Mesmo com alta do dólar e da carne, BC deve baixar juro para 4,5% ao ano, prevê mercado

Mesmo com alta do dólar e da carne, BC deve baixar juro para 4,5% ao ano, prevê mercado

Decisão da última reunião do Copom deste ano será anunciada por volta das 18h desta quarta. Se confirmada, redução de 5% para 4,5% ao ano levará a novo piso histórico.O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tem sua última reunião do ano marcada para esta semana. Apesar das pressões inflacionárias decorrentes do aumento do preço da carne e de possíveis impactos da alta do dólar, o comitê deve manter o “plano de voo” e cortar a taxa básica de juros de 5% para 4,5% ao ano – novo piso histórico.Essa é a previsão da maior parte dos economistas do mercado financeiro, ouvidos pelo próprio BC em pesquisa semanal.Se confirmada a nova redução, a Selic atingirá o menor patamar desde que o Banco Central começou a série histórica, há mais de 30 anos. O anúncio da taxa de juros acontecerá nesta quarta, por volta das 18h.A expectativa dos analistas dos bancos é de que a Selic recuará para 4,5% ao ano em dezembro, que terá nova queda em fevereiro – para 4,25% ao ano –, e que assim permanecerá até setembro de 2020, quando poderá começar a subir (veja abaixo as previsões do mercado para os juros).A principal missão do Banco Central é controlar a inflação, tendo por base o sistema de metas. Para este ano, a meta central de inflação é de 4,25%, podendo oscilar de 2,75% a 5,75%. Para 2020, o objetivo central é de 4% (com oscilação de 2,5% a 5,5%).Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o BC reduz os juros. Quando estão acima da trajetória esperada, a taxa Selic é elevada.Para definir a taxa básica de juros, o BC já está de olho nas previsões de inflação do ano que vem. Isso porque as decisões levam meses para ter impacto pleno na economia. Para este ano, a previsão do mercado é de que a inflação fique em 3,84% e em 3,60% no ano que vem.Segundo o economista-chefe do banco Haitong, Flavio Serrano, o aumento recente no preço da carne é um problema pontual, causado por um choque de oferta decorrente da peste suína na China.”A política monetária [definição de juros] não tem efeito sobre isso. O que ela pode fazer é combater os possíveis efeitos secundários, como aumento no preço de frango, suínos, ovos e alimentação na rua”, avaliou.Sobre o dólar, o analista observou que a alta da moeda é mais abrangente do que a da carne, podendo afetar também combustíveis e aluguéis por exemplo. Porém, assim como no caso da proteína, o repasse da alta do dólar é limitado pelo alto nível de ociosidade da economia brasileira (produção abaixo do esperado por conta do crescimento econômico ainda fraco).”Apesar de dois choques na economia [carne e dólar], a posição de hoje é favorável, pois tem ociosidade elevada. Tem que ver quanto vai impactar o IPCA (…) E as bandas [do sistema de metas] são justamente para comportar esse tipo de choque. Talvez [o BC] tenha um pouco mais de cautela, sem cortes de juros em fevereiro, mas ainda não dá para pensar em alta [do juro básico]”, concluiu Serrano.A eventual redução dos juros básicos da economia afetará as aplicações financeiras, como a caderneta de poupança e os investimentos em renda fixa.Isso porque, no caso da poupança, a regra atual de remuneração prevê que os rendimentos estão atrelados aos juros básicos sempre que a Selic estiver abaixo de 8,5% ao ano.Nesse cenário, a correção anual das cadernetas fica limitada a um percentual equivalente a 70% da Selic, mais a Taxa Referencial, calculada pelo Banco Central. A norma vale apenas para depósitos feitos a partir de 4 de maio de 2012.Se o juro básico da economia recuar para 4,5% ao ano, a correção da poupança seria de 70% desse valor – o equivalente a 3,15% ao ano, mais a Taxa Referencial.Mesmo com a taxa Selic no menor patamar em décadas, os juros bancários seguem em níveis elevados para padrões internacionais.Em outubro, segundo dados do Banco Central, a taxa bancária média (pessoa física e jurídica) somou 35,9% ao ano, enquanto que, para as pessoas físicas, totalizou 49,7% ao ano.Em alguns casos, como no cheque especial e no cartão de crédito rotativo, estão acima de 300% ao ano. Recentemente, para combater esse problema, o BC anunciou o estabelecimento de um teto de juros para o cheque especial.Dados do BC mostram que os cinco maiores conglomerados bancários do país detinham, no fim de 2018, 84,8% do mercado de crédito. Esse cálculo inclui os bancos comerciais, os múltiplos com carteira comercial e as caixas econômicas.No ano passado, a rentabilidade dos bancos brasileiros ficou no maior patamar em sete anos e o lucro líquido dos bancos somou R$ 98,5 bilhões, recorde da série histórica que começa em 1994.

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