ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: PIB contrai 1,5% no 1ª trimestre. Emprego sofre queda recorde
MUNDO: Mesmo com reabertura, indicadores ainda apontam incerteza elevada
O PIB do 1º trimestre de 2020 registrou queda de 1,5%, em linha com a nossa expectativa. Em relação ao mesmo período do ano passado, o recuo foi de 0,3%. Na comparação trimestral, pela ótica da demanda, houve queda do consumo das famílias (-2,0%) e das exportações (0,9%), enquanto governo (0,2%) segue baixo. Mais uma vez, o crescimento tanto do investimento (3,1%) quanto das importações (2,8%) foi influenciado pela importação de plataformas de petróleo. Pela ótica da oferta, apresentaram queda os setores de serviços (-1,6%) e indústria (-1,4%), enquanto agropecuária apresentou crescimento (0,6%). Na indústria, todos os setores tiveram queda, com maiores contribuições da indústria de transformação (-1,4%) e da construção civil (-2,4%). No setor de serviços, as maiores contribuições negativas vieram de outros serviços (-4,6%), que abrangem serviços prestados às famílias como alimentação e hospedagem, dentre outros, e transportes (-2,4%). O impacto das medidas de isolamento social sobre o crescimento do 1º trimestre de 2020, que afetou apenas 1/6 do trimestre, corrobora nossa expectativa de queda de magnitude expressiva da atividade no 2° trimestre. Para 2020, nossa projeção para o PIB é de -7,6%.
A prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) apresentou deflação maior do que a esperada na leitura de maio. No mês, o índice variou -0,59%, abaixo da nossa projeção e do mercado (-0,50% e -0,47%, respectivamente). Entre os grupos, a maior surpresa foi a desaceleração de preços na alimentação (0,5%), com alimentação in natura passando de 13,2% para 2,1%. Em termos qualitativos, a média dos núcleos de inflação (exclui itens voláteis) variou em -0,1% na margem, sinalizando continuidade do cenário benigno para a inflação. Nos próximos meses, a retomada gradual da atividade deve implicar leituras de altas ainda moderadas. Nossa projeção para 2020 é de 1,6%, abaixo do centro da meta (4,0%).
Dados de criação de emprego formal (Caged) no Brasil apresentaram destruição recorde de 1,2 milhões de vagas nos meses de março e abril. Quando consideramos os dados com ajuste sazonal, o saldo negativo de criação de vagas foi de 222 mil em março e de 958 mil em abril, o pior mês já registrado. O setor mais afetado foi serviços, com a destruição de 524 mil vagas, seguido de comércio que perdeu 284 mil empregos no período. Os setores menos afetados foram a agropecuária (-6,8 mil) e a indústria extrativa (-2,4 mil). O resultado demonstra a magnitude do efeito das medidas de isolamento social sobre a atividade, e consequentemente, sobre o mercado formal de trabalho. Vale notar que 8,1 milhões de trabalhadores tiveram redução de jornada ou suspensão temporária do mercado de trabalho até maio. Nas próximas leituras, o resultado de saldo de vagas deve continuar repercutindo a evolução desfavorável da atividade.
A taxa de desemprego atingiu 12,6% no trimestre encerrado em abril. De acordo com os dados da PNAD, a taxa com ajuste sazonal aumentou de 11,7% para 12,0% na margem. No entanto, essa elevação foi atenuada por pessoas que deixaram de buscar emprego: enquanto a população ocupada recuou 2,9%, a força de trabalho recuou 2,5%. Com a taxa de participação constante, a taxa de desemprego com ajuste teria sido de 14,2%. A maior contribuição para a queda do número de ocupados veio do trabalho informal, que recuou 5,6% na margem. A massa de rendimento real também recuou 1,7% na mesma métrica. Por se tratar de uma média trimestral, o impacto máximo sobre a taxa será sentido apenas em junho. Vale ressaltar, que tanto Caged como PNAD não consideram como desocupados os 4, trabalhadores com contrato de trabalho suspenso, que totalizam 4 milhões de pessoas.
