O que são opções na Bolsa?

Investidor compra opção de negociar ação no futuro, tentando adivinhar resultado; pode ganhar ou perder muito

COLABORAÇÃO PARA O UOL, EM SÃO PAULO

Das inúmeras operações possíveis na Bolsa, poucas podem ser tão rentáveis quanto negociar contratos de opções. É um tipo de negócio que permite lucrar, multiplicando em muitas vezes o investimento, tanto na alta quanto na baixa das ações.

O investidor precisa ter, contudo, técnica e saber ler as tendências do mercado —o que nunca é fácil— para especular num negócio que, se der errado, representará a perda de todo o investimento ou, pior, colocar o seu patrimônio em risco.

 

O que são calls e puts

Opções são contratos que dão a seu detentor o direito de comprar ou vender um ativo —vamos considerar aqui uma ação— em data futura a um preço pré-determinado. Os instrumentos também são conhecidos por dois nomes em inglês: call (opção de compra) e put (opção de venda).

O titular da call vai exercer o direito de compra se na data de vencimento do papel o valor de mercado da ação estiver acima do preço de exercício da opção, também conhecido como strike. Afinal, neste caso, terá o direito de comprar a ação por menos do que ela vale.

Já quem tem uma put só vai exercer a opção de venda se, na data de vencimento, o valor de mercado da ação estiver abaixo do strike. Ou seja, vai exercer o direito conferido pela put de vender a ação por mais do que ela vale.

Logo, calls geram ganhos em cenários de alta, ao passo que os retornos das puts acontecem em cenários de baixa.

Quanto mais a ação subir e se distanciar do preço fixado na call, mais a opção de compra vai se valorizar. Já a put vai se valorizar à medida que a ação for perdendo valor.

Note que as opções têm um prazo de validade. Se não forem exercidas até o vencimento, elas “viram pó”. O detentor da opção, contudo, não é obrigado a carregar o papel até o vencimento, podendo vender antes no mercado com lucro, se a sua previsão de preço for correta, ou prejuízo, caso tenha errado.

É recomendável conhecer profundamente este mercado antes de entrar operando, seja com ou sem cobertura.

Bruno Musa, sócio da Acqua Investimentos

O pior cenário ao se comprar opções ocorre quando o mercado não dá condições de exercício, fazendo com que o investidor perca o valor investido. Por outro lado, uma vez que o mercado der condições de exercício, é possível obter lucros de 100%, 200%, 300% e muito mais.

Opções servem como proteção ou especulação

O investidor pode comprar opções como forma de proteger a sua carteira —garantindo, por exemplo, um preço mínimo de venda a suas ações com as puts. Ele também pode operar sem ter uma contraparte em ações, buscando os ganhos com a valorização das opções. É a chamada operação a descoberto, ou compra a seco de opção, uma forma de especular neste mercado com as variações de preços.

Quando o investidor compra uma opção, ele já sabe o máximo que pode perder na operação: o preço, chamado de prêmio, pago na compra do papel. Caso ele não exerça a opção porque a ação não foi na direção prevista, ele perde o dinheiro investido numa call ou put que não deu em nada na data de vencimento.

No entanto, se o investidor acerta, ele ganha a diferença entre o strike (preço de exercício) e o valor de mercado da ação, pagando apenas o preço da opção, que é muito menor do que o valor de uma ação. Por isso, o resultado final pode ser em muitas vezes superior ao investimento feito nas opções.

Enquanto o risco de perda é conhecido no momento do investimento, os ganhos potenciais são muito maiores, podendo ser ilimitados no caso de uma call bem-sucedida.

Como é pago um prêmio já na entrada, o investidor vai no máximo perder este valor, enquanto o seu ganho é ilimitado conforme a ação a qual a opção está vinculada se valoriza.

Lucca Toledo, da mesa de operações da Terra Investimentos

Venda a descoberto só é indicada a profissionais

Na ponta oposta, atua o vendedor das opções, que está interessado no prêmio cobrado pelos papéis. Quem vende uma call assume a obrigação de vender uma ação em data futura a um preço pré-estabelecido. Já quem vende uma put assume a obrigação de comprar a ação no vencimento pelo preço do strike.

Quando um investidor lança uma call com cobertura —ou seja, tem as ações que serão vendidas em caso de exercício—, o prêmio obtido financia parte do que ele investiu nas ações em carteira. Assim, ele reduz o investimento feito na ação com o dinheiro tirado do caixa.

Por outro lado, o investidor, neste caso, limita a valorização de suas ações ao preço previsto na opção, já que o instrumento será exercido em cenário de alta.

Já em lançamentos de puts ou calls sem cobertura, a operação ganha complexidade, sendo altamente contraindicada ao investidor não profissional. A lógica aqui é ganhar o prêmio pago por opções que, no prognóstico de preços de quem as lança, não serão exercidas.

Se der certo, o investidor vai levantar dinheiro sem ter investido nada, já que basta a apresentação de garantias para lançar opções. Porém, caso a operação fracasse, ele terá que entregar o patrimônio colocado como garantia para cobrir o prejuízo.

Aqui, os sinais se invertem: o ganho obtido pelo dono da opção corresponde ao prejuízo de quem a lançou. Já o prejuízo do detentor da opção é o lucro de quem a lançou.

Então, se na compra da opção o prejuízo máximo é conhecido na entrada, e os ganhos podem ser ilimitados, na ponta vendedora o ganho é limitado ao prêmio recebido na venda do papel, enquanto o prejuízo potencial é desconhecido.

Para limitar essas perdas, há uma estratégia: ao mesmo tempo em que vendem, os investidores compram opções equivalentes para assegurar um preço de venda ou compra da ação.

Se o investidor quiser mesmo operar opções a descoberto de forma especulativa, que seja dentro de um capital que ele aceita perder e que não fará diferença na vida dele se esse capital operado virar zero. Porque isso acontece com altíssima frequência dentro desse tipo de operação.

Bruno Musa, sócio da Acqua Investimentos

É estritamente desaconselhável o investidor realizar venda a descoberto, principalmente quando o mercado está disruptivo. O prejuízo não está limitado e, em caso de posição alavancada, pode, em pequenas oscilações, “quebrar” o investidor. Investidor machucado na maioria das vezes é menos um CPF na Bolsa.

Lucca Toledo, da mesa de operações da Terra Investimentos

Para vender opções, é obrigatório apresentar garantias

Para vender opções, o investidor precisa apresentar garantias à corretora, que podem ser ativos diversos como ações, títulos públicos e dinheiro em conta corrente. Quanto maior for a volatilidade do ativo, maior será a garantia exigida.

Além disso, caso o risco da operação aumente durante o seu curso, a Bolsa exigirá o depósito de mais garantias nas chamadas de margem. Por isso, no limite, o erro numa venda a descoberto de opções pode arruinar um investidor.

Para evitar uma tragédia financeira, os departamentos de risco da corretora podem interromper a operação com prejuízo sem consultar o investidor.

Getty Images/iStockphoto

Ao menos que você tenha razões claras para fazer um lançamento descoberto de call, e tenha total consciência dos riscos envolvidos, esse tipo de operação é pouquíssimo recomendado. A razão é bem simples: a ação pode subir além do preço de strike, gerando prejuízos e, como teoricamente não há limites para a alta, também não há limites para o prejuízo.

João Lux, analista de produtos da CM Capital

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