INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Crédito e mercado de trabalho apontam para retomada gradual da atividade
MUNDO: Coronavírus eleva o nível de incerteza global
A taxa de desemprego encerrou janeiro em 11,2%, favorecida pela recuperação do emprego formal. Quando consideramos a série ajustada sazonalmente, o percentual de desocupados passou de 11,6% em dezembro para 11,5% em janeiro. Por trás desse recuo está o crescimento dos ocupados no setor formal (0,4%), sobretudo empregados com carteira assinada no setor privado. Dentre os setores, a maior contribuição positiva para a população ocupada derivou da administração pública e do transporte. Finalmente, o rendimento médio dos empregados apresentou pequena queda em termos reais (-0,1%). O resultado corrobora o quadro de recuperação do mercado de trabalho baseada no emprego formal.
O fluxo cambial tem registrado saídas líquidas no ano. Até a 3ª semana de fevereiro, o saldo acumulado foi negativo em US$ 2,3 bilhões em virtude do saldo financeiro (saídas de U$S 7,0 bilhões), ante +U$S 6,6 bilhões no mesmo período de 2019. O saldo comercial, por sua vez, acumula alta de U$S 4,7 bilhões no mês. No ano, o fluxo cambial total permanece negativo em US$ 2,7 bilhões. Nas próximas leituras, em meio ao aumento da incerteza global e o provável impacto sobre as exportações brasileiras, o fluxo deve permanecer registrando saídas, o que contribuirá para pressionar a taxa de câmbio.
Mesmo após revisão dos dados, o crédito segue em expansão, com crescimento de 7,0% na comparação anual. Em termos reais, a alta no mês de janeiro foi de 2,7%, ante 2,4% no mês anterior. O crescimento anual de 12,2% do saldo de crédito a pessoa física foi o principal responsável pelo desempenho mais forte no período. O crédito a pessoa jurídica avançou 0,4% na mesma base de comparação. Houve revisão baixista dos dados de concessão de crédito consignado, a qual foi parcialmente compensada pela revisão altista dos dados de cartão de crédito à vista. Por fim, a inadimplência total permaneceu baixa. O cenário de recuperação consistente do mercado de crédito se mantém, diante do baixo nível da taxa de juros e do aumento da confiança, o que deve impulsionar os dados de atividade.
O setor público consolidado apresentou superávit em janeiro, impulsionado por arrecadação mais elevada. O superávit primário consolidado em janeiro foi de R$ 56,3 bilhões, em linha com a nossa expectativa e a de mercado. O resultado foi impulsionado pela arrecadação de R$ 174,9 bilhões no período, acima do esperado. A dívida bruta apresentou alta de 0,3% em relação a dezembro, finalizando o mês em 76,1% do PIB. Já a dívida líquida totalizou 54,2% do produto. O melhor resultado em janeiro alivia o curto prazo e deixa espaço fiscal em caso de menor arrecadação relacionada à atividade. No ano, é importante a continuidade do ajuste fiscal com as reformas estruturais de gastos. Projetamos déficit de 1,1% do PIB para 2020, ligeiramente acima do registrado em 2019.
Proliferação de coronavírus em outras regiões fora da China aumenta incerteza global. A notícia do rápido aumento de casos da doença na Itália, Coréia do Sul e Japão gerou forte reação dos mercados ao redor do mundo quanto aos efeitos da doença no nível de atividade econômica. A expectativa é de que os esforços para conter a epidemia gerem choques negativos sobre o consumo e produção de bens e serviços nos locais afetados e haja diminuição do fluxo de mercadorias entre os países. Na China, os dados diários de consumo de carvão apresentam queda de cerca de 90% em relação ao ano anterior, enquanto as vendas de imóveis revelam recuo de aproximadamente 60%, sugerindo impacto significativo na atividade no 1º trimestre. Com isso, o PIB global deverá apresentar crescimento abaixo de 3,0%, o que representa desaceleração frente aos últimos anos. No entanto, e em que pese o alto nível de incerteza, o impacto negativo sobre a atividade mundial poderá ser atenuado com esforços monetários e fiscais dos países.
No Brasil, os efeitos do coronavírus sobre a balança comercial ainda não são claros. Em fevereiro, a média diária das exportações até a 3ª semana registrou crescimento de 4,8% em relação ao mesmo mês do ano anterior, com destaque para a elevação de 20% da exportação de carne e recuo de 13% das exportações de soja, embora esta ainda se situe acima da média histórica para o período. As importações se elevaram 19% também pela média diária. Dessa forma, sinais mais claros dos efeitos da desaceleração global decorrente do coronavírus sobre o comércio exterior brasileiro deverão ser vistos apenas a partir das próximas leituras.
Na próxima semana:
Na agenda local, destaque para a divulgação do PIB do 4º trimestre (BRAM: 0,5%), na quarta-feira. Na agenda internacional, destaque para a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) para a Zona do Euro na terça-feira e para a divulgação do índice de confiança (PMI) dos Estados Unidos e Europa, na quarta-feira.