ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Produção industrial registra queda recorde em abril
MUNDO: Recuperação do emprego nos EUA. Na Zona do Euro, BCE amplia compra de títulos
A produção industrial apresentou recuo menor do que o esperado em abril, porém o maior da série histórica. No mês, a produção recuou 18,8% na margem, refletindo os efeitos da pandemia sobre a atividade. A queda foi menor do que nossa projeção (-26,2%) e a do mercado (-28,3%). Houve recuo expressivo da indústria de transformação (-23,0%) e estabilidade da indústria extrativa. Na indústria de transformação, as maiores contribuições negativas vieram da fabricação de veículos (-88,5%), do refino (-18,4%) e da metalurgia (-28,8%). Dentre as categorias de uso, a maior queda ocorreu em bens de capital (-41,5%). Por sua vez, a produção de insumos típicos da construção civil também apresentou queda acentuada, de 22,6% em abril. Com a retração da indústria, a produção está 23,7% abaixo da média do 1º trimestre de 2020. Na nossa avaliação, o resultado negativo disseminado da indústria em abril reflete o ápice dos efeitos das medidas de isolamento social. Com isso, nosso tracking do PIB no 2º trimestre aponta para queda ao redor de 10% na margem.
Segundo dados da Fenabrave, as vendas de veículos cresceram na passagem de abril para maio. Apesar de ainda se situarem em patamar baixo, as vendas de autoveículos novos avançaram 11,0% em relação a abril, na série com ajuste sazonal. O resultado foi influenciado positivamente tanto pelas vendas de veículos leves como de pesados, com maior contribuição de automóveis. Contudo, na comparação com o mesmo período de 2019, houve uma queda de 73,4%, refletindo o choque de demanda observado desde março e os efeitos da pandemia sobre a economia. Dessa forma, os primeiros indicadores de maio reforçam a tendência de recuperação parcial da atividade no mês, após quedas expressivas em abril.
A balança comercial encerrou maio com um saldo de US$ 4,5 bilhões, impulsionada pelas exportações agropecuárias. O resultado veio acima do esperado, porém houve queda de 11,1% na comparação anual pela média diária. Com a queda tanto da demanda doméstica como do comércio mundial, houve queda simultânea de exportações (-4,2%) e importações (-1,6%). Os setores com maior contribuição negativa para a exportação foram a indústria extrativa (-26,5%) e a indústria de transformação (-15,9%). No entanto, essas quedas foram contrabalançadas pelo aumento de 51,1% do setor agropecuário, impulsionado pelos embarques de soja e carnes para a China. No caso das importações, houve queda dos produtos da indústria extrativa (-55,1%), principalmente derivados do petróleo. Projetamos que a balança comercial deve encerrar 2020 com saldo de US$ 55 bilhões, superior a 2019, principalmente via queda de importações.
Indicadores de inflação ao consumidor seguem baixos em maio. Os preços na cidade de São Paulo, medidos pelo IPC-Fipe, registraram deflação de 0,24% em maio, ante -0,30% em abril. Houve aceleração dos itens de energia elétrica, combustíveis, embora sigam registrando deflação. Por sua vez, os grupos Alimentação e Vestuário desaceleraram no mês. Por sua vez, apesar de o IGP-DI mostrar maior pressão nos preços do atacado, a parte relacionada ao consumidor mostrou deflação de -0,54% em maio, maior queda desde junho de 1957. Esses dados reforçam nossa expectativa de queda para o IPCA de maio. Esperamos deflação de 0,49%, com queda em transportes e desaceleração dos preços de alimentação. Para ano, esperamos alta de 1,6% da inflação, abaixo do piso da meta do Banco Central (2,5%).
O Banco Central Europeu (BCE) anunciou ampliação do programa de compras de títulos. Na reunião, a taxa de depósito foi mantida em -0,5% a.a., a de refinanciamento em 0,0% e a taxa de empréstimo em 0,25%. Como novidade, o banco anunciou uma expansão de seu programa de compra emergencial de títulos (PEPP) em €600 bilhões, estendendo essa política até junho de 2021. O programa agora totaliza €1,35 trilhão de euros. A presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou que a região enfrenta uma contração sem precedentes, o que levou a revisões baixistas das projeções. A projeção do BCE para o PIB da região em 2020 passou de +0,8% para queda de -8,7%. Para 2021, subiu de +1,3% para +5,2%, refletindo uma devolução parcial da contração deste ano. Já a expectativa de inflação para 2020 também foi revisada, de 1,1% para 0,3%. Diante desse quadro, o BCE deverá manter os estímulos monetários, de forma a fazer com que a inflação convirja de forma consistente à meta de 2%.
Ao redor do mundo, os índices de confiança (PMI) de maio apontam retomada. O PMI Composto da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços, atingiu 31,9 pontos em maio, ante 13,6 em abril (valores abaixo de 50 pontos indicam contração). Enquanto isso, o PMI Composto dos EUA se elevou para 37,0 pontos em maio, ante 27,0 em abril. Apesar da melhora em relação ao mês anterior, o resultado ainda aponta retomada bastante gradual, com a confiança em ambas as regiões abaixo do patamar pré-crise (51,6 na Zona do Euro e 49,6 nos EUA). Por outro lado, a China, primeiro país atingido pela pandemia, apresentou o maior nível para o PMI composto em maio, com 54,5 pontos. A continuidade da melhora da confiança dependerá das práticas de reabertura gradual nessas regiões, evitando novas ondas de transmissão. Com esses resultados, nossa expectativa é de retração de cerca de 3% do PIB Global em 2020.
Nos EUA, mercado de trabalho apresentou recuperação acima do esperado em maio. No mês o país criou 2,5 milhões de vagas, acima da expectativa de destruição de 7,5 milhões, e após destruição de 20,7 milhões de empregos em abril. A taxa de desemprego no país passou de 14,7% em abril para 13,3% em maio. A expectativa era que atingisse 19,0%. No entanto, a medida mais ampla de desemprego, considerando aqueles que deixaram de buscar emprego, recuou apenas de 22,8% para 21,2% em maio. De forma geral, os dados refletem melhora do mercado de trabalho com as medidas de estímulo e abertura gradual da economia, com retorno das admissões temporárias. Caso a perspectiva de volta da atividade e contenção da pandemia se mantenham no país, os indicadores devem seguir nessa trajetória de melhora.
Na próxima semana
Na agenda local, destaque para a divulgação da inflação ao consumidor (IPCA) de maio na quarta-feira (BRAM: -0,49%). Na agenda internacional, destaque para a decisão de política monetária pelo Fed na quarta-feira e os dados de inflação de maio na China e nos EUA.