BRASIL: IPCA-15 tem resultado abaixo do esperado. CAGED surpreende positivamente
MUNDO: Com avanço da pandemia, confiança do consumidor dos EUA surpreende negativamente
A prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) de dezembro surpreendeu, com variação abaixo do esperado. Nessa leitura, o índice subiu 1,06%, em comparação a 0,81% de novembro, resultado abaixo da nossa expectativa (1,19%) e da mediana do mercado (1,17%). O resultado interrompe uma série de divulgações com resultados acima do esperado. Entre os grupos, os maiores desvios em relação à nossa projeção estiveram concentrados em Alimentação no Domicílio (variou 2,57%, frente a nossa previsão de 3,00%), puxado principalmente por Alimentos in Natura (3,29%); e Transportes (que variou 1,43%, em comparação com a previsão de 1,89%), com deflação inesperada do item Automóvel Novo (-0,12%). Com esse resultado, a inflação acumulada em 12 meses medida pelo IPCA-15 se manteve em 4,2%. A respeito das medidas de núcleo da inflação (métricas que excluem ou suavizam itens voláteis), a média dos 5 principais núcleos registrou alta de 0,39% no mês, na série com ajuste sazonal, e de 2,5% nos últimos 12 meses. Com os resultados do IPCA-15 de dezembro, revisamos a nossa projeção para a inflação de 2020 para 4,3%.
Dados de criação de emprego formal (Caged) de novembro apresentam nova surpresa positiva, com a criação de vagas acima da expectativa. Quando consideramos os dados com ajuste sazonal, o saldo de criação de vagas no mês foi de 396 mil em novembro, ante 364 mil em outubro, 260 mil vagas em setembro e 177 mil vagas em agosto. Todos os setores apresentaram resultado positivo no mês, enquanto a principal contribuição para o bom resultado veio do setor de serviços, que abriu 180,1 mil postos de trabalho. Vale lembrar que esse foi o setor mais impactado pelas restrições de mobilidade decorrentes da epidemia. Destaque também para o comércio (91,3 mil vagas) e para a indústria de transformação (70,0 mil vagas). O resultado demonstra o efeito da retomada das atividades econômicas sobre o mercado formal de trabalho, mas cabe observar que, nos últimos 9 meses, quando analisada a série com ajuste sazonal, ainda há um saldo acumulado de destruição de vagas próximo de 300 mil. Houve elevação de 2,1% das admissões e de 0,3% das demissões, com o patamar de admissões superando em 20% o nível pré-crise. O crescimento das admissões é um sinal de aquecimento do mercado de trabalho. A criação de vagas deve seguir nos próximos meses com a retomada gradual da economia.
Por outro lado, a taxa de desemprego atingiu 14,2% em novembro, segundo a PNAD Covid. De acordo com os dados da pesquisa, a taxa aumentou de 14,1% para 14,2% na margem. A alta foi causada por uma elevação da população ocupada (0,6%) em ritmo inferior ao aumento da força de trabalho (0,8%). Isto significa que o movimento de alta do desemprego foi causado pela volta de pessoas ao mercado de trabalho, com mais pessoas buscando emprego no mês. Assumindo uma taxa de participação constante, a taxa de desemprego teria sido de 20,2%. Entre os 84,7 milhões de ocupados, 2,1 milhões ainda estavam afastados do trabalho em função da pandemia em novembro, e 7,3 milhões trabalhando de forma remota. Esperamos que a taxa de desemprego continue em tendência de alta à medida que mais pessoas reingressem no mercado de trabalho.
Crédito acelera em novembro e atinge o patamar de 53,1% do PIB. Segundo nota do Banco Central, o saldo de crédito acelerou de 14,% em outubro para 15,6% em novembro, na comparação anual. O crescimento segue mais forte no crédito destinado às empresas, que subiu de 21,% para 22,1%. O aumento do crédito às empresas foi liderado pelo crédito livre (24,7%), mas também houve alta das linhas direcionadas, sobretudo os empréstimos no âmbito do Pronampe. O crédito às famílias também acelerou, mas em ritmo menor, variando 10,9% na comparação anual, ante 9,8% no mês anterior. Por fim, a inadimplência recuou de 2,3% para 2,2%.
Ainda sobre a economia brasileira, a arrecadação federal de novembro foi de R$140,1 bilhões, o melhor resultado para o mês em 6 anos. O resultado representa alta de 7,3% em termos reais na comparação anual e foi o quarto mês consecutivo de crescimento real da arrecadação nessa métrica. No ano, a arrecadação acumula R$ 1,32 trilhão, recuo de 8,0% em termos reais em relação ao mesmo período de 2019. As receitas refletiram a retomada gradual da atividade, em especial do comércio e indústria, além do recebimento de R$14,8 bilhões de tributos adiados do primeiro semestre e R$1,2 bilhões em arrecadações extraordinárias em Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). A continuidade da recuperação da arrecadação dependerá da retomada da atividade em meio à incerteza quanto à segunda onda da pandemia e aos efeitos dos estímulos fiscais e monetários.
Com o avanço do coronavírus e a imposição de novas restrições à mobilidade, a confiança do consumidor nos EUA surpreendeu negativamente em dezembro. Segundo o Conference Board, o indicador recuou pelo 2º mês consecutivo com 88,6 pontos, atingindo o menor patamar desde agosto (86,3 pontos). A piora se concentrou exclusivamente na avaliação da situação corrente. No intuito de mitigar os efeitos negativos sobre a atividade, o Congresso aprovou um novo pacote fiscal de aproximadamente US$ 900 bilhões que prevê, entre outras medidas, a extensão do auxílio temporário aos trabalhadores durante o 1º trimestre do próximo ano. As medidas fiscais de suporte à economia serão importantes para reduzir o impacto sobre a economia no curto prazo.
Na próxima semana
No Brasil, destaque para a divulgação do resultado primário do governo na terça-feira. No quadro internacional, destaque para os dados de confiança da China (PMI), divulgados na quarta-feira.
Caros leitores, este foi o último Enfoque Econômico da BRAM em 2020. Retomaremos nossas publicações em 8 de janeiro de 2021. Nossa equipe deseja Boas Festas e um 2021 de grandes realizações.