SÍNTESE ECONÔMICA DE ABRIL
BRASIL: Inflação melhora na margem, mas cenário de médio prazo segue desfavorável
MUNDO: Fed reconhece atividade forte, mas mantém postura paciente com a inflação
Em abril, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) ficou ligeiramente abaixo do esperado. Nessa divulgação, o índice subiu 0,60% na comparação mensal, resultado um pouco aquém da nossa expectativa (0,63%) e da mediana do mercado (0,66%). A abertura entre os grupos mostrou melhora disseminada, com destaque para o arrefecimento da inflação de combustíveis. A alto do etanol, por exemplo, cedeu de 12,6% em março para 1,5% nessa leitura. No caso da inflação de alimentos, a variação mensal foi de 0,36%, praticamente em linha com a projeção de 0,31%. Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens com inflação volátil, a leitura de março mostrou uma leve melhora na margem, em especial das medidas de inflação subjacente acompanhadas pelo Banco Central. De toda forma, elas seguem em patamar elevado.
O cenário de médio prazo, contudo, evoluiu desfavoravelmente. O mais recente movimento de alta de preços de commodities, a retomada dos pagamentos do auxílio emergencial e a antecipação do 13º salário dos aposentados impõem uma trajetória menos benigna para a inflação nos próximos meses. Além disso, há incerteza sobre a capacidade da indústria de suprir a demanda aquecida por bens, em um cenário de baixos estoques e elevação de custos de produção. A recente valorização do câmbio, por sua vez, deve atenuar esse movimento. Nossa projeção para o IPCA no ano é de 5,2%.
O Índice do Banco Central de atividade (IBC-Br) avançou 1,7% na margem em fevereiro. O indicador prévio do PIB registrou alta acima de nossa projeção (1,0%), e da mediana do mercado (0,9%). O resultado refletiu as altas das vendas no varejo ampliado (4,1%) e do volume de serviços (3,7%) no mês, contrabalançadas pela queda da produção industrial (de -0,7%). Vale notar, no entanto, que boa parte da alta das séries de comércio e serviços com ajuste sazonal se deveu a um contexto atípico, em um mês no qual o feriado de Carnaval foi suspenso em parte do país. Na comparação interanual, o índice teve alta de 1,0%. O IBC-Br já se situa 2,7% acima do patamar pré-pandemia (média de janeiro e fevereiro de 2020) e a média de janeiro e fevereiro representa crescimento de 2,9% em relação ao último trimestre de 2020. No entanto, os dados de março e abril deverão sofrer o impacto das novas restrições de mobilidade decorrentes da piora da pandemia.
Nos EUA, o Fed manteve a taxa de juros entre 0% a.a e 0,25% a.a e reconheceu a melhora recente no cenário diante do avanço da vacinação e dos estímulos fiscal e monetário. O banco central americano reafirmou que manterá o patamar da taxa de juros e o programa de US$120 bilhões mensais em compra de ativos, até avanço substancial em direção ao alcance das metas de pleno emprego e da estabilidade de preços. No comunicado, o Fed destacou que a inflação avançou, mas em decorrência de eventos transitórios. Na entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, revelou que a recuperação econômica segue incompleta e que, portanto, qualquer discussão sobre a retirada de estímulos é prematura. Sobre a dinâmica de inflação, Powell defende que o Fed deve ser paciente, não reagindo aos movimentos transitórios de alta nos preços. O Fed segue com uma postura cautelosa acerca da diminuição dos estímulos. Avaliamos que esse debate se tornará mais intenso a partir do 3º trimestre, com potencial redução das compras de ativos a partir do início de 2022.
O Banco Central Europeu (BCE) reafirmou a alteração recente na política de compra de ativos. Em reunião com poucas novidades, o BCE manteve o patamar da taxa de depósito em -0,5%, da taxa de refinanciamento em 0,0% e da taxa de empréstimo em 0,25%. O total do Programa Pandêmico de Compras Emergenciais (PEPP na sigla em inglês) foi mantido em € 1,85 trilhão em compra de ativos, com horizonte de compras até março de 2022 ou até o BCE julgar que a crise atual tenha se encerrado. Mas, assim como na reunião anterior, o BCE afirmou que prevê um ritmo mensal de compras mais forte no segundo trimestre na comparação com os primeiros meses do ano. O valor exato do ritmo não foi detalhado pelo comitê no documento, mas o volume semanal de compras já aumentou em cerca de 20% desde março. A intenção do BCE com essa aceleração é manter as condições financeiras expansionistas, a fim de favorecer o alcance da meta de inflação no médio prazo. Avaliamos que, dada a resistência da inflação a subir, os estímulos monetários devem ser mantidos por período prolongado.
Com relação à atividade econômica, os EUA caminham para uma recuperação mais rápida do que a Zona do Euro. O PIB americano teve crescimento de 1,6% na margem no 1º trimestre de 2021. O resultado representou aceleração ante o trimestre anterior (1,1%). Entre os componentes do indicador, o consumo das famílias teve alta de 2,6% e o investimento avançou 2,4%, com destaque para equipamentos tecnológicos e software. Apesar do bom resultado, o PIB ainda se mantém 0,9% abaixo do nível do final de 2019. Esperamos avanço de 2,5% no PIB do segundo trimestre e alta de 6,5% no ano de 2021, ante queda de 3,5% em 2020. Em direção oposta, a Zona do Euro entrou em recessão técnica, com dois trimestres consecutivos de recuo no PIB. Em virtude do recrudescimento da pandemia e das medidas de restrições à mobilidade, o PIB da região contraiu 0,6% no 1º trimestre, após recuo de 0,7% no trimestre anterior. A atividade na Alemanha foi a mais prejudicada no período, com recuo de 1,7%. O PIB da Zona do Euro segue 5,6% abaixo do nível do final de 2019, mas deve ter melhora à frente, dado alívio às restrições de mobilidade e o avanço na vacinação. No ano, o PIB da Zona do Euro deverá apresentar expansão de 3,5%.