana

No Brasil, destaque para reunião do Copom na quarta-feira, para a qual esperamos novo aumento de 0,75%, elevando a Selic para 4,25%. Na agenda internacional, o foco estará na reunião do FOMC também na quarta-feira, além dos dados de vendas no varejo e indústria nos EUA ao longo da semana. Na China serão divulgados os indicadores de atividade de maio.

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