SÍNTESE ECONÔMICA DE JANEIRO
Brasil: emprego formal surpreende positivamente. Crédito segue em alta e inflação recua
Mundo: Fed mantém os juros. Atividade na China deverá desacelerar no 1º trimestre
Os dados do ministério do trabalho (CAGED) mostraram a criação de 644 mil vagas formais em 2019. Na série com ajuste sazonal, segundo os nossos cálculos, o saldo de dezembro ficou positivo em 70 mil, mantendo a tendência positiva dos meses anteriores. Avaliamos que o cenário de recuperação gradual do emprego formal deverá continuar e estimamos que serão abertas cerca de 800 mil vagas formais em 2020.
Os dados de atividade econômica frustraram as expectativas em novembro. O índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) avançou 0,2% no mês, acumulando crescimento de 1,1% em 12 meses. As vendas no varejo apresentaram queda de 0,5% no mês, abaixo do esperado. Já o setor de serviços recuou 0,1% no período. A produção industrial, por sua vez, teve retração de 1,2%, acima do esperado, com queda da produção de alimentos e veículos. Apesar do pior resultado para os indicadores de atividade em novembro, nosso tracking do PIB do 4º trimestre se mantêm em 0,5% na margem e 1,1% em 2019.
O saldo de crédito teve expansão de 6,5% em 2019, acelerando em relação ao crescimento de 5% em 2018. O aumento nominal de 14,1% do saldo de crédito livre foi o principal responsável pelo desempenho mais forte em 2019. O cenário de recuperação consistente do mercado de crédito se mantém, diante do baixo nível da taxa de juros e do aumento da confiança, o que deve impulsionar os dados de atividade ao longo do ano.
Em janeiro, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) desacelerou com o arrefecimento dos preços de alimentos. No mês, o IPCA-15 registrou alta de 0,71%. O grupo ‘Alimentação no domicílio’ teve variação de 2,3%, após registrar elevação de 4,7% no IPCA de dezembro. Destaque para a queda da inflação de carnes, que passou de +18,6% para +4,5% no período. Em 12 meses, a média dos núcleos totalizou alta de 3,2%. Avaliamos que a inflação deva seguir bem comportada, com alta de 3,5% em 2020, abaixo da meta do Banco Central (4,0%).
O setor público consolidado terminou 2019 com o menor déficit desde 2014, impulsionado por fatores não recorrentes. O déficit primário fechou 2019 em R$ 61,9 bilhões (0,85% do PIB). A dívida bruta caiu para 75,8% do PIB, 0,8 p.p. menor que 2018. Com o menor nível de receitas extraordinárias previstas para 2020, o resultado dependerá da arrecadação ligada à atividade e da continuidade do ajuste fiscal com as reformas estruturais dos gastos. Projetamos déficit de 1,0% do PIB para 2020, acima do registrado em 2019.
Nos EUA, o Fed manteve a taxa de juros em janeiro. A taxa de juros americana permaneceu no intervalo entre 1,50% e 1,75% ao ano na reunião de janeiro. Em seu comunicado, a autoridade monetária enfatizou que os dados recentes mostram um mercado de trabalho robusto e que a atividade segue crescendo em ritmo moderado. O presidente do Fed, Jerome Powell, novamente enfatizou que é preciso uma mudança material importante para que haja algum movimento de juros. Powell também afirmou que o cenário global ainda é de incerteza, embora reconheça que o acordo entre China e EUA tenha reduzido os riscos.
O PIB americano do 4º trimestre manteve o mesmo ritmo de crescimento. O PIB teve alta de 2,1%, na margem, em termos anualizados, resultado equivalente ao registrado no 3º trimestre de 2019. Em linhas gerais, apesar da desaceleração esperada, o crescimento segue estável e próximo do potencial e a inflação segue comedida. Diante desse cenário, acreditamos que haverá manutenção dos juros ao longo deste ano.
O Banco Central Europeu (BCE) manteve a política monetária estimulativa na reunião de janeiro, conforme o esperado. A taxa de depósito foi mantida em -0,5% a.a., a de refinanciamento em 0,0% e a taxa de empréstimo permaneceu em 0,25%. Além disso, não houve mudanças no programa de compra de ativos. Na entrevista após a reunião, a presidente do BCE, Christine Lagarde afirmou que os riscos para a atividade seguem baixistas, embora reconheça a redução da incerteza oriunda do acordo comercial entre EUA e China. Ademais, o BCE reforçou que deve revisar sua estratégia de política monetária ao longo de 2020. A postura do BCE deve se manter acomodatícia até que os indicadores de atividade e inflação apontem uma recuperação consistente da região.
Na China, o PIB do 4º trimestre apresentou alta de 6,0%, e o coronavírus ameaça crescimento em 2020. O resultado para o PIB, em linha com a expectativa do mercado, foi impulsionado pelos indicadores de atividade de dezembro, que surpreenderam positivamente. No mês de janeiro, no entanto, a preocupação com a epidemia do coronavirus no país coloca em dúvida o potencial de crescimento. Apesar das incertezas que cercam o assunto, ao traçar um paralelo entre o coronavírus e o SARS, que afetou a economia chinesa em 2003, acreditamos que o maior impacto se concentrará no setor de serviços, com potencial de perda significativa no ritmo de crescimento no 1º trimestre. A questão reside na extensão do problema. Caso seja passageiro, como o SARS em 2003, observaremos uma retomada nos meses seguintes de modo a não comprometer significativamente o crescimento no ano