O setor público consolidado registrou déficit de R$94,3 bilhões em abril, impactado pelas despesas emergenciais com a pandemia. O resultado foi próximo de nossa projeção (R$96,2 bilhões) e representou crescimento em relação ao déficit de R$23,7 bilhões em março. No mês, o destaque foram os gastos com as medidas para amenizar os efeitos da pandemia. Com isso, o Governo Central apresentou déficit de R$92,2 bilhões e os governos regionais de R$1,9 bilhões. Por sua vez, a dívida bruta encerrou em 79,7% do PIB (+1,3 p.p ante março). Nos próximos meses, a arrecadação deverá ser afetada pelas postergações de impostos e da queda na atividade por conta do coronavírus. Além disso, mais gastos já anunciados devem levar a novos déficits expressivos nos próximos meses.
O crédito teve crescimento em abril. Segundo o Banco Central, o saldo de crédito total aumentou 9,6% na comparação anual. O crescimento foi liderado principalmente pelo crédito para a pessoa física, com crescimento de 9,7% na comparação interanual. A menor concessão foi puxada pelo cartão de crédito à vista. Por outro lado, o crescimento do crédito para a pessoa jurídica passou de 7,0% para 9,5% na mesma métrica, com destaque para o aumento na modalidade de capital de giro. Por fim, a inadimplência subiu de 3,2% para 3,3%. O resultado já demonstra aumento das concessões de crédito emergencial, renegociação de dívidas e elevação da inadimplência como resultado das medidas de contenção da pandemia. A tendência para os próximos meses é de aumento do crédito às empresas e redução da concessão às famílias, revertendo a tendência prevalecente até fevereiro.
O saldo em conta corrente apresentou novo superávit em abril. No mês, o saldo em conta corrente atingiu superávit de US$ 3,8 bilhões. Em doze meses, o déficit em transações correntes atingiu 2,6% do PIB, ante 2,9% em março. Essa melhora derivou de melhor saldo comercial, de US$6,4 bilhões, com exportações variando -4,9% e importações -15,9%, ante abril de 2019. O resultado demonstra o efeito da pandemia sobre a balança comercial, que tem afetado as importações de maneira mais severa. Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$1,3 bilhão no mês. Além disso, afetado pelo Covid-19, o fluxo de investimento em portfólio no mercado doméstico foi negativo em US$ 7,3 bilhões. Avaliamos que, com o aumento das exportações e os efeitos da pandemia, o déficit em conta corrente deverá continuar em trajetória de queda nos próximos meses.
Mesmo com perspectiva de reabertura indicadores de confiança ainda apontam incerteza. Países que lograram conter a epidemia começam a flexibilizar o isolamento, é o caso da Alemanha que tem reaberto escolas, lojas e restaurantes com novas regras de convivência. Outros países, como Japão e Coréia do Sul, também retomaram atividades, mas recrudesceram novamente o isolamento em algumas localidades após evidências de novas ondas de contaminação. Diante da perspectiva de início da retomada de atividades, o índice de clima de negócios da IFO para Alemanha demonstrou aumento de 74,2 em abril para 79,5 em maio, ainda abaixo do nível de março (86) e abaixo do nível pré-epidemia (96). Nos EUA, o indicador Michigan de expectativa dos consumidores teve leve aumento, subindo de 71,8 em abril para 72,3 pontos em maio, ainda distante do patamar acima de 100 alcançado em fevereiro. Mesmo com relativa contenção da pandemia e início da reabertura em ritmo gradual, os indicadores revelam que o grau de incerteza permanece elevado.
A prévia de inflação na Zona do Euro em maio aponta desaceleração, abrindo espaço para política monetária acomodatícia. A prévia de maio do índice de preços ao consumidor (CPI) passou de 0,4% em abril para 0,1% no mês na variação interanual, em linha com a expectativa. O núcleo da inflação (exclui itens voláteis) permaneceu em 0,9%, apontando cenário benigno para o nível de preços na região. Com a inflação ainda bastante abaixo da meta (2,0%), e com a expectativa de sofrer novas pressões baixistas derivadas do aumento do desemprego e da queda no preço do petróleo, aumenta a possibilidade do Banco Central Europeu (BCE) adotar novas medidas de estimulo, em especial o aumento do programa de compras de títulos da dívida dos países da região.