ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

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BRASIL:  Emprego formal  surpreende positivamente em junho

MUNDO: Fed reforça disposição de aumentar estímulo, caso necessário

Dados de criação de emprego formal (Caged) de junho apresentaram surpresa positiva, com destruição de vagas bem abaixo do esperado. Quando consideramos os dados com ajuste sazonal, o saldo negativo de criação de vagas foi de 8,7 mil em junho, ante destruição de 389 mil vagas em maio e 958 mil vagas em abril. O resultado surpreendeu positivamente o mercado que apresentava expectativa média de -200 mil vagas. Por setor, serviços foi o mais afetado, com o fechamento de 44,9 mil vagas, seguido do comércio que perdeu 16,6 mil empregos. Dois setores apresentaram aumento de postos de trabalho formal: a agropecuária (+36,8 mil) e a construção civil (+17,3 mil).

O resultado do CAGED demonstra o efeito parcial do relaxamento do isolamento sobre o mercado formal de trabalho. Até o momento, ao todo 1,4 milhão de postos formais de trabalho foram destruídos pela pandemia. Vale notar que o número de admissões, que indica retomada de um maior dinamismo do mercado de trabalho, segue abaixo do pré-crise, compatível com a contração de 5,8% do PIB nesse ano.

O setor público consolidado registrou déficit de R$ 188,7 bilhões em junho. Esse resultado representou alta em relação ao déficit de R$ 131,4 bilhões em maio. Os dados seguem refletindo o aumento de despesas para conter os impactos da pandemia, a postergação do pagamento de tributos e a queda da atividade. Nesse contexto, o Governo Central apresentou déficit de R$ 195,2 bilhões e os governos regionais superávit de R$5,8 bilhões. A dívida bruta, por sua vez, encerrou em 85,5% do PIB (+3,6 p.p ante maio). O cenário segue desafiador do ponto de vista fiscal, mas a retomada da atividade pode aliviar a queda das receitas. Nossa projeção é de déficit primário de 11,6% do PIB para 2020.

O saldo em conta corrente terminou o primeiro semestre de 2020 com déficit de US$ 9,7 bilhões. Em junho, a conta corrente apresentou superávit pelo 4º mês consecutivo, com saldo de US$ 2,2 bilhões.  O resultado representou recuo de 53,6% em relação ao déficit do 1° semestre de 2019. A melhora se deu pelo maior saldo comercial e pela redução dos déficits de renda primária (principalmente remessas de lucros e dividendos) e de serviços. O saldo comercial no semestre alcançou US$ 19,3 bilhões, representando um recuo de 13,8% em relação ao mesmo período de 2019. Com esses resultados, o déficit em conta corrente somou 2,35% do PIB em doze meses.

Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 71,7 bilhões no acumulado de 12 meses. Os ingressos líquidos no mês foram de US$ 4,8 bilhões, ante US$574 milhões em junho de 2019.  Além disso, após quatro meses de saídas líquidas, o fluxo de investimento em portfólio no mercado doméstico foi positivo em US$ 2,4 bilhões. Em decorrência da contração da atividade, que reduz a demanda por importação de bens e serviços, o déficit em conta corrente nesse ano deverá recuar para US$ 2,5 bilhões.

Crédito acelera em junho e chega a 50,4% do PIB. Segundo dados do Banco Central, o saldo acelerou de 9,2% em maio para 9,8% em junho, na comparação anual. O crescimento do crédito é agora dominado pelo crédito às empresas, que acelerou de 10,3% para 11,5%, liderado pelo crédito livre (22,4%). O crédito à pessoa física também acelerou, passando de 8,4% para 8,5% na mesma métrica. Por fim, a inadimplência recuou de 3,2% para 2,9%. Os dados de junho são positivos, sem sinais de elevação da inadimplência, aumento de concessões de crédito emergencial ou renegociação de dívidas. A tendência para as próximas leituras é de menores patamares de concessão de crédito.

No cenário global, o Fed manteve a taxa de juros entre 0% a.a e 0,25% a.a e os programas de estímulo (compra de ativos) no mesmo patamarComo sinalização, o Fed afirmou que manterá a taxa de juros nesse nível até que a economia tenha superado os eventos recentes e esteja condizente com o alcance das metas de emprego e inflação. A autoridade monetária reconhece que a recuperação da economia dependerá significativamente do vírus. Na entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que o Fed está disposto a aumentar o grau de estimulo em caso de necessidade, admitindo o momento atual como um período de incerteza elevada. Powell também ressaltou a importância da manutenção do suporte fiscal. Diante de toda a incerteza oriunda do vírus e do impacto sobre o mercado de trabalho, avaliamos que os estímulos permanecerão por um período prolongado.

Ainda nos EUA, o PIB  do 2º trimestre apresentou contração de 9,5% (-32,9% anualizado), maior retração da história do país. Entre os componentes do PIB, a maior contribuição negativa foi de gastos com consumo das famílias (-10,1%). Os dados são compatíveis com a restrição de atividades para contenção da pandemia adotadas durante o trimestre. Mesmo com incerteza em relação a retomada do mercado de trabalho, altas recentes do varejo e da indústria apontam para início da retomada econômica do país no terceiro trimestre.  No ano, o PIB deve recuar em torno de 5%.

Na Zona do Euro, a leitura preliminar do PIB do 2º trimestre mostrou contração histórica de 12,1% na margem (-40,3% anualizado), em linha com a expectativa.  Por país, a queda mais expressiva ocorreu na Espanha (-18,5%), seguida por Itália (-12,4%) e França (-13,8%). Na Alemanha, maior PIB da região, a contração foi de 10,1%. Com o avanço do vírus na região, os países adotaram severas restrições de mobilidade, em especial nos meses de abril e maio, impactando de forma expressiva a atividade na região. Os indicadores de confiança sinalizam recuperação de parte das perdas no 3º trimestre, com destaque para o setor de serviços. No ano, a região deverá contrair ao redor de 8%.  

Na China, os índices de confiança (PMI) de julho sinalizam a continuidade da recuperação no 3º trimestre. O indicador de confiança da indústria subiu de 50,9 para 51,1 pontos em julho, enquanto o PMI de serviços registrou leve queda, de 54,4 para 54,2 pontos. Desde março, com a flexibilização das medidas de isolamento, os PMIs se mantiveram acima de 50 pontos, o que indica expansão da atividade. Após contração de 6,8% no 1º trimestre e alta de 3,2% no 2º trimestre, a expectativa é que a China retorne ao crescimento acima de 6% já no terceiro trimestre. No ano, o PIB deve crescer ao redor de 2,5%.

Na próxima semana

Na agenda local, destaque para a divulgação dos dados da indústria, na terça-feira (BRAM: 8,0% m/m) , para a reunião do COPOM, na quarta-feira, que definirá a taxa Selic (BRAM: 2,0% a.a) e para a divulgação do IPCA de julho (BRAM:0,37%), na sexta-feira. Na agenda internacional, destaque para a divulgação dos dados de confiança (PMI) da Zona do Euro e dos EUA, e para os dados de vendas no varejo e mercado de trabalho nos EUA.

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