NOSSA VISAO CREDITO E MERCADO

Nossa Visão – 01/06/2020
Retrospectiva
Os mercados de risco seguiram em ritmo otimista, em decorrência do avanço na abertura da economia em diversos países da Ásia e Hemisfério Norte na medida em que ocorre uma forte redução do contágio pelo “coronavírus” e número de óbitos, com rígidos protocolos de segurança para se evitar uma nova onda de contágios, que ainda não foi observada. O mercado também repercutiu a expectativa de que uma vacina esteja disponível antes do final do ano, com laboratórios de diversos países trabalhando para uma solução em médio prazo. Ficaram em segundo plano as tensões diplomáticas entre EUA e China, após o Congresso chinês aprovar uma lei de segurança nacional sobre o território autônomo de Hong Kong, que gerou insatisfação na comunidade internacional.
Os dados mais recentes do contágio pelo “coronavírus” no mundo mostram uma inflexão na curva de novos casos e óbitos. São quase 6,2 milhões de pessoas infectadas no mundo, que levaram a mais de 371 mil óbitos. Os números mostram um crescimento de 15% no número de contágios e de 8% no número de óbitos em uma semana, indicando manutenção no avanço de contágios e óbitos em relação aos dados de sete dias atrás.
As autoridades monetárias de diversos países seguem demonstrando apoio as suas economias para retomada das atividades pós-pandemia. O Banco Popular da China (BPoC, na sigla em inglês) anunciou redução na taxa de depósito compulsório para 9,4%, além de injetar 300 bilhões de yuans no mercado através de recompra reversa, visando manter a liquidez do sistema bancário. A União Europeia anunciou pacote de estímulos de 750 bilhões de euros para ajudar as economias mais atingidas do continente, enquanto o Japão anunciou mais US 1 trilhão em auxílio extra a familiar e empresas.
No que tange ao desempenho das economias, uma enxurrada de indicadores foram divulgados.
Nos EUA, foi divulgado que o PIB do primeiro trimestre caiu -5%, conforme informou o Departamento de Comércio em segunda estimativa. O desempenho no trimestre é reflexo de contribuições negativas de consumo da população, exportações e investimentos privados e investimento fixo não residencial. Na região do euro, França e Itália reportaram forte retração econômica no primeiro trimestre do ano. O PIB da França sofreu contração de -5,3% na comparação com o quarto trimestre de 2019, enquanto o PIB italiano encolheu -5,3% na mesma base de comparação. Na Alemanha, as vendas do varejo em abriu recuaram -5,3%, enquanto a inflação ao consumidor ficou negativa em -0,1%.
Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de alta generalizada. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, avançou 4,63%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, valorizou 1,39%, O índice S&P 500, da bolsa norte-americana, subiu 3,00% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, cresceu 7,30%.
Por aqui, destaque para o noticiário sobre o mercado de trabalho. Conforme divulgou o Ministério da Economia, os números do CAGED mostraram que foram fechados 860.503 empregos com carteira assinada no consolidado em abril. O saldo é resultado de 598.596 admissões e 1.459.099 demissões. O setor de serviços, o que mais demitiu, foi responsável pela eliminação de 362.378 vagas. Neste ano, foram fechados mais de 1,1 milhão de vagas.
Conforme divulgou o IBGE, a taxa de desemprego no trimestre encerrado em abril ficou em 12,6%, um crescimento de 1,3 ponto percentual em relação ao trimestre novembro/2019 a janeiro/2020, que foi de 11,2%. O número de desempregados aumentou 7,5% frente ao trimestre anterior, fechando em 12,8 milhões o número de pessoas desocupadas.
Em relação à atividade, o IBGE divulgou que o PIB do primeiro trimestre recuou -1,5% na comparação com o trimestre anterior, e reflete apenas os primeiros impactos da pandemia pelo “coronavírus” na atividade doméstica, colocando o país a beira de uma nova recessão, se considerarmos que a queda do segundo trimestre será bem maior.
Para a bolsa brasileira a semana foi de alta, acompanhando as bolsas internacionais. O Ibovespa encerrou a semana com alta de 6,36%, aos 87.402 pontos, acumulando valorização de 8,57% no mês, e desvalorização de -24,42% no ano. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,3400 para a venda. Na semana, a moeda recuou -4,19% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 33,08%. Já o IMA-B Total encerrou a semana com valorização de 0,94%, enquanto no ano acumula desvalorização de -3,63%. Em 12 meses a valorização é de 6,96%.

Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro seguem ajustando pra baixo a estimativa para a inflação deste ano em meio à fragilidade da atividade brasileira. A projeção agora é de que o IPCA encerre o ano em 1,55%, ante 1,57% da semana passada, décima segunda semana consecutiva de projeção em queda. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 1,97%. O resultado se distancia ainda mais da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro reduziu a estimativa da inflação para 3,10%, ante 3,14% da semana anterior. Quatro semanas atrás, a previsão era de que a inflação do ano que vem seria de 3,30%. Em 2021, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o mercado manteve a projeção da semana anterior. O boletim mostrou que a expectativa dos economistas é de que o Bacen deve cortar a taxa Selic em 0,75 pontos percentuais na próxima reunião, em junho, levando a Selic dos atuais 3,00% para 2,25% ao ano, e estacionando nesse patamar até dezembro. Para o encerramento de 2021, a previsão para a taxa Selic foi aumentada para 3,38%, enquanto na semana anterior a expectativa era de 3,29%. Há quatro semanas a estimativa era de 3,75%.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado “top 5”, as estimativas para a taxa Selic em 2020 foram mantidas em 2,25%. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 2,88% na mediana das coletas, mesma previsão da semana anterior.
Os efeitos da pandemia do “coronavírus” sobre a economia brasileira continuam fazendo os economistas aprofundarem os cortes nas projeções para o PIB em 2020, pela décima sexta semana seguida. Conforme o Relatório de Mercado Focus, a expectativa para a economia este ano passou de retração de -5,89% para -6,25%. Há quatro semanas, a estimativa era de queda de -3,76%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão do PIB em 3,20%. Quatro semanas atrás, estava em 3,20%. Em março, na esteira da pandemia pelo “coronavírus”, o BC atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 1,8% para variação zero. O próprio BC, no entanto, já reconheceu que o cenário está se alterando rapidamente e que, por isso, a projeção do RTI não reflete, necessariamente, a situação atual.
O relatório mostrou que a projeção dos economistas para o câmbio ao final de 2020 se manteve em R$ 5,40 na mediana das estimativas. Um mês atrás a projeção era de R$ 5,00. Para 2021, a projeção para o câmbio saltou de R$ 5,03 para R$ 5,08, ante R$ 4,75 de quatro pesquisas atrás.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, a mediana das previsões para 2020 é de um ingresso de US$ 64,00 bilhões, um recuou em relação à semana anterior que era de US$ 65 bilhões, enquanto que para 2021 a expectativa foi reduzida para US$ 75 bilhões, ante US$ 76 bilhões da pesquisa anterior. Há quatro semanas, a estimativa era de ingressos da ordem de US$ 70 bilhões e US$ 80,00 bilhões, respectivamente.

Perspectiva

Os mercados de risco iniciam a semana próximos a estabilidade, repercutindo em parte a tensão diplomática entre EUA e China. Agora, os chineses pretendem suspender a importação de alguns produtos agrícolas, em resposta ao tom mais duro por parte das autoridades americanas sobre a intenção de limitar a entrada de cidadãos chineses no território americano e a imposição de sanções comerciais a Hong Kong.
Por aqui, repercute o panorama político com o avanço das investigações que apuram “fake news”, e que levou a uma série de buscas e apreensões que atingiram aliados do presidente Jair Bolsonaro, e o aumento das manifestações nas ruas em defesa da democracia após os ataques recentes às instituições vindos do planalto e apoiadores do presidente.
Em meio a essa tensão política, o país segue contabilizando os números da pandemia pelo “coronavírus”, agora alçado a novo epicentro mundial do contágio. Até agora são mais de 514 mil infectados e 29 mil óbitos, apontando um aumento de 41% nos casos de infectados e 32% nos casos de óbitos em uma semana. Com uma taxa média de quase 1.000 óbitos diários desde meados de maio, e em meio a medidas de afrouxamento das regras de distanciamento social e retomada gradual da economia que se multiplicam pelo país, de maneira aleatória e decorrente da falta de uma liderança no tema, o país segue com prognósticos nada animadores.
Na agenda externa da semana, destaque para a divulgação do relatório de emprego nos EUA na próxima sexta-feira. As estimativas indicam um corte de 8 milhões de empregos por lá. Na região do euro, a Alemanha divulgará dados da atividade, como PMI e desemprego, além da reunião ordinária do Banco Central Europeu, que versará sobre política monetária da região.
Por aqui, destaque para a divulgação de dados da produção industrial e do PMI manufatureiro, além do saldo da balança comercial de maio.
Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em “quarentena” esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperar na retomada do mercado. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.

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