INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: A Prévia da inflação surpreende para baixo em maio, mas cenário segue desafiador
MUNDO: Índice PCE reforça o cenário de inflação em tendência de alta nos EUA
Em maio, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) ficou abaixo do esperado. Nessa divulgação, o índice subiu 0,44% surpreendendo o consenso de mercado (0,56%) e ficando aquém da nossa expectativa (0,53%). A principal contribuição para o desvio de projeção veio de passagens aéreas, que marcou deflação de 29% nessa leitura, enquanto a expectativa para esse item era de uma leve alta. Essa queda inesperada evidencia os efeitos desinflacionários das restrições de mobilidade impostas no começo do ano para o setor de serviços. Por outro lado, o setor de bens segue com inflação elevada, com destaque para vestuário, artigos de residência e automóveis. Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens com inflação volátil, a leitura do IPCA-15 de maio mostrou uma leve elevação na margem, de forma que, na média dos últimos três meses, as medidas mais acompanhadas pelo Banco Central seguem próximas do teto da meta para esse ano. Nos últimos 12 meses, a média dos núcleos acumula alta de 4,1%.
Para o ano corrente, o cenário de inflação segue pressionado. A alta de preços de commodities, os problemas climáticos recentes no Brasil e o aumento da demanda por bens impõem uma trajetória desafiadora para a inflação nos próximos meses. Aliado a isso, há uma expectativa de realinhamento de preços, em especial no setor de serviços, de forma mais pronunciada no segundo semestre, à medida que avance o processo de vacinação. Esse efeito já ocorre em algumas economias desenvolvidas. Nossa projeção para o IPCA deste ano é de 5,6%.
Dados de emprego formal (Caged) de abril mostraram criação de 120,9 mil vagas. O resultado foi inferior à nossa expectativa de 180 mil e do mercado de 160 mil. Considerando a série com ajuste sazonal, o saldo foi positivo em 68 mil postos de trabalho, o que representa uma desaceleração frente aos resultados de 138 mil em março, 396 mil em fevereiro e 267 mil em janeiro. Desde o início da pandemia, a série ajustada com declarações entregues fora do prazo indica criação de 696 mil vagas.
Na abertura por setor, todos tiveram resultados positivos com destaque para serviços (26,5 mil, ante 78,6 mil em março), comércio (13,2 mil, ante 38,8 mil) e construção civil (11,2 mil, ante 22,0 mil). Por trás do menor saldo está o recuo de 15,2% das admissões e de 11,7% das demissões. O patamar de admissões supera em 2,1% o nível pré-crise. Apesar de um segundo trimestre com atividade mais fraca em virtude do agravamento da pandemia, esperamos evolução favorável do emprego formal por conta da segunda edição do Bem (programa que permite suspensão ou redução temporárias do contrato de trabalho) e da retomada da mobilidade a partir do final de abril.
Saldo em conta corrente registrou superávit de US$ 5,7 bilhões em abril. Com isso, o déficit saldo em 12 meses passou de 1,2% do PIB em março para 0,8% em abril. No mês, houve superávit comercial recorde de US$ 9,1 bilhões (ante US$ 4,9 bilhões em abril de 2020) impactado pelo crescimento das exportações. Também contribuíram os menores déficits em serviços e renda primária, que seguem em nível deprimido em relação ao pré-crise. Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 1,6 bilhões no mês, acumulando 2,8% do PIB em 12 meses. Ao longo dos próximos trimestres, apesar da recuperação da demanda doméstica, o resultado em conta corrente será positivamente impactado pelo maior saldo comercial e deverá encerrar o ano com déficit de US$ 7,2 bilhões (-0,5% do PIB).
Impulsionado pelas receitas, o resultado fiscal novamente superou as expectativas. Em abril, o Governo Central foi superavitário em R$ 16,5 bilhões, acima da nossa expectativa (R$ 14 bilhões). Na métrica acumulada em 12 meses, o resultado é deficitário em R$ 646 bilhões (7,9% do PIB). No acumulado do ano até abril, em valores nominais, o resultado é superavitário em R$ 41 bilhões, frente a um déficit de R$ 95,9 bilhões no mesmo período de 2020, prejudicado pelo contexto da pandemia. Quando comparado ao mesmo período de 2019, em termos reais, a receita total apresentou elevação de R$ 5,7 bilhões (3,6%) em abril, acumulando alta de 5,8% no ano. Do lada das despesas, excluindo os dispêndios em resposta à pandemia, os gastos permanecem em trajetória estável. A inflação mais alta e a recuperação cíclica da atividade têm contribuído para a melhora do panorama das contas públicas. Nossa projeção é que o Governo Central encerre o ano com déficit de 2,9% PIB.
Nos EUA, o núcleo da inflação medida pelo PCE subiu 0,7% em abril frente a março. O resultado ficou um pouco acima do consenso de mercado, de 0,6%. Em termos interanuais, a medida de inflação mais acompanhada pelo Federal Reserve, acumula alta de 3,1%, praticamente em linha com a variação do CPI na mesma base de comparação. A abertura do indicador mostrou pressões tanto em bens e quanto em serviços, com destaque para serviços de acomodação, de transporte público e para veículos usados. A perspectiva para os próximos meses é de continuidade da elevação de preços, tendo em vista os programas de estímulo fiscal implementados pelo governo e a reabertura econômica, dado o avanço na vacinação.