Nossa Visão – 10/02/2020
Retrospectiva
Em semana marcada pela volatilidade, os principais mercados acionários recuperaram parte das perdas recentes e fecharam majoritariamente no azul após as autoridades chinesas atuarem forte nos mercados locais. A disseminação do “coronavírus” seguiu na pauta dos investidores após as comemorações do feriado do Ano Novo Lunar chinês.
O banco central chinês (PBoC, na sigla em inglês) injetou o equivalente a US$ 240 bilhões em liquidez no sistema financeiro local, visando acalmar os mercados, trazer segurança aos investidores e aliviar a pressão financeira sobre as micro e pequenas empresas. A epidemia, que já atingiu mais de 40 mil pessoas infectadas e matou mais de 900 pessoas, paralisa a China e sua economia.
Com os estoques mundiais de petróleo em alta, devido à demanda reprimida pelos efeitos do “coronavírus” na economia global, os países produtores de petróleo avaliam cortes na produção mundial em meio à queda no preço do óleo. Somente nesta semana, o petróleo tipo Brent recuou 3,8% fechando a US$ 54,47 o barril.
Nos EUA, destaque para a decisão do Senado em absolver o presidente Donald Trump das acusações que deram origem ao processo de impeachment, e segue na presidência em meio ao processo eleitoral que escolherá o próximo governante em que é candidato a reeleição. Ainda por lá, foi divulgado o relatório de emprego de janeiro, também conhecido pelo nome de payroll. Conforme o relatório foram criados 225 mil postos de trabalho, acima da expectativa coletadas pela Bloomberg, que estimava criação de 165 mil vagas. Por outro lado, a taxa de desemprego teve um leve ajuste de 3,5% em dezembro para 3,6% em janeiro.
Na zona do euro, destaque negativo para a divulgação de dados sobre a produção industrial na Alemanha. Conforme divulgou o Destatis, escritório de estatísticas alemão, a produção industrial local registrou queda de 3,5% em dezembro, na comparação com novembro, a maior queda em dez anos. Na comparação com dezembro de 2018, a queda foi de 6,8%.
Para os mercados de ações internacionais a semana foi de recuperação frente às perdas recentes, após o alívio vindo do PBoC e o noticiário positivo vindo do mercado de trabalho dos EUA. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, avançou 4,10%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, valorizou 2,48%, o índice S&P 500, da bolsa norte-americana, subiu 3,17% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, cresceu 2,68%.
Por aqui, destaque para a primeira reunião anual do Comitê de Política Monetária do Bacen – o COPOM – que decidiu, por unanimidade, reduzir o juro básico da economia em 0,25 pontos base, trazendo a taxa Selic para 4,25% ao ano. No comunicado pós-reunião, o colegiado fechou a porta para novos ajustes, ao mencionar que “vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária”. Por outro lado, ao enfatizar que “seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação, com peso crescente para o ano-calendário de 2021”, deixa em aberto qualquer movimento mais à frente.
No campo da inflação, foi divulgado o IPCA de janeiro, que variou 0,21% enquanto, em dezembro, havia subido 1,15%. Em doze meses, o índice acumula alta de 4,19%. O maior impacto veio do grupo Habitação (0,08%), puxado por condomínio e aluguel, seguido por Alimentação e Bebidas (0,07%).
Para a bolsa brasileira a semana foi neutra, com o clima de aversão a risco predominando nos pregões. O Ibovespa avançou 0,01% na semana, aos 113.770 pontos, acumulando desvalorização no ano de 1,62%. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 4,321 para a venda. No ano, a moeda acumula valorização de 7,67% frente ao real. Já o IMA-B Total encerrou a semana com valorização de 0,48%, acumulando valorização de 0,74% no ano e 19,99% em 12 meses.
Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro reduziram a estimativa para o IPCA deste ano pela sexta semana consecutiva, para 3,25% ante os 3,40% da pesquisa anterior. O resultado continua abaixo da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a estimativa de inflação em 3,75%. No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o mercado financeiro manteve nesta semana suas apostas em relação à taxa de juros, informando que ao final de 2020 a taxa estará em 4,25%. Um mês atrás a previsão era de 4,50%. Para 2021, a previsão para a Selic foi mantida em 6,00%. Há quatro semanas a estimativa era de 6,25%. Na última semana, o COPOM decidiu por cortar a taxa de juros novamente, deixando-a em 4,25%. Esse é o menor patamar da Selic em sua série histórica.
A expectativa de crescimento da economia em 2020, medida pelo PIB, foi mantida em 2,30%, mesma projeção de um mês atrás. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão de expansão do PIB em 2,50%. Quatro semanas atrás, a expectativa estava nos mesmos 2,50%. Em dezembro o BACEN atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 1,80% para elevação de 2,20%.
A projeção para o dólar no fim de 2020 foi mantida em R$ 4,10. Um mês atrás a estimativa era de R$ 4,04. Para o ano de 2021, a projeção para o câmbio foi levemente alterada para R$ 4,10 ante R$ 4,05 da estimativa anterior.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, a mediana das previsões para 2020 foi mantida em US$ 80,00 bilhões, os mesmos US$ 80,00 bilhões de um mês antes. Para 2021, a expectativa também foi mantida em US$ 84,50 bilhões.
Perspectiva
No noticiário da semana, destaque para a evolução no número de contaminados pelo “coronavírus”. Na China, as empresas mantém paralisação que se estende desde 24 de janeiro por conta da disseminação do vírus, que já supera o número de infectados da “SARS” entre os anos de 2002 e 2003 e que vitimou menos de 800 pessoas. De acordo com especialistas, a propagação do “coronavírus” resultará em cortes no crescimento global.
Na agenda econômica, destaque para a divulgação de dados relativos aos preços de consumidores nos EUA, o que deve dar sinais mais claros sobre o ritmo da inflação americana. Ainda por lá, serão conhecidos os dados relativos as vendas no varejo de janeiro. Considerando que os gastos do consumidor são responsáveis por 70% do PIB, o número ganha importância relevante.
Por aqui teremos a divulgação da ata do COPOM, que ganha relevância diante da sinalização do comunicado pós-reunião, que indicou o fim do ciclo de queda do juro, mas por outro lado revelou que há fatores de riscos em ambas as direções, deixando a porta entreaberta.
Entre os indicadores, destaque para a divulgação do IBC-Br, considerado a prévia do PIB, além dos números de vendas no varejo e dados do setor de serviços.
Em relação à temporada de balanços, serão conhecidos os resultados do último trimestre de 2019 de 17 empresas negociadas da B3 (ex-Bovespa), que deverão proporcionar algum impacto no Ibovespa.
Em relação às aplicações dos RPPS aconselhamos o investimento de 25% dos recursos em fundos de investimento em títulos públicos que possuem a gestão do duration, em razão da capacidade do gestor em alterar de maneira dinâmica a composição da carteira do fundo, adequando-a ao cenário à frente.
Para os vértices de longo prazo (especificamente o IMA-B Total) recomendamos exposição de 15%, em razão da baixa volatilidade devido à taxa básica de juros se situar na mínima histórica, e do potencial de prêmio que poderá ser capturado com o avanço das reformas estruturais em benefício do quadro fiscal do país.
Para os vértices médios (IMA-B 5, IDkA 2A e IRF-M Total), a recomendação é para uma exposição de 20%, e para os vértices de curto prazo, representados pelos fundos DI, pelos referenciados no IRFM-1 e pelos CDBs, a alocação sugerida é de 5%. Ambas as estratégias estão relacionadas à taxa de juros doméstica, situadas na mínima histórica, onde o prêmio de risco encontra-se em patamar reduzido.
Quanto à renda variável, recomendamos uma exposição máxima de 30%, por conta da melhora do ambiente econômico que já se refle em um melhor comportamento nos lucros das empresas e, consequentemente, nos mercados de ações, e também pelo fato da importância do produto como fator de diversificação de portfólio, em um momento em que as taxas de juros dos títulos públicos não mais superam a meta atuarial.
Para a alocação em fundos multimercado, a nossa sugestão é para uma exposição de 5% dos recursos e de 2,5% a alocação em FII e FIP, respectivamente, dada a pouca disponibilidade de produtos no mercado enquadrados para os RPPS. Para o investimento em ações, a nossa recomendação é de uma exposição de 20% dos recursos, tendo em vista o potencial de crescimento das empresas neste e nos próximos anos em uma conjuntura favorável ao mercado acionário, num ambiente de baixa inflação e taxas de juros nas mínimas históricas.
Para aqueles clientes que já contam com investimento de 5% tanto em FII, quanto em FIP, o ajuste das recomendações se dará através da redução no teto dos investimentos em ações.
Para o segmento de investimentos no exterior, recomendamos um percentual máximo de 5%, devido à necessária diversificação da carteira na busca por investimentos descorrelacionados da taxa de juros doméstica, além do recente surgimento de produtos direcionados a este segmento